sábado, março 27, 2010

d e v a n e i o

Quando penso em "devaneio" lembro-me disto
Mar Adentro Mar adentro, mar adentro. Y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños
se juntan dos volunta
despara cumplir un deseo.
Un beso enciende la vida con un relámpago
y un truenoy en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo,
es como penetrar al centro del universo.
El abrazo más puerily
el más puro de los besos
hasta vernos reducidos
en un único deseo.
Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo,
sin palabras 'más adentro', 'más adentro'
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.
Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto,
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.
Ramón Sampedro

domingo, março 14, 2010

Fogo gelado

Um quente que gela. Uma luz que se une a outra no escuro e que se iluminam em compassos ritmados de tempo, que de tão longo parece curto. Saber que nada se quer desperdiçar, absorver cada poro, cada gota de suór, cada cheiro, entrar na catedral e sentir a magia da contemplação profetizada, sentida, inspirada, realizada, vivida e sorvida. Um calor frio, que arrepia, que junta e afasta os corpos, que os remete para a dança dos sentidos e os faz abraçar numa queda doce e macia. Nisto, nasce a liberdade feita e refeita numa doce manifestação física. Lembramo-nos das coisas que realmente importam e nos faltam, das que nos fazem rir quando o riso é preciso, dos primeiros instantes, da imprevisibilidade da vida, da fruição dos encontros "energéticos" e "vibrantes", das horas que passam depressa demais quando o tempo parece querer fugir, da hora que termina e adormecemos aninhados para as aproveitar melhor. Porque tudo o que é bom acaba, e assim damos-lhes mais valor e queremos mais, mais e mais, como se o "mais" fosse humanamente impossível. (Porém, nunca o é) Querer o toque astuto, a língua ávida, o sopro uivante, o gesto majestoso, o elogio marcante e não temer o silêncio, não temer o silêncio que se gera entre os seres no intervalo das horas, quando o dia começa!

quinta-feira, março 11, 2010

Estás-me nos dedos

Esta noite estou sozinha.
É estranho. Dou por mim a achar que ainda é cedo para estar sozinha, como se o tempo tivesse alguma coisa a ver com isto, e como se o ponteiro me contasse ao ouvido algo mais que as horas.
Sinto-me alterada, o silêncio incomoda-me porque não há risos que não os meus, não há o cheiro e o toque aos quais me tenho vindo a habituar sem esforço algum. Não há, e eu queria. Porém consigo escutar o arrepio, não o sinto de momento, mas escuto-o.
Pareço uma criança mimada a quem foi roubado um doce, e eu mulher menina sem doce acho-me meio perdida no quarto escuro porque fui posta de castigo.
A parte mais poética de tudo isto é que não há mal nenhum em sentir o que escrevo, mal nenhum porque estás-me nos dedos.
A parte mais luminosa de tudo isto é que estes dias mostram-nos que os outros foram tão bons e que muitos outros virão.
A parte gloriosa de tudo isto é que damos aquilo que queremos e não aquilo que podemos e se assim for é porque está tudo bem.
A parte verdadeira de tudo isto é que foi bom, muito bom, e há algo ainda melhor por descobrir!
A parte encantada de tudo isto é que hoje adormeço ao som de uma voz que não está a meu lado.

sexta-feira, março 05, 2010

"Daqui à Eternidade"

"Quantas horas tem a Eternidade?", perguntaram uma vez.
Quererá a resposta dizer que é para sempre, ou isso não passará de mero consolo inversamente ambicioso?
As horas que vivemos são as únicas que realmente valem, as dos outros, não nos servem, não as percebemos, não as queremos, as dos outros não, só as nossas importam.
Olhamos sempre para trás, na tentativa de apreender, e deixar de fazer o uso da repetição, colhendo os frutos que achamos preciosos para que de futuro tudo seja diferente...eterno.
O mundo é assim: passado, presente, futuro. O passado é História, documento, folha ardida, feito irremediável. O presente é cor, consciência consciente, aquilo que interessa. O futuro, nem devemos pensar no seu significado, porque não o tem, o futuro é aquilo que nunca chegamos a experienciar. Só o presente é vivido em pleno. E só os "pequenos nadas" são capazes de preencher cada minuto.
Claro está que, na maioria das horas conscientes, não nos lembramos delas, o acordar de mau humor, a leitura do livro de cabeceira, o toque dos dedos no pêlo no animal de estimação, aquele beijo roubado na noite chuvosa, aquela gargalhada, aquele olhar, aquela aquisição, aquele desabafo, aquele sorriso da menina desconhecida, aquele minúsculo momento irrepetitível. So nos lembramos deles no dia seguinte, é a memória que imortaliza, não o tempo em si.
A partir do momento em que algo é dado como facto, é já parte integrante do passado, deixou de ser futuro e no presente deixou apenas um rasto para ser caprichosamete seguido, como aquelas pegadas na areia molhada da praia no toque e foge das ondas mais azuis espumadas.
Já fugiram das vossas sombras, ou já as tentaram apanhar? Quando fugimos delas, as sombras são o passado que clama do outro lado. Se as tentarmos alcançar elas transformam-se no futuro: nunca as alcançamos, nunca astocamos, desconhecemos o seu cheiro, a sua composição, nem cara para esbofetear ou acariciar têm...é assim que vivem as sombras.
Só o presente tem cor, porque o passado costuma ser a preto e branco e o futuro é brilhante demais para ser aprisionado pela íris.

terça-feira, março 02, 2010

De génio

A juventude é uma coisa maravilhosa. Que pena desperdiçá-la em jovens.
Bernard Shaw, (1856- 1950)