quinta-feira, novembro 17, 2005

Lembrar

E se eu disser que sou o que sinto? Se sinto medo, sou medo. Se sinto fome, sou fome. Se sinto amor, sou amor. Se não sinto, não sou? O mundo que crio é a minha realidade, os outros só a percebem quando nela entram, limitam-se a vaguear que nem simples sombras e : "Louca"- dizem eles, não sabendo eles que é mútua a loucura que se prolonga nessa estranha linha que nos une. São eles meras marionetas que manipulo com o meu fio de pesca e que retiro de cena no momento em que deixo de precisar deles, e se os mato não é por não gostar deles (pois gosto mais do que imaginam) é porque a sua ausência magnifica a minha gratidão, ou então é simplesmente porque já não fazem sentido, já me ultrapassaram. Faço-o sabendo na inconsciência das minhas premeditações que também eles criam, manipulam, riem, matam...matam-me. Será que não me podem deixar em paz? Claro que não. Porque eu nunca os deixo. Quero dormir tenho tanto sono. Não me lembro do início e foi há tão pouco tempo. Mas o tempo é corpo, porque é o corpo que sente o tempo, e o meu corpo quer descanso, quer não pensar na criação...esse monstro no armário da roupa velha do criador, esse dador de almas. Com isto pareço ser infeliz, mas não. Sou tão ou mais feliz que os outros, aquilo que me separa é o facto de eu me lembrar. Sinto felicidade, sou felicidade. Lembram-se?

sábado, novembro 12, 2005

China clowns

Based on an almost true story: " Hi. My name is John. I'm 50 years old and this is my first time here, in this therapy group. Well, when I married 25 years ago, I never imagined things would get so bad. I'm not speaking about my job, nor about my wife's chocolate cake, which is terrible, just for the record, nor about my kids who refused to to their Philosophy homework because they go against their Socialist ideas. No. What happened was that when I agreed to marry my present wife, I simply ignored those 18 giant pasteboard boxes that she brought home. The word "FRAGILE" written on them also in giant words didn't catch my attention at all, and those were the boxes that would change my life forever. Crystal glasses! I thought. ..it's always good to have glasses, and if they're crystal. Lucky me! Dead bodies?! Why not? At least I would have some fun...for a while. No. ORNAMENTS. My wife is a compulsive ornament collector, and I am the one who is here. Name the collection, she owns it. "The one hundred and one plates of the royal family", she bought them. "The seventy seven Russian dolls", she bought them. "The eighty eight handamade China clowns", well there's one to complete that collection, oh Thank You Lord! And she even has the nerve to say:" Honey, the kids love my collections!!" Yeah right! And I say to her: " Honey, "the kids" are seventeen, they're probably communists, so they must just love China clowns. And my friends, do you know who cleans the dust off those collections?That would be me. I'm the man who spends all his Sunday mornings cleaning the dust off those China clowns and whathever!!!.... Why on Earth didn't I pay attention to those 18 boxes when I had the time? Because if I had...if I had, they would have probably have...accidently fallen out of our window. Thank you all for listening. I feel much better now." Monolgue by LG

