sábado, janeiro 26, 2008

ATONEMENT

Falar bem de Atonement é já um 'lugar-comum' entre críticos e aspirantes a, mas não será por isso que deixarei de o fazer juntando-me ao grupo, aliás é por isso mesmo que também eu o irei fazer.
Joe Wright aprendeu bem a lição e brinda-nos com a sua aprendizagem feita obra-prima, que podendo ter sido um exercício frustrado dada a complicação do material narrativo a ser tocado, e cuja circularidade literária se estende ao longo de todo o romance, se transforma numa bela e fiel adaptação, uma transição perfeita da palavra íntima à imagem que se quer partilhada.
Dario Marianelli ( Orgulho e preconceito e V de Vingança) através da sua espantosa composição musical leva-nos a percorrer todos os espaços físicos e psicológicos, seguimos os pezinhos da pequena Briony, o olhar vago de Robbie, a pena de Cecilia pela jovem irmã e por si mesma. A música de Marianelli deve ser focada exactamente pela sua fluidez, rapidez e envolvência e quase mecanicismo, compassada ao ritmo de uma máquina de escrever, pautada por pausas, reticências, pela força da imaginação, pela força da culpa e pela força própria de uma máquina Corona.
A música serve ainda de elo de ligação, nos longos e audazes travellings que acompanham o caminhar de Briony pela casa, pelo campo, pelo hospital e pelas ruas de Londres; este realizador monta assim uma estrutura impulsiva mas pensada ao pormenor, tudo ali é filmicamente verdadeiro e realmente falso: sejam os enquandreamentos, os valores icónicos, a "crucificação" de Cecilia em dois momentos da obra (uma na biblioteca e outra no final da obra), o apriosionamneto de Briony num vitral onde se pode ler "Matilda", a mesma do poema cujo início é Matilda told such dreadful lies, it made one gasp and stretch one's eyes.
Joe Wright é um verdadeiro plantador de imagens fortes na nossa memória, assim ficam Robbie numa bela panorâmica num campo de papoilas, fica o encontro dos amantes num salão de chá e o jovem Turner a tremer por saber que terá apenas 30 minutos com Cee, (e aqui uma ponta de raiva da minha parte por não ver o nome de James Macavoy na lista dos Óscares de nomeados a melhor actor) fica a sua aura angelical ao ver-se numa luta que não lhe pertence, com um passado que não forjou e com um futuro que não planeou, na memória fica uma Keira Knightley inicialmente selvagem e que se vai decompondo num ser frágil e amargurado, na memória fica Saoirse Ronan de olhar determinado e diabolicamente infantil, bem como Romola Garai cuja frase "There is no Briony" marca efectivamente um momento importante do filme.
Se posso acusar Atonement de algo, é do uso excessivo de citações cinematográficas (a mim não me incomodaram minimamente), ou o uso algo cansativo de longos planos- sequência (que fazem todo o sentido para um antes de espectador, leitor), bem como a cena de Robbie frente a uma tela de cinema clássico.
Mas a memória, essa fatalidade dos deuses, deixa ainda a fantástica reconstrução histórica na praia de Dunkirk, o vestido verde de Cee, o acabamento perfeito com Claire de Lune de Debussy e a expiação de uma mentira que levou toda uma vida a ser revelada, injustiçando um Amor entre um Homem e uma Mulher, empenhando a vida de ambos nas "amarras" daquilo que foram uns breves momentos passados numa biblioteca escura numa quentíssima noite de Verão.

3 comentários:

Joanne disse...

Perfeito! Perfeito! Perfeito! Este filme já está na minha lista dos melhores que vi este ano! Fotografia *****, Aquele menino bonito *****, a história em si *****...Quando for grande quero fazer filmes bonitos destes.

Princess Aurora disse...

Ah e depois empregas a princesita?
Eu lavo chão, esfrego portadas, planto flores, digo deixas aos actores, cozo e passo a ferro, ah e também sei apanhar cabos: faço tudo para entrar no mundo do Cinema, e tenho a certeza que ter-te como patroa ia ser muito bom!!

l00ker disse...

ena!! Se precisarem dum "gajo giro" para algum papel, digam qquer coisa :)