domingo, julho 23, 2006

Peça

Nervos à flor da pele. A estreia que não se quer que estreie nunca. Suor em cursos de água regulares. Garganta seca com tanto para dizer. E se eu calasse para não mais falar. E se eu falasse para não mais chorar. E se eu chorasse para não mais sorrir. E se eu sorrisse para não mais esconder. E se eu escondesse para não mais encontrar. E se eu dissesse que... ...que fiz tudo dentro da carne e nada fora dela. E que cada raio de Sol despertou em mim sentimentos que eu julgara já ardidos. E que cada rajada de vento faz esvoaçar os esqueletos dos bailarinos assombrados. E se. Se eu e tu também. Eu não quis, tu não pediste. Eu não pedi, tu não quiseste. E tinha sido tudo tão fácil, agradável. Mas não, nunca foi, e nunca será. Fim do primeiro acto. Cortinas de veludo vermelho entre os amantes. Véus brancos em cascatas transparentes. Estofos azuis confundidos com a noite. E a brisa que teima em trespassar a alma, a alma doce e quente que já não te afaga. Feliz o que deixou de tentar. Infeliz o que tudo fez para se salvar. Salvação que mais não é que perdição. Corropios de sons em espiral de emoções. Palmas. O "tu" esse mudou, é tempo. O "eu" permance mudado, é tempo. Desculpa mas o protagonista teve de morrer. Tive de o matar, não não morreu de morte natural. A naturalidade da morte fui eu quem a criou. Eu não morro nunca, o meu egoísmo não o permite. Desculpa-me mais uma vez. É o espectáculo do "nós". Amanhã, começa de novo à mesma hora. Novo público, os mesmos actores, a mesma solidão. O vazio na sala cheia. Mais palmas.

quarta-feira, julho 19, 2006

Clave de Sol

Hoje fazia calor. Os raios de Sol encurralados na clave e nas linhas espaçadas milimetricamente espreitavam por entre as persianas sem licença, o ar quente bebia-se como limonada quente, os movimentos dolentes e calados...um inferno na casa. A casa é aquele lugar onde sabemos que nada nos pode acontecer, mesmo quando acontece e tudo não parece mais do que um pesadelo ou uma lembrança longíqua, ambos encurralados por entre quatro paredes brancas caiadas pela tinta da nossa imaginação.A casa é a clave de Sol no início da mais bela das melodias, é a nota apagada pelo professor que a trocou por uma semi-colcheia, por ser mais breve. Está quente, a casa queima, o meu centro de gravidade desintegra-se, a minha vontade desmotiva-me, os meus actos são irreflectidos. Verão. esse inimigo. Esse inimigo das palavras. Apagador, atenção não é corrector. Corrigir mais não é que cobrir co pasta branca aquilo que não se quer ler, não vemos mas está presente e mais tarde ou mais cedo, a camada desfaz-se em pó, e nós relembramos o quanto perdidos nos encontramos. Se apagramos está feito! Não há como voltar atrás...descobertos. Estou ciente de que o mais saudável é corrigir, como todos dizem ser o correcto, ams porque não apagar?Não seria ebm mais fácil? A resposta é não. Não nos esqueçamos que possuímos memória. Esse incansável "post-it" amarelo (ou cor de rosa) , que aquando da sua inoportuna tarefa tudo o que faz é ofuscar-nos, tornar-nos humanos. Sem nunca percebermos se alguma vez tivémos ou iremos ter a hipótese de optar, será que ser inumano é ser maldoso? Não o somso todos os dias? Não nos damos ao luxo de não sentir todos os dias. Não é sentir mais do que uma acção irrfelctida que ecoa no nosso ser cada vez mais distante? Sentir... Não me considero má, quando criança questionava-me, hoje já não o faço, hoje afirmo-o, sei-o no mais fundo da minha essência: Sou boa. E a minha maldade existe, é ela quem alimenta o meu lado bom, é a mladade que me dá força... a uns consome, a outros direcciona e aos que sobram, bem a esses dá sangue...em mim faz com que ele corra com mais força. Sou boa. Sinto-o. Ponto.

domingo, julho 09, 2006

Nevar no Verão

Busco-te na fina neblina, encontro-te por breves instantes...e eu tento mais uma vez, fujo à fera, que se esconde e ataca, e tu ris-te de mim uma outra vez. A manhã é sem dúvida uma feiticeira, a noite, a sua capa, o seu refúgio, um embuste. Já a noite é traiçoeira e nada clarividente, gosta de passear pelo labirinto da minha mente, só gosto da noite de Inverno, não gosto da de Verão, porque nem sempre me percebe, é cor a mais, som a mais, não ha possibilidade de fusão. A manhã é verdadeira, pura..eu sou a manhã...tu és a noite.Por isso fomos condenados a tocar-nos apenas por breves instantes, tu a és a capa e eu a feiticeira sem poder, tu o embuste e eu a Aurora. Os meu poderes jamais te alcançarão, já tu... fa-lo todos os dias, proteges-me magoando, dilaceras-me a carne, partes-me os ossos, contrarias-me, fazes-me feliz, obrigas-me a escrever, mas o meu nome fica...alguns segundos...dois ou três minutos, para depois se desfazer, qual lágrima no oceano dispersa no véu da memória. Dor? Não. Há muito que deixei de sentir. Tudo o que me resta são fragmentos, tinta preta, folha manchada, sentimento nobre em câmara lenta. E se algum dia eu fizesse sentido, o mínimo que fosse...por favor faz-me desistir. Vem ter comigo e mata-me sulplico-te. Costumo fugir nos meus sonhos. Sonhos? Todos os dias, costumas sonhar? É aquilo que acontece quando vivemos uma vida que não a nossa. É aquilo que acontece quando nos vemos a realizar acções inacabadas, acontece quando subimos a escadaria de uma palácio, voamos sobre uma aldeia branca, choramos ao ver o verde da relva, sentimos o tic-tac de um relógio gigante...a cidade que chama, a badalada que ecoa. Consegues ouvir? Cala-te é uma ordem!Cala-te...ela chama-me. O sonho? Tive-o quando era menina pequenina, pequenina demais para sofrer, pequenina demais para perceber o quão sábia era. Belos tempos que já não voltam. Era tão feliz sem saber, tão humana, tão quante. Agora sou carne, olhos, mãos, e tão única que eu era naquela casinha cor de rosa, banhos no rio, cantos an chuva, volta, volta que preciso de ti. Contigo? Perdida. Sem ti...inacabada, desgraçada. Sou a insatisfação, nunca serei plena, nunca durará, isso é coisa que não existe. O que há são momentos, fragmentos, cores de aguarelas, pó de giz branco...a felicidade é isso...um...e pensar que muitos se não todos morrem sem nunca perceber quando a sentiram. Ainda não a senti, se senti, sou mais uma dessas pessoas...temos tempo...sou tão frágil, até a chuva já o percebeu que já nem ela em brinda com a sua frescura.Amanhã vai nevar. Quero ser feliz para o resto da vida, o entardecer será vermelho, os pássaros pousarão no parapeito da minha jenela, a música perderá o compasso, a lua cantará de dentro da minha caixa de música, a minha sombra cobrirá a minha aura, a minha voz ultrapassará o limite do som, tu evaporarás, serás espuma azul, gumes de faca a sangrar-me as plantas dos pés, serás a bruxa má que me corta a língua e a esconde num fraco de vidro, serás a capa. Lembras-te? Noite. Manhã. Capa.Feiticeira.Neve. Aguarela. Relógio. Sonho. Tu. Eu. Tu. Eu. Tu. Eu. Tu. Eu.