sexta-feira, março 30, 2007

Pediram-me que escrevesse qualquer coisa

"Apresentações feitas" e apetece-me pensar que não nos tratamos de pessoas assim tão diferentes.
A minha irmã disse-me outrora: "Crescer custa!", e custa, custa parece-me a mim, mais a uns que a outros, os outros porque não pensam nisto crescem simplesmente para cima sem procurar o sol, crescem rectos e sem propósito, e os "uns", esses alegram-se por crescer, procuram o sol por quererem ultrapassá-lo, crescem tortos, para mais tarde se endireitarem!
E nada mais prazer me dá que Comer finas lascas de chocolate de leite Sentir a ansiedade pela chegada da última palavra escrita de um livro Olhar o céu estrelado durante um apagão na cidade Ouvir o canto das andorinhas numa fresca manhã de Primavera Adormecer com a minha cabeça pousada numa almofada de penas molemente endeusada Acordar leve porque sonhei com a resolução de todos os meus problemas Escutar a canção preferida como se fosse hoje decretado o fim da existência da Música Saborear café pela manhã envolto em duas colheres de açucar, abraçado a pão lambido com manteiga Receber uma carta, um postal, um "olá" que não seja seguido de @mail.com...
Quem disse que "quem torto nasce nunca se endireita"??

quinta-feira, março 22, 2007

BEM VINDA PRIMAVERA!

I am your for the walk, and specially when I walk away.
William Shakespeare

domingo, março 18, 2007

sexta-feira, março 16, 2007

"Mano quero ver passarinhos!!"
Dizia ela com a sua voz inocentemente imperativa, contestatária, doce e irrepreensível, teimosa e inesgotável.
O lume do Céu rasgava os panos do Tempo, a viagem leva anos a percorrer, talvez quinze, talvez catorze, pedindo às Parcas para fazer um recuo imaginário, é recorada a descida leve da Primavera daquele ano...talvez o de 1991, talvez o de 1992, o pólen invisível pairava sobre a menina, e o alpendre vazio.
Um pouco mais longe, água cristalizada consolava as amendoeiras mais próximas, pareciam diamantes finamente delapidados à espera que ela crescesse e os usasse orgulhosamnete nas suas orelhas finas e escondidas pelos seus cabelos cor de ébano, furiosos tentáculos que reinavam na sua cabeça e que só ela conseguia domar.
"Vamos pôr pão molhado no alpendre!"
Disse ele, numa tentativa de acalmar a menina, de fazer sorrir os seus olhos,de acalmar se possível os furiosos, enfim numa tentativa de satisfazer a vontade dela e sua (secretamente sentida). O pão, esse manjar, colocaria um fim à espera maldita, um início de algo maior.
Amanheceu frescamente. Ela acordou, despertou insatisfeita como sempre, os seus pés finos tocaram o ladrilho frio cortando como agulhas a base do seu corpo alado, frágil, macio...obrigando a tocá-lo minimamente, fingiu ser bailarina nessa manhã.
Ele disse, "Agora, agora!"
Ela sorriu como só uma criança o sabe fazer.
Quanta emoção aquele passarinho lhe proporcionou, aquele ser tão ou mais frágil que ela, dádiva dos Céus, porque só a ele pertence, maravilha natural, pequena e mole aninhada na palma de uma mão protectora e contente. Comendo o pão comprado no dia anterior na padaria da D.Emíla.
Devolvidos os anos às Parcas, (porque só a elas pertence), numa manhã de Primavera como a de hoje, a menina de outrora olhou o alpendre e nada do que era continua a ser, não há passarinho, não há amendoeira, há o alpendre nú...e eis que de repente, como se algo maior e mais forte que ela percebesse a sua perda, o Ser surge, o alpendre foi coberto momentanemente. Que felicidade, que inesgotável alegria ela teve naqueles segundos breves e fugidios, tantos e tão poucos enquanto o passarinho lá ficou, voou para outro alpendre, foi beijar os olhos de outras meninas como ela!
Horas depois, ela procurou o mano e disse:
"Esteve um passarinho tão bonito no nosso alpendre.", disse ela hoje já com uma voz firme, mas ainda adocicada como outrora.
Ele: "Temos de pôr pão molhado!"
Ela sorriu, virou-lhe as costas e silenciosamente alegrou-se. "Ele lembrou-se." Tudo faz sentido, aquilo que senti não foi uma ilusão, a vida faz sempre sentido, seja para quem for. O passarinho guiar-nos-à no sentido certo, eles sabem sempre o caminho em direcção ao nosso alpendre!
Estou feliz.
Já não sou criança, nem a menina de outrora mas continuo a gostar de passarinnhos.

