sábado, fevereiro 27, 2010

Quando alguém morre

Às vezes as pessoas vão embora e nunca mais as voltamos a ver. Decidem ir. Nem sempre acontece apenas porque não nos voltamos a encontrar neste pequeno grande mundo, acontece apenas porque algumas pessoas deixam de o pisar e nós continuamos por cá. Assim de repente. Não há concolações, nem memórias que as tragam de volta, não há a memória trazida pelo seu cheiro, e tudo o que nos deixam de nada nos serve, fica só o vazio, e o vazio toma conta do espaço. Podemos ter estado, ou não, muito ligados ao que se foi , podemos até nem ter passado muito tempo com essas pessoas, mas a partir do momento em que morrem, nós ficamos, e só as vemos quando fechamos os olhos. Eu lembro-me de ti. Quando te conheci nunca pensei que um dia deixaria de te ver. É algo em que não pensamos quando conhecemos alguém, normalmente só começamos a pensar nisso momentos mais tarde. Foi já há algum tempo, e o tempo passa depressa. Nunca fomos amigos regulares, nem conhecidos ausentes, estávamos sempre próximos por um motivo ou outro, uma ponte a ruir aqui e outra a surgir ali. Nunca te vi da outra margem do rio (ou talvez sim), nunca partilhámos uma sandes mista (ou talvez sim), nunca te mandei uma mensagem às 6 e meia da manhã (ou talvez sim), nunca te disse que "o Amor é coisa de adultos" (ou talvez sim), nunca te vi a tratar mal alguém (não, isso nunca vi). As coisas que nunca fizémos jamais as iremos fazer, as coisas que me perguntaste, bem essas a partir de agora só te posso responder se for à tua morada eterna, tamanha parvoíce, e sabes que eu deixei de gostar de cemitérios, escrevo então, nunca me lerás, mas também não me lias quando respiravas. Foste embora, eu fiquei, na hora em que foste, muitas outras pessoas foram também, e muitas mais ficaram, não sei se me alegre ou se me entristeça por isso. Não me apetece sorrir ou chorar por ti, tenho fome mas perdi o apetite. Também não te fui dizer adeus, estive contigo dias antes, disseste que estava tudo bem, e eu acreditei, não escutei para lá do que disseste, espero que nesse dia ainda não soubesses que ia ser um dos últimos dias da tua vida. Porque se já sabias, então é melhor que quando for a minha vez de morrer tu me desapareças da frente.

Uma noite como esta

Será mesmo assim?
Tão fácil partir... e voltar. Pode ser tudo imaginação, tudo fruto fresco, maduro e sumarento desta minha mente sedenta de cor e calor, pode ser sim, mas não quero saber, sigo em frente, como sempre, sem ponderar as consequências. Acho que sou a pessoa mais irresponsável que conheço, a melhor conselheira dos outros, a pior para mim mesma, não quero saber, deixei de querer saber. Ontem disseram-me assim "gostar, gostamos disto e daquilo", parece que não gostamos das pessoas, das pessoas queremos, sentimos e fazemos outras coisas. Precisamos, queremo-las perto de nós, queremos sabê-las por perto, queremo-las inconscientes e precisamos da ideia de que precisamos das pessoas para nos mantermos sãos. Ontem à noite apercebi-me disso, estou sã, sorri e deitei-me para o outro lado, olhei-te e não te contemplei mais. Morre-se assim, e nasce-se também. Foi numa noite como esta, sem querer, sem pedir sinais, sem pedir nada de nada nem ninguém. Eu ainda acredito na magia, na vida, nas promessas mudas, no sangue que corre vibrante, eu ainda acredito que há um tempo para tudo, eu ainda acredito na dignidade dos gestos, eu ainda acredito que um carinho deve ser puro, um toque desejado, e a dor criou-se para ser esquecida ao deitar. Esqueçamos o passado, já lá vai, a ferida já não sai, pode ser ultrapassada, sim, claro que sim, mas jamais será o mesmo, se mais ninguém souber...eu saberei sempre. Eu acredito na magia, e no espaço que se cria entre os seres, eu acredito que esta chuva vai terminar e que nada mudará só por ela terminar. Nunca imaginei sentir isto assim tão de repente, trocar as posições das coisas, tomar consciência tão facilmente que transmito medo e admiração, que não me consigo resignar e baixar os braços.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Entretenimento

