terça-feira, julho 15, 2008

O burro e a Virgem

Eis "Burro" o melhor amigo de...
" Maria", mais conhecida na vizinhança por "a mami do JC".
Segue-se a narrativa:
Vinha eu hoje feliz e contente da vida a caminho de casa com a minha mais nova aquisição o Bosch 1800 W modelo PHD5560 (leia-se "coisa potente e capaz de secar num ápice todas as cabeças da força militar infantil fundada por Angelina e Brad") e que noto eu? Esta potente máquina tem um botão que à partida é "cool" e faz uma coisa que é a "ionisation"...estão cismados hein?? Imaginem eu que o adquiri!! Mas este meu post não é sobre o meu novo brinquedo, não senhora, e sim tenho um problema com essa coisa que é "ser objectiva"...mas prosseguindo que isto tem um propósito e não me cortem o fio à meada, e sim Londres ficou mais triste agora que a deixei, e sim amanhã recomeço a trabalhar ah e não não aquele shampoo para cabelos castanhos é uma treta...voltando ao tema:
Vinha ainda eu (ainda) no metro... e vejo uma rapariga (uma moçoila proveniente ali dos lados das Olaias) a ser tratada pelo seu cônjugue com rédea curta, muito respeitinho e "um sopapo nessa fronha"...sim estou a citar! Já me aconteceram coisas giras nesta linha do metro, mas isto de facto nunca. Quis armar-me da minha 5560 e ionizar coolmente aquele indivíduo, mas um outro senhor não munido de nenhum electrodmésico adiantou-se e tomou conta da situação. Pensava que coisas assim já não aconteciam, sim a naive da Leila, sim há países em que a Mulher não pode caminhar à frente do seu marido, sim há mulheres que se submetem ao trabalho doméstico abdicando de sonhos e alegrias por uma vida a dois, sim há mulheres que preferem uma casa, uma anilha e um cãozinho ( e uma catreflada de filhos) que levam consigo ao Continente aos domingos de manhã) sim há essas mulheres todas, mas também que poderíamos nós querer? Somos frutos (ah eu sou uma ameixa) de uma sociedade e de uma cultura baseada numa religião mentirosa, assassina, ah e estúpida (não procurem consolo em Deus que ele está-se nas tintas para vocês e para o segredo de justiça, e também deve de comprar coisas no Ikea, e quem vai ao Ikea é parvo porque compra coisas baratas, por montar e que possuem uma curta (vá mínima) existência na Terra e nas nossas vidas).Ah querem uma estante para arrumar bibelots? Então é pegar no machado, arregaçar as mangas e cortar ali uma árvore na Tapada de Mafra, levar para casa e "monte você mesmo" (neste caso quem pegaria no machado era a moça de Olaias)...mas queria falar desta estúpida religião que vê na mulher uma Virgem (pois..."é o que todas dizem"), que tadita vai-me montada num burro a caminho de Jerusalem (leia-se "Jesus está além") ja embuxada (por uma pomba também ela bimba e "estúpida"...diria Pessoa), para casar com um tal de José que mais não é que carpinteiro (olhe não se meta no Ikea) e tudo o que lhe pode oferecer é Amor e uma cabana (literalmente)...ah e vá lá o mais avançado sistema de aquecimento central proporcionado por uma vaca (que pasta e dorme, dorme e pasta para fazer bom queijo) e um burro esse animal gracioso e que no fundo é um grande amigo! Esta é a mulher ideal da religião católica: uma parva (leia-se uma ténue analogia com o significado conferido à palavra que dá nome ao animal) vestida de azul, montada num burro que volta e meia surge a criancinhas em cima de uma árvore e que não se importa que as suas seguidoras apanhem dos cônjugues em pleno metro de Lisboa. Porque há problemas de maior, sei lá a fome em África e a falta de hospitais...mas sobre isso não se preocupem que enquanto a Santa Jolie viver não faltarão criancinhas que farão capas exclusivas de revistas por milhões de dólares...enquanto ela tiver forças África terá esperança! E pensar nas voltas que dei para mostrar apenas e somente a minha indignação. Não sou femininista, não isso é o meu Pai. Sou só Mulher. Viva a Angelina.

