quarta-feira, dezembro 29, 2010

N.ó.s

E agora??!!?

sábado, dezembro 18, 2010

Pavanne - Orlando

sábado, dezembro 11, 2010

Porque o coração não sabe ler

Naquela manhã nascida num dia cinzento-água coberto de sombra enovoada havia um quarto, e desse quarto ecoava a ideia de um sono meio profundo, meio sonhado, meio por acordar. As gotículas de água cristalina estariam possivelmente à espreita com os seus olhos fugidios por entre as persianas das janelas fechadas que continham todo um ar quente bafejado de súor, gesto e agressão feita leveza.
A noite era já uma memória, um rasto deixado entre lençóis, um caminho trilhado e um novo por trilhar, um golpe de espada, um toque ao de leve na pele arrepiada, as teclas do piano que iam deixando fugir uma melodia que só duas e duas pessoas conseguiam escutar. Digam-nos para párar, ensinem-nos a esconder, libertem-nos dos nossos medos, façam as nossas asas crescer. Vão embora e deixem-me a mim ficar no para sempre no quarto, no quarto onde os violinos não soam para que uma melodia mais bela possa ser escutada.
Ao acordar, a acção prosseguiu, o momento aprisionado libertou-se e escorreu pelos poros, esvaiu-se entre lençois, um relâmpago mudo abafado por uma mão, um romper da carne contraída, um corropio de imagens, olhos fechados, olhos abertos, vermelho fogo, luz, dois.
Uma lição foi aprendida na manhã nascida do dia cinzento- água, a lição de que o tempo é uma benção e que nenhum dia pode ser desperdiçado, nenhum dia é desprovido de beleza, nenhum momento por mais breve que seja... nenhum momento pode ser dado como trivial, nenhum momento pode jamais ser roubado ao tempo que ecoa de dentro de nós, de um para o outro numa linguagem sem palavras porque as palavras às vezes fogem para os lugares do nosso coração, os lugares sem som, e assim escrevo: Gosto muito de ti, escrevo porque o coração não sabe ler.

sexta-feira, dezembro 03, 2010

A ave

Subir, subir o mais possível sem temer a queda livre.
Rejeitar o baixo voo e o seu constante contacto com a erva verdejante e orvalhada, que pela sua frescura nos afasta do que há ainda por descobrir.
Optar por coisas mundanas, palpáveis, que fazem da gravidade algo trivial, da maçã um bocejo e de um abraço um manto quente e protector.
Rejeitar o voo rastejante que pouco dá para pouco receber, e que amealha restos de seres que há muito deixaram de respirar.
Abrir as janelas para deixar entrar a brisa, o vento, a folia, os pássaros, os soldadinhos de chumbo, o tilintar das chávenas, o aroma do chá, os sinais, o tudo que não é pouco, não é, não.
Ousar um voo mais alto, talvez uma ave com asas mais esguias, uma ave curiosa que não é controlada pela passagem das estações, uma ave solitária que ruma em direcção ao Sol, esteja ele vivo durante 12 ou 6 horas, as que forem...são as suficientes.
Assim começa um novo ciclo, repleto de chcolate e arco íris sorridentes, abertos e coloridos, um novo ciclo em época de luzes, deuses e monstros amáveis.
Algo que termina, algo que começa, rodopia sobre si mesmo, uma coroa de flores feita luz, nada tímida, nada presa, nada fugidia porque não sente as correntes.
A ave voa por cada vez mais tempo, para cada vez mais longe, regressando sempre. Ela regressa. O mundo gira. Estrelas. Pontes. Flores. Cartões. Dias. Bruma. Rio. Poema. Sussurro. Sono pesado. A ave regressa sempre.