Estão sempre a dizer-nos que precisamos de ter cuidado.
Cuidado com o que comemos, com o que não comemos e devíamos comer, com o que comemos demais e aquilo que comemos de menos. Segue-se depois o que se bebe...o que se bebe em excesso, e o que nos passa ao lado. Depois há que ter cuidado, com quem se anda, com que deixámos de andar, com quem andamos e nos faz mal, com os que não andamos e até nos fazem muito bem. Seguem-se os avisos, os que ouvimos e não damos cavaco, os que ignoramos prontamente "não é uma questão de não conseguires, mas sim uma questão de não quereres". Depois há os dias em que estamos receptivos e os outros em que não. Os que acordamos com um sorriso estampada na cara, e os em que nos dá uma súbita vontade de assassinar meia população do sítio onde estamos a morar. (Felizmente essa sensação tende a desvancer-se com o passar das horas)...o mesmo não acontece com os problemas.
Porém, há solução para eles: primeiro passo é o diagnóstico, depois a prescrição de tratamento, segue-se o tratamento em si e a fase mais complicada de todas: aprender a viver sem o problema.
Às vezes acho a vida simples demais, arranjamos os problemas para nos entretermos!

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Juro pela minha saúde

que quando este Inverno terminar vou a Fátima, de joelhos.
Mesmo que não o faça fisicamente, lá estará o meu espírito viajante e cristão.
Parece que hoje é Carnaval e apetece-me tanto brincar como engolir pregos. Fico em casa por agora, mas saí cedo hoje, fui dar uma volta, tudo fechado, um frio de me cortar a franja, e eu odeio andar encasacada e anafada. Regressei sem tema de conversa porque o gato ainda fala muito mas escuta pouco, e sem tema de escrita. Achei que seria uma boa ideia encontrar uma piada sobre o carnaval, mas a única coisa que me lembro é que está um frio levado da breca e as meninas a desfilar que nem baianas devem estar com os mamilos duros de frio...coitadas das meninas...espero que sofram e vão para a terra delas que é mais quentinho.
Porém, farei programa de tarde, estou a pensar no quê e com quem...fizeram-me um convite e estou quase que a aceitar, mas só se cozinharem para mim. Ah é verdade, também me irritei hoje porque queimei a língua a beber capuccino e só depois me lembrei que já não tenho gelado no congelador para travar a dor. Opá...claro que poderia ir ali ao supermercado comprar, mas sabem como é quando estas coisas acontecem, chegar lá, escolher e pagar, trazer para casa e sacar da colher para o devorar..até lá passa-me a vontade e a dor.
Já vos aconteceu certamente e sabem como é, ou se tem logo o que se quer, ou então depois já não vale a pena que é retardado. O bom é haver sempre barras de chocolate no armário e gelado no congelador, e estar ali à mão de semear..é para isso que servem as listas de compra, para que nada do que realmente importa nunca faltar em casa.
É Carnaval e depois???

Muse: Endlessly (live@Wembley 2003)

Lá terei de os voltar a ver e ouvir!

domingo, fevereiro 14, 2010

Adaptações

Comprei-o na Quinta à tarde e comecei a ler. Fui dormir à noite e li um pouco mais de manhã. De tarde fui ver o filme, foi como se me tivessem esmurrado durante duas horas. A minha amiga sentiu o mesmo. Precious é demasiado forte, realista e profundo. Porém convém ser visto, porque há coisas assim ... que merecem o nosso respeito. Terminei Push na mesma tarde.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Who's Gonna Save My Soul

Sim Gnarls Barkley! Sou devota :) (não é a minha canção preferida, mas amoooo o vídeo)

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

A Single Man

mais este (só me falta encontrar a banda sonora)

'Shutter Island'

Mais um...

'Precious'

esta semana esgoto o meu cartão UCI...

