sexta-feira, maio 11, 2012

Enquanto assim estiver



Silêncio na casa. Final de tarde, de calor e sombra. Os únicos sons que distingo são os dos pássaros a voar lá fora e o das ambulâncias. Som esse que entra na casa pela fresta da janela. Dentro de casa, um único som. O do silêncio confrontado com o bater dos meus dedos no teclado do computador.
Paz. Será esta a sensação? A garrafa de água está apenas meio bebida, da laranja que lanchei apenas resta a casca depositada finamente no pires deixado em cima da mesa.
O final de tarde é ainda marcado não só pelos sons quem vêm lá de fora como de um pequeno fio de vento que teima em entrar e beijar-me o braço direito. Chamemos-lhe brisa. Chamemos-lhe paz.
Gostava de perceber o que é. O tempo passa e cada vez compreendo menos algumas situações com as quais sou confrontada. "É a vida". Felizmente tenho o resto para me alegrar e me fazer sentir que essa vida merece ser honrada. Tenho um peito cheio de amor capaz de chorar de felicidade. Para já, não preciso de mais nada. Enquanto assim estiver. Não preciso de mais nada.

quarta-feira, maio 09, 2012

Para quem nunca vai entender

sexta-feira, maio 04, 2012

Se algum dia voltar a sonhar


Com que então querias desaparecer da minha vida. Patife. Com que direito? Aliás, quem te deu esse direito? Repudio Deus e todas as entidades divinas que tenham esse poder, repudio e juro nunca voltar atrás com a minha decisão.
Não percebes que és parte de mim? Que crescemos juntos. Crescemos, mas eu continuo jovem e tu estás velho, porque quiseram que um ano para ti valesse mais que um ano para mim. Os teus olhos já não me vêem, mas continuo a ser eu. A tua amiga. Os teus ouvidos já não compreendem o que a minha boca diz e o som que dela sai. Antes esse som era para ti, era teu. Agora é do ar e desaparece no vento.
Já não queres a minha companhia, quando eras tu que a querias sempre. A companhia. Pura e simples.
Chegaste numa mala de tiracolo. O teu trono era feito de verga no meio da bonecada. Embirravas com motas e bicicletas e não toleravas António Variações. Gostos. Mas adoravas ir comigo à escola, brincar e correr pelos canaviais. E se se metessem comigo, haviam de se ver contigo. O meu amigo e o meu defensor. Contigo tinha as costas quentes. Amante de costeletas e noitadas, desaparecias durante dias e voltavas cansado e esfomeado ao nosso lar. Sempre foste muito independente, demais para um ser como tu.
Agora queres ir-te embora. Deixar-me seguir com a minha vida. E se eu te disser que não quero seguir com a minha vida em frente? E se eu te disser que tens de ficar para sempre. Ficas?
Sou egoísta, faço da Razão uma piada e acho que ela não merece que lhe passe cartão. Para mim és o ser mais belo do mundo, a luz dos meus olhos, és a minha infância e todos os meus sonhos de menina. Tenho de te deixar partir, um dia. Abandonar esta minha crença e habituar-me à ideia do nascimento do dia em que já não faças parte deste mundo. Se algum dia voltar a sonhar estarás sempre nesse meu sonho e viverás sempre nesse mundo, até ao dia em que eu puder ir ter contigo para brincarmos outra vez.