sábado, março 10, 2007

É difícil nomear coisas

Se se procurar ao longo de toda uma curta vida o caminho mais fácil, encurtamos ainda mais a nossa passagem por esta Terra desavergonhadamente atraente.
Escolhe-se o menos sinuoso, por vezes o menos sombrio...e tudo isto na esperança de alcançá-la num curto fragmento temporal, tanto quanto um pássaro leva a bater uma asa frágil e pequena, bela e fina...como se a felicidade fosse trivial. Encontro-a em pequenas insignificâncias, mas não é por isso ninharia, pelo contrário, tomara muitos perceber o quão majestosa ela se torna quando contemplada e vivida segundo a segundo. Por vezes sinto-a chegar por entre bolhas de ar azuis claras que a brisa carrega no seu ventre inquebrável trazendo palavras sussuradas até aos ouvidos cândidos. Encontro-a no Amor, tome Ele a forma que mais lhe convir, tome Ele a forma que mais deseje, tome Ele a forma que um capricho mais caprichoso, vivido porque se quer vivo, esse agente secreto que segue as pistas mais contraditórias, ilusionista de sentidos falíveis. E se eu disser que o amor não é o caminho, nem tão pouco o destino?... Materializamo-lo ortograficamente, desenhamos símbolos virtuosos, divinizamos nomes, repetindo-os furtuitamente em linhas de cadernos já repletos de palavras vãs, colorimos folhas brancas, que agora tingidas com uma cor que nós pensamos ser a do sangue (não é tão vivo no entanto) são também elas agora escravas dum sentimento atribuido ao coração...como se ele tivesse culpa. Focar-me-ei no caminho, gosto muito de caminhos, de andar quando o Sol me beija os cabelos e o aclara sem para isso pedir permissão. Caso o caminho se torne difícil e eu não tiver vontade de desistir, levarei a bússola. O caminho solitário não tem piada, é muito silencioso, mais lento, se ao menos levar a bússola, pode ser que com sorte eu não me perca, pode ser que desfrute mais por ao menos me sentir descansada, sem pressões e com tempo, todo o que o mundo me quiser oferecer... E se a bússola for a outra metade a tal que tanto procuramos desviando-nos do caminho?? Talvez só com a bússola chegemos a tempo de sermos felizes (verdadeiramente felizes), talvez com ela tracemos uma rota que nos permita de facto encontrar o sentimento. Ainda estou a construir a minha bússola, peça a peça, umas compro, as outras troco com alguém que já as usou e danificou...(os que uns estragam os outros arranjam)...as outras peças encontramos por acaso, ao acaso, recolhemos de sítios abandonados já que outros não as puseram usar. Depois quando reunidas durante o caminho, tentamos astuta e secretamente que se encaixem umas nas outras. Estamos todos a fabricar as nossas bússolas, umas são mais perfeitas que outras, mais ricamente compostas, mais funcionais, mais enganosas, e outras por mais que arranjemos, precisam sempre de revisão. E como qualquer apetrecho fabricado, nem sempre funciona, por vezess com uma abanão...mas não muito forte que se estraga para sempre. Sei sabiamente que a bússola levar-me-á "tempo e dinheiro" a construir, podemos pedir a outros para a fazer, mas não tem o mesmo valor, disso estou segura. E quando miraculosamente construída pelas mãos da princesa incansável, bafejada pelo sopro celestial das fadas, a bússola funcionará, o coração indecifrável no centro espalhará as vértices da rosa, o caminho surgirá claro como lágrima percorrendo a face alva da figura feminina... ........a Norte e a Sul, Tu......a Este e Oeste, Eu.....