segunda-feira, novembro 29, 2010

sábado, novembro 06, 2010

Incrível

A Vida é tão divertida. É incrível como só me apercebo isso de vez em quando, e nesse "de vez em quando" me alegro tão vivamente e me arrependo momentaneamente por todos os momentos infelizes.
É mesmo incrível, como o tempo passa, e enquanto passa as coisas tranformam-se, toldam um universo cada vez mais particular, melhoram a nossa percepção, as coisas passam a sonhos, os sonhos a objectivos e os objectivos a sorrisos perpetuados nas nossas pequenas grandes conquistas.
E nisto não há margem para deixarmos de ser aquilo que queremos ser, que sempre fomos e que devemos ser para sempre, se deixarmos de o ser, é porque nada sabemos sobre nós próprios, como se diz por aí...aquele que em nada acredita, deixa-se ir pelo quer que seja.
Os erros são apenas incentivos para que aprendamos a ser nós mesmos. É para isso que servem, tal como os problemas, não servem para nos perturbar ou arreliar, não nos tiram anos de vida, pelo contrário devolvem coisas que achámos perdidas, fornecem ferramentas intuitivas, puxam pela nossa criatividade, ensinam-nos que sem eles somos meros blocos repetitivos nas forma e no conteúdo.
A Vida é divertida. Mostra-nos o nosso potencial dos modos mais curiosos. Retira-nos o tapete que dorme a nossos pés para nos revelar todo um chão brilhante que podemos pisar, que é macio e deslizante e que nos leva para lugares tão ricos e distantes.
Ah se eu soubesse antes!!! Mas não sabia, é mesmo assim.
Sei que dou tudo o que tenho e ao perder, nunca fico sem nada. Guardo sempre um pouco de mim, em tudo o que possuo, em tudo o que guardo, em todos os meus sonhos, em tudo o que toco, guardo um pouco de mim nas pessoas a quem me ligo diariamente. Nunca me perco porque me conservo totalmente no meu próprio coração. Se me quiserem conhecer terão de chegar a ele, pois só ele me tem por inteira.

domingo, outubro 31, 2010

Amor é o lugar de onde se parte, é o caminho que se trilha e o lugar a que se chega.

Para uns ponto de partida, para outros.. de chegada... isto se forem a tempo, e se não desistirem antes.
De onde se parte afinal? E para onde se pretende ir?
Questiono-me sobre isto sem saber muito bem o porquê. Como se durante o sono profundo sem sonhos fosse assaltada pela dúvida que mais não é energia esvaída a recompor-se.
Talvez Amor.
Será Ele construção, produto final...ou, ponto de partida?
Seja o que for deve ser na mesma proporção partilhado. Creio que o Amor vem antes de tudo, somos produtos de Amor, emanamos Amor pelas pequenas coisas, por nós próprios, amamos ainda antes de nos apercebermos e de constatarmos por palavras. Amor. Para mim, ponto de partida para algo em construção, uma aura crescente.
Esperar por amar, não é amar verdadeiramente, é simples sujeição. Para uns o Amor sente-se logo ao início, para outros o Amor é um objectivo. O Amor não se conquista, não se rouba, não se perde, não se ilude, não se vende, não se consubstancia em corpo, não se ganha, não se vitimiza, não se cansa, não se desgasta com o tempo, não colide com ideais, não.
O Amor engradece, ecoa, brilha, acolhe, perfura e liberta, sente-se na brisa do vento, na língua húmida, no bater do coração, no sorriso de uma criança, num miar de um gato, num abraço em noite de tempestade. O Amor cresce na perda, na mudança, na dor, na luta, o Amor dissolve as diferenças, o Amor é aquele momento perpetuado em câmara lenta, que com a brisa acelera o passo e se transforma no caleidoscópio dos nossos sentidos.
O amor pede apenas coerência, entre o que se diz, o que se escreve e o que se faz.
O amor pede coragem.
O amor pede menos do que aquilo que dá. E se for difícil dar, então é porque não se trata de Amor.
Amor é o lugar de onde se parte, é o caminho que se trilha e o lugar a que se chega.