domingo, julho 06, 2008

Londres

dia 1: a chegada
Pois bem estou em Londres pela trigesima quinta vez (va talvez um numero um pouco menor..), a viagem foi muito rapida, vim num belo aviao TAP com o nome de Luisa Todi, um tal de voo 358 cujo piloto era tambem um acrobata dos ceus!
"E que fez ele?"- perguntam vossemeces
"Ui maravilhas!"- respondo eu!
Brindou-me com uma bela vista "de lado" porque o aviao decidiu que tinha de mudar de direccao e vi toda uma zona magnifica da capital assim meio para o atravessado, mas a noite caia, as luzes iluminavam e eu ia estarrecida, sentadinha a janela naquilo a que muitos chamam "os lugares dos malucos" (ou seja, the very last ones of the plane!).
Londres e a minha cidade, o meu mundo, a minha fonte de energia, se eu fosse um girassol Londres seria o meu "sol", se eu fosse uma rua seria Sloane Street, se eu fosse a algum lado ia a Londres, se eu tivesse de abandonar algum lugar de lagrimas de olhos, choraria por Londres, Londres e o meu porto seguro, e a minha Tara qual Scarlett O'Hara decidida a reconquistar o seu Rhett Butler, e o lugar que me acolhe quando lugares lusos me trazem a memoria coisas que prefiro esquecer, a vontade de partir...o medo de voltar.
Mas dizia eu que quase me perdia em divagacoes romanticamente exacerbadas: Vi o Big Ben and the Houses of parliament, Tower bridge, toda a zona financeira da capital, London eye com luzes fluorescentes, o Tamisa que me acenava corajosamente lambendo as suas varias pontes transbordantes de autocarros vermelhos que circulam por rotundas de tamanhho de caricas, e vi as luzes neon de Piccadilly...London is my Zion!
Fonte de cultura e diversidades, arrufos e memorias futuras, palacios frente a edificios colossais, e Harvey Nichols, motoristas de mau humor, muffin de chocolate servido por italianos simpaticos, sao conversas que se ouvem sobre doenca bipolar e tumores malignos, sao risos de criancas brancas e louras com impermeaveis amarelos (porque ca faz frio em Julho).
Londres e magia feita realidade, e em Londres que fica o flat que vou arrendar, o jardim nas traseiras onde vou ver os meus filhos crescer, e o balouco entre arvores onde os vou adormecer, e a vontade de ir mais alem, e a griff ao lado do pedinte de viola na mao entoando drogadamente "stairway to Heaven", Londres e onde me encontro sempre que me acho perdida, e a reconciliacao comigo mesma, e a inspiracao nascente na ponta dos dedos, no fio da navalha, nos rios de sangue que esvaziam o coracao e enchem a alma, nos anjos que olham para o outro lado, nas horas do dia feliz, no abracar de maos que deixamos de dar.
6 de Julho, Londres
(quanto a acentuacao, pouco posso fazer, os igleses nao os usam, e os teclados dos computadores nao fogem a regra)

sábado, julho 05, 2008

Gosto do Verão, gosto dele sim.

Gosto do Verão. O Verão é o momento da fruta fresca, molhada e sumarenta a escorrer na saliva dos sentidos. É tempo quente, em corpo húmido. Gosto do Verão. Gosto do som das crianças a brincar na rua até à hora de jantar, as mães à janela a gritar aos filhos que se metam na banheira. Gosto de me encostar na soleira da porta da varanda a respirar o ar quente vindo do sul, o vento nos cabelos, o arrepio da pele, a ausência do toque. Gosto da promessa que o Verão traz acorrentada, a da correria à beira mar, as promessas feitas em areia salgada de amar, a vontade de ver e falar, a decisão de fugir para não sentir... disso não gosto, mas é Verão. Gosto do Verão, do sabor a gelado de baunilha partilhado como quem revela um sonho, gosto de acreditar que a vida sendo curta é cheia e feita de momentos eternos, sim sinto-me eterna: eternizemos as manhãs laranjas de Verão, os quartos escuros, os lençois que não cobrem. Correr como quem adormece nos braços fortes de alguém, sonhar para apaziguar, descobrir as pequenas coisas, recordar as velhas, ah felicidade parva ganha com esforço e perdida num ápice, maldito remoinho verbal, e malditas palavras que não expressam sentimentos, apenas verdades invisíveis para quem não deseja ver, porque cegamente quer acreditar. Eu acreditei, acredito. Gosto do Verão. Gosto de chocolate frio, manteiga mole em pão fresco, gosto de olhar, olhar sempre, erradicar a fome, tocar a derme flutuante, saborear o cheiro humano, gosto do Verão. Gosto de trocar de roupa na praia, não usar a "parte de cima", fugir das ondas do mar porque a “água está gelada”, gosto de.... de pensar que a guerra terminou, que perdi a maioria das batalhas, que cortei, dilacerei e empalei seres odiosos, gosto de me ver sair vituriosa, subir ao Olimpo, acenar ao povo e descansar no leito marmóreo, e vê-lo chegar fingindo que durmo para ser falsamente acordada, secretamente desvendada, desalinhada, uma mão que se fecha, um tronco que se enche, um peito que inflama, uma luz subtil e esquecida, um suspiro profundo, um ritmo furtivamente calmo, a saudade que teima, a perda que aumenta, o ódio que não sinto, a verdade? Gosto do Verão, gosto dele sim. Um ciclo que se fecha. Uma princesa sem príncepe e que reclama pela sua aurora. Gosto do Verão, gosto dele sim.