Para o nosso próprio bem far-se-ão sempre grandes filmes, e longos também. Felizmente fui ver The assassination of Jesse James by the coward Robert Ford num final de tarde e que bem que me soube sair daquela sala na qual passei perto de 3 horas (três horas assim compensam a valer).
Este é um daqueles filmes que tem tantos pontos positivos que é injusto escrever sobre eles, as palavras faltam neste tipo de situações, porém arriscarei a parte mais fácil e para já deixo a mensagem de que esta é uma obra onde imperam os dourado das cearas de trigo, o azul do céu, o branco da neve e o preto do sangue, e vemos todas estas cores em planos-sequência de uma ausência transpirada de beleza e harmonia que extasiam os sentidos do espectador.
No fundo são manifestações de uma Natureza presente que pondera por nós (e só para nós numa comunhão
intima) sobre o que acabámos de ver e ouvir, são separadores "naturais" que fazem o filme evoluir no tempo da intriga. O mais próximo que vi desta grandiosidade foi no The New world, quem o visionou percebe e alcança o que tento dizer.
Quanto à intriga, não há muito a dizer apenas que está tudo no título, é um pouco como pegar na peça A morte de uma caixeiro viajante..sim é o mesmo tipo de exercício: não há o factor surpresa, não há nenhum twist no final, não há acidentes de percurso, é apenas a história de um homem que fazia sombra a outro, ou a história de um que sentia simplesmente na sombra de alguém.
Os homens: Brad Pitt, arrisco-me a dizer que tem aqui o seu melhor desempenho de sempre, capaz de numa mesma cena revelar extrema tristeza como logo a seguir se mostrar o homem mais alegre à face da terra, estados depressivos têm destas coisas.
Vislumbramos depois um nada coward Casey Aflleck, com um desempenho soberbamente desequilibrado, este Senhor opta por um registo nervoso e maquievélico, capaz de nos fazer duvidar na nossa própria bondade, e... limita-se a falar no filme, pouco mais faz que isso. Aliás se faz mais alguma coisa no filme é matar um tal de Jesse James e arrepender-se desse feito para o resto dos seus tristes e vazios dias.
A obra do quase estreante Andrew Dominik é um caminhar vagaroso pelos últimos dias da vida de Jesse James: as pessoas com quem se cruzou, a melancolia de uma Netureza beijada por acordes de violinos e pianadas que parecem chorar as pedras da calçada fria e cortante a cargo de um tal Senhor chamado Nick Cave e outro Warren Ellis.
São as cearas de trigo que dão passagem a Jesse James, a neve que lhe gela o peito, o passar do tempo que teima em não se mostrar caridoso com uma alma atordoada, um caminho pela mente de um fã perigoso que muda de opinião porque a inveja é coisa feia e muito pouco saudável.
Feitas as contas, vemo-nos inundados por uma esmagadora onda de poesia cinematográfica, a arte tem dessas coisas, não se faz só de si mesma, preferindo alimentar-se de tudo o que sirva para justificar este mundo.
The assassination of Jesse James by the coward Robert Ford não é um filme de accção, não é uma comédia e para drama falta-lhe o tal "dramatismo", aqui nada acontece por acontecer, tudo é explicado, tudo flui como as águas do rio e Brad Pitt brilha emoldurado pela soleira de uma porta , enquanto que Casey Affleck entra sorrateiramente pela mesma, e devo dizer é esta a beleza deste primeiro grande filme de 2008!
3 comentários:
Pois..ora aqui está uma das razões porque tenho saudades de Lisboa!! Até que apanhe este filme num cinema... :(
Bem...depois de comparares este com o "The New World", se já tinha vontade de o ver então agora...
Não te vais mesmo arrepender então, os planos são magníficos!
Gostei muito deste!
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