domingo, outubro 24, 2010

Embalada

...pelo som da melodia feita batida do meu coração, coração que é meu, meu e de mais ninguém. Pensamento livre, livre como o pássaro que voa sem destino, sem estação de ano, sem vento, sem fome, pássaro que voa porque quer voar, porque tem asas e porque pode voar.
Apoderar-me da fome que se transforma em calor e que mata o frio no peito sedento de novo sangue. Sem muito fazer, a não ser tudo aquilo que me parecia mais coerente com o sentimento acorrentado à vontade de não despir a minha alma, porque sem ela nada seria...prossigo.
Consciente de que tudo em meu redor, nunca é presente, o presente é um instante que no final desta frase já terminou. Vivo o passado como quem atravessa um corredor remodelado pelas memórias da minha mente, estantes de conhecimento, de lágrimas e sorrisos, pilares de harmonias, de súores frios, de línguas quentes, quadros pintados a aguarela, lágrimas que não chorei, planta que não cresceu, sorte que tive em perder, porque ao perder sei que ganhei.
Que chegue o futuro no final da próxima frase, momento prestes a ecoar por entre cortinas, como as ondas do mar que recortam as rochas duras, cinzentas e em mudança eterna. Sejamos essas rochas, vivamos em constante mudança como elas, deixemos para trás as pégadas na areia que o mar tratará de desfazer, abracemos o céu estrelado, o beijo do sol ao mar pela manhã, o início do dia, do dia da nossa vida.
Da minha vida.

quarta-feira, setembro 15, 2010

Outono

O verão está a morrer. Está a despedir-se depressa demais. Não sentem? Não concordam, ainda ontem parecia estar tão presente. Será que foi alguma coisa que fiz e ele agora está a vingar-se, partindo repentinamente. Mau este Verão, ser vil e sem coração. Que fazer? Prosseguir, com ou sem o ar quente dos meses do meio ano, e não menosprezar aquilo que os que ainda estão para vir me podem oferecer.

Tardes calmas, aninhadas na manta ao sofá. Chá, e bebidas quentes horas frias, refeições reconfortantes, matinés em que adormecemos antes do filme terminar, o enroscar do gato no nosso colo. Aquele frio ao acordar e que nos empurra ainda mais fundo entre os cobertores, aquela vontade que falta uns dias e que teima em ser forte nos outros. A de ficar, ali toda uma manhã.

Noites frias com vidros embaciados, revisitar de momentos puros, nostalgias anciãs, a memória de aniversários remediados, de festividades felizes, de surpresas simples.

Outono que aí vem, folhas amareladas e quebradiças estendidas no chão feitas manto de retalhos, retalhos que teimam em permanecer quietos e murchos, tal como alguns corações, ternos, adormecidos, expectantes, sombrios, em sobressalto, corações descompassados e que precisam de ganhar ritmo, um novo bater, um bater esperançado, um bater feliz, um bater disposto e prosseguir, um bater majestoso e desejoso de mais, apenas um pouco mais.

terça-feira, agosto 24, 2010

A memória

É um corte abrupto na carne, bem no centro. São fios a rebentar por não conter a força do movimento de dentro para fora, arde uma luz que na sua própria aura consome o que resta do corpo dormente. Uma dor tão forte que dá ideia de que o coração quer abrir caminho pelas costas, não temos asas e agora não temos coração. O ar deixa de entrar. Fechamos os olhos e quando os voltam0s a abrir, está tudo igual, tudo menos o coração que permanece fora do corpo, e o ar que não entra por ele a dentro. Decidimos sair em busca do Sol e voltar para casa sabendo que não o encontrámos e sentir bem lá no fundo que não o vimos, porque ele saiu também à nossa procura. Assim se gera o apaziguamento doce e que se vai instalando calmo e feliz clamando por Liberdade, aí sabemos que temos de buscar o nosso próprio Sol. A memória permite acesso a coisas extraodinárias, relembra-nos do que queremos que fique e do que queremos que vá, que fiquem os mapas nos nossos corpos, as manchas nas nossas almas, os olhares tão cheios de vida, o gosto do gosto de outros, o resto que vá. A memória relembra-nos que há dor, que se olharmos para a ferida dói mais, ganha vida. A memória permite-nos abrir todas as portas que se fecharam, permite-nos correr até que nos faltem as forças até àquilo que queremos, a memória busca-nos quando nos esqueçemos dela. A memória é intruiguista e ávida de conquistas, e quase tão bela... Isso faz dela invejosa, a memória gostava de ser corpo como nós, sentir dor, alegria, prazer e toque humano, mas a memória não pode, é mera escrava do ar que envolve tempo que já foi.