sábado, novembro 05, 2005

O inexistente Dalí nos EMA 2005

Foi no passado dia 3 que Portugal se fez passar por um dos "grandes", não é que o nosso país não o tente todos os dias, mas é que desta vez fê-lo à frente de todos, e pior do que isso, admitio-o em público. Acho muito triste quando figuras públicas vêm, portanto a público, dizer: " Portugal mostrou que também tem capacidades para esta e aquela"...ah tem?? Então se tem, vamos a fazer as 'ditas' coisas e não ficar à espera que os outros nos venham dizer "menino bonito" e afagar-nos o pêlo...tomemos as iniciativas, lutemos com as nossas armas, (eu sei que são poucas e made in China) mas pelo menos vamos...não tenhamos medo de nos agregar astuciosamente aos gigantes porque se eles o são devem-nos a nós ( "porque nos dominam", diz o inteligente), mas nós precisamos dos mestres, e só é grande aquele que excede o seu modelo já dizia Aristóteles no tempo em que os prémios MTV ainda exibiam artistas com máscaras em vez de operações plásticas tapadas com óculos Dior com lentes gigantescas...aqueles da moda!! Não foi um mau espectáculo, não senhor, mas pareceu-me como hei-de dizer...uma lágrima perdida na imensa chuva. Sim é isso. Os artistas, para variar, pareciam menos interessados em actuar do que em promover os seus últimos trabalhos...ouvi o título do cd da Shakira aí umas 10 vezes e o quanto ela estava contente em cá estar e como os portugueses são bonitos.... Espanquem-me! O espectáculo começou com uns largos minutos de atraso à la bonne mode du bon Portugal, e os prémios pareciam ser recebidos como mais uma banalidade do showbusiness. Devo admitir que gostei da apresentação que coube a Borat, o pivot do Cazaquistão, que numa época como a nossa parece-me uma crítica bem mais inteligente e interessante do que a feita pelo Jared Leto na sua apresentação numa de actor jovem, e por isso rebelde, que só o fez porque está a milhas do seu país natal, onde o Bush está longe de adivinhar o que é se passa na cidade espanhola Lisboa...só se algum empregado do empregado da White House que é filho do filho que era casado com a filha de um tal Ferreira o disser ao senhor, enquanto lhe apara um charuto cubano, que a este o Fidel não lhe pôs as mãos. Borat representa bem melhor o mundo daqueles que vivem na miséria porque os outros lá no fim do mundo assim o desejam, não tendo eles nada a ver com uma coisa chamada poder porque nunca a possuiram, sendo eles apenas leves carnes para canhão, carne a viver num tempo errado, num local deslocalizado. Eles são apenas o produto de um mundo humanamente entristecedor e ganacioso. Não haviam eles de querer fugir do seu país natal numa avioneta amarela em direcção a Tires. Torturem-me com ácido! Quanto a performances, bem não há muito a dizer...ou haverá?? Se tivesse que eleger uma, seria Foo Fighters, que não são o MEU grupo mas estiveram bastante bem a meu ver. A eterna Madonna, e eu aprecio muito a senhora, como não está em época de tournée ainda não aqueceu o corpinho, por isso dou-lhe um desconto, mas ficou far far away das minhas expectativas. Portugueses, portugueses...cadê?? Só mesmo os encarregados de limpeza e uns gatos pingados no público. Era no mínimo surreal encontrar descendentes d'El rei D. Afonso Henriques a defender o seu território valentemente. Uma actuaçãozita... afinal quem é que ía ligar? Se por muitas vezes nem mesmo nós permanecemos no mesmo canal onde eles estão, havia de ser os outros...era então não era... A malta queria era Robbie e este e aquel'outro, os portugueses no palco íam destoar o cenário, como acabaram por fazer no final aquando da entrega do prémio portugês. Uma actuação portuguesa era para a esmagadora maioria do público estrangeirado como dar Dalí a neoclacissistas!! Era desequilibrar todo um sistema já de si, tão pobremente estruturado e era vê-los a fugir do olho visionário. Sirvam-me cianeto num copo alto! Mas como já disse, Portugal ainda não é aquele destino. Um dia quem sabe?? Vamos pensar que sim. eu quero pensar que sim, para quando for velha não ser uma exilada ou pior, uma emigrante toda saudosista do mau que afinal era tão bom!! Queria antes dourar a minha velhice numa quinta em Sintra sentada na minha cadeira de Balouço em pleno Outono a mirar as folhas caídas das árvores a jogar à apanhada numa roda viva.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Entrevista de emprego

Primeiramente perguntam:"Como está? Prazer em conhecer!" bla bla bla, mas eis que começam as perguntas traiçoeiras.... - "Então e você (vamos sublinhar o você ao longo da conversa) tem experiência neste ramo?" - "Bem claro que sim", quem é que neste mundo respondia numa entrevista de emprego não ter qualquer tipo de experiência (mesmo que não tivesse) se quisesse trabalhar num banco??? - E em que banco? - Portanto num banco que por acaso fica aqui na zona...mas o ambiente sabe,não era dos melhores, achei que estava na altura de mudar de valores...percebe?" Nesta linha a entrevista cotinua num modo calmo mas fascinantemente ritmado. - "E diga-me quanto é que gostava de ganhar?"-Quanto é que QUERO ganhar??!! Devo dizer que esta é A pergunta, aquela que me mata. Quanto é que EU QUERO ganhar??!! Bem estamos num banco não estamos? Até quanto está interessado em gastar com uma competente e EXPERIENTE funcionária??!!- pensei eu. Nesse momento respondi numa voz muito profunda e quase honesta: - "O dinheiro não é importante senhor, o que eu QUERO é fazer parte de um grupo tão importante como este." O entrevistador vidrou os olhos em mim de um modo estupendamente dramático ( ou seria ironia?) e perguntou: - "Você está disponível?" - Nesse momento devolvi o mesmo olhar dramático( para ele não pensar que era o único que o sabia fazer) embora cá dentro estivesse com uma vontade de rir desbravada, porque estava a tentar pensar numa única pessoa no mundo que se dignasse a ir a uma entrevista de emprego sem estar propriamente disponível, quem é que faz isso? Serão muitos e eu não sei, andarão eles espalhados pelo país a comprar jornais na esperança de que as páginas centrais possuam algum quadrado mialgroso que possivelmente irá pagar a luz, a água e a renda que por acaso já estão em atraso??... Talvez este entrevistador estivesse habituado a falar com pessoas INDISPONÌVEIS NO MOMENTO. Então eu respondi: - "Estou disponível no momento.", e rematei com um belíssimo "claro". Enquanto o senhor falava sobre o banco, a competência, o rigor...comecei a pensar que ele nunca mais se despachava e que eu tinha que estar na pizaria ás 10 para começar o meu turno. -"Nós ligamos." disse ele. "Ligam?" pensei eu?? Isto foi há 2 meses, e eu continuo a trabalhar na mesma pizaria, o telefone não tocou, às vezes o rigor não se aplica, o exemplo vem de cima mas cai ao trambolhões, se calhar mandam-me uma mesnsagem escrita ou assim... No fim disto tudo fico com a ideia de que o banco e a pizaria não são duas coisas muito distintas, é que ambas sobrevivem do mesmo: Dos pobres. Com sorte o pobre vai ao banco, deposita o ordenado na conta e 95% é gasto na prestação do empréstimo - o banco sobrevive- e seguidamente com os 5% pensa onde os vai gastar enquanto se refastela com uma fatia de piza aviada pela minha pessoa. É um ciclo como qualquer outro.