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Quero mais

Quero mais um pouco de tudo, porque pedir pouco deixou fazer sentido. O "sentido" nasceu da nossa vontade em ver uma razão para tudo, e a razão é coisa da nossa cabeça e nada mais.
A razão é ela a apaixonada do coração, que bate intenso e apressado por ela. O que o coração não sabe é que a cabeça não nasceu para amar, a cabeça nasceu para viver na ilusão do pensamento.
Quero mais. Quero mais sinais e ter o desejo de não os evitar.
Quero mais Sol, mais e mais. Quero-o para o poder partilhar com o resto do mundo.
Quero mais, exijo mais. Quero carne arrancada da barriga da perna como que em possessão pelos deuses em rituais antigos e vibrantes.
Quero visões, aparições, ousar o absurdo. Quero mais sonhos, mais mãos, mais chamas incadescentes, mais gelo escorrendo do pescoço até ao ventre. Quero venenos mortais, terra vermelha e morna, línguas presas e cativas. Quero mais, sem ter de esperar por nada, meter o Tudo num saco e levá-lo comigo. Quero acordar às 5 da manhã, sair de casa e percorrer a floresta lá do fundo. Quero ouvir o grito gentil das árvores, e o bater das asas dos pássaros sonâmbulos. Quero deixar de ter frio. Quero nevoeiro, saber a que cheira, onde nasce e onde se dissipa para dar espaço ao ar. O nevoeiro sufoca. E eu deixei de o querer.
Quero mais, de ti, de mim. Quero mais fome, mais sede, mais espaço, mais caixas escondidas por debaixo da cama. Quero mais imagens, fortes, tão fortes como aquela imortalizada pela íris cansada. Quero espelhos longos e por partir. Quero mais e não quero dar, só receber. Quero ser o que sou, e não ter que me preocupar com isso. Quero viver para morrer, mas sem a parte "do morrer". Quero ter asas infinitas, alvas e finas. Quero descer dos céus nas primeiras horas da madrugada, acariciar os cabelos de alguém como quem toca violino com a crina de um cavalo, e voltar ao céu nas primeira horas da amanhã. Quero mais. Quero depois acordar e agir como mortal. Quero a minha amiga, aquela e a outra. Quero-te a ti, a mim, sem te ter, e sem me teres tu a mim. Quero mais. Quero mais. Quero mais. Gelo. Fogo. Suór. Arrepio.

domingo, fevereiro 07, 2010

Atonement - Briony ♪

(O único óscar que este filme ganhou foi o de Melhor banda sonora) Dario Marianelli transforma brilhantemente para notas musicais as palavras da história de Atonement, e este tema é só o início da viagem. Leiam o livro e depois vejam o filme, o resultado é espantoso, porque Atonement é dos poucos casos em que a adaptação de romance a Cinema é excelentemente conseguida!

Recomendadíssimo

Coisas genias podemos ver no cinema numa chuvosa tarde de Domingo!
Esta "coisa" é prova disso, e não está na corrida aos óscares o que por si é já uma coisa de louvar num ano que são 10 os filmes nomeados! Felizmente nós sabemos que uma não nomeação a óscar é muitas vezes presságio de algo muito bom de assistir. Há coisas assim...

sábado, fevereiro 06, 2010

Sombra pesada II

Desta vez é diferente. Digo-o e repito-o vezes sem conta a mim mesma. Da primeira vez foi novidade. A segunda deveu-se à saudade. A terceira considero um "tira teimas". Só pode ser isso. Não há nada que una as linhas desta esfera desenhada no papel já ardido. A noite já não era nova, o chão estava para lá de frio e senti-o com os meus pés decalços, e a casa escura aguardava a sombra pesada. Definiu-se um sorriso nos meus lábios aquando da sua aparição. Sabendo do erro, do equívoco e tendo o poder de a fazer desaparecer, decidi recebê-la de braços abertos. Num aperto sôfrego, os corpos flutuaram pelo espaço envolvente, descobrindo o que já conheciam, aventurando-se por entre aquilo que o tempo recente havia tentado apagar. Acabou tal como começou. Não foi recordar, não foi reviver, não foi amar. Os dias passaram, e passam sempre. A vida seguiu o rumo. Os estranhos continuaram a estranhar-se regularmente. Novos projectos, novas caminhadas, novos programas, novos desentendimentos, novos procedimentos, novo mês, e pensar "não me estás na cabeça". Vazio? Nem por isso, preenchimento total. Novo aproximamento, "porque não?". Porque sim manifesto. Que fazer ao corpo se já não tem alma? Faz-se uma opção. Optar às vezes custa, no meu caso nem tanto. Opto deliberadamente. Vejo o único monte no meio do nada e embato nele com agrado. Sei o que quero, o que preciso, o que gosto. Há também um penhasco bem frente a mim, antevejo a queda, já me sinto a flutuar, mas ainda não sinto a dor do choque. Quando o sentir será terrestre e audível. Já comecei a preparar o terreno. Todos nós sabemos que nos vamos magoar, até lá é aproveitar ao máximo a adrenalina da queda! É bom quando volta a ter e poder fazer o que se quer. A sombra pesada é assim.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Vamos a parar com a chuva 'tá?

Já não posso mais com as gotas de água que continuam a cair do céu, ele fica tão mais bonito quando está azul brilhante e majestoso....bem vou iniciar a compilação dos meus textos que já devia ter começado ontem, mas a minha glândula levou a dela avante...é hoje....a ver se o meu novo projecto segue em frente. É hora.