quinta-feira, agosto 12, 2010

Deveres

Devemos correr atrás do que queremos. Devemos sempre prestar atenção ao que nos rodeia, a quem nos rodeia e a quem rodeamos. Devemos perdermo-nos para nos voltar a encontrar. Devemos deixar sempre a porta entreberta para que os fantasmas percebam que não os tememos. Devemos repetir sempre aquilo que já sabemos que o outro sabe. Devemos deixar que as oportunidades não escorram por entre os nossos dedos. Devemos partilhar o pouco que temos, para que o pouco se transforme em algo grandioso. Devemos morrer se queremos renascer, sem deixar morrer o calor que emana do nosso coração acorrentado à carne fria. Devemos beber do suór da Lua, cantar com as lágrimas secas do Sol, maravilharmo-nos com o odor das estrelas em noite escura e quente, devemos fechar os olhos para assim vermos toda a uma vida. Devemos contemplar o Vazio que sentimos engrandecer-se na derrota dos nossos actos. Devemos deixar o Vazio instalar-se, comprazer-se na nossa dor, deixá-lo mais um pouco. Devemos apelar às forças que já não acreditamos ter, alimentá-las do que de bom ainda possuimos, pegar na espada da Vitória e despedaçar o Vazio, deixá-lo ir com a brisa fresca da saudade e sair vitorioso no seu lugar. Devemos partir, se nunca abandonarmos o nosso lugar. Devemos ficar, se nunca tivermos vontade de partir.

domingo, agosto 01, 2010

A Vida parece ter vontade própria

Sabem quando vos apetece fugir, esquecer, relativizar, simplificar, esconder de tudo e todos com a máscara de um sorriso escavada na mais dura rocha na encosta da solidão? Sabem quando se tenta apagar da memória, mesmo que temporariamente, os bons momentos vividos, as alegrias partilhadas, os sorrisos cúmplices, os despertares felizes... e tentamos e tentamos, em vão... Parece que estamos a produzir uma imitação da vida, uma forma desesperada de não sentimento, de não desejo, de não cumprimento do dever, de esquecimento. Um rio que não desagua em mar algum... E eis que a Vida ganha força, mais uma vez, e parece ter vontade própria, esbofeteia-nos, diz que nos portámos mal, que estamos a fugir de algo que está dentro de nós e que ecoa numa sombra pesada. A sombra é nossa prisioneira, ou nós dela. E eis que a Vida ganha força, força como a do corpo enraivecido, força como a lágrima que escorre sem poder ser contida, força como a do vento em noite de tempestade, força como a da entrada de um corpo no outro num balanço terno, força como a das amarras do passado, força como a da sombra que rouba a luz do nosso dia, força como a do espaço da palavra escrita porque não a posso proferir de viva voz, força como a da alma que acredita que a sua carne se unirá a ela uma vez mais. E eis que a vida me faz deparar com isto...e eu lembro tudo outra vez...é a Vida. "Um beijo teu é como água salgada, quanto mais se bebe...mais sede se tem." Drummond de Andrade

segunda-feira, julho 26, 2010

Hoje odiei o mundo por duas vezes

Desde o dia 15 de Junho que odeio o mundo. Faço sempre o mesmo caminho em direcção ao meu trabalho e o mesmo para regressar a casa ou a outro sítio qualquer. Tem dias em que odeio o mundo. Desde o dia 15 que ao mesmo tempo que me encaminho para o escritório vejo um homem velho, de cabelo e barba branca, com sacos de plástico numa ou em ambas as mãos. Nas mãos cheias que me parecem vazias. Mas só as mãos parecem vazias, olho-o sempre revoltada e fico triste, não sei o que lhe aconteceu, o que fez ou o que lhe fizeram. Não sei como e quantas pessoas magoou, não sei se mentiu, se maltratou, se roubou ou se matou sequer. Juro que não sei. Não lhe conheço a voz, nem a morada. Só vejo com o meu olhar entristecido que procura o olhar triste dele, e nesta procura terna de vidas fugidias fico sem saber porque odeio o mundo e por ele nada consigo sentir. Apenas sei do que vejo, e quando o vejo, olho-o a ver se me olha, procuro-lhe a íris mas ele olha sempre o chão e nunca as pessoas de frente, não sei se por vergonha, se por medo. Ele não me olha, e tem dias em que acho que se o conseguisse encontrar com o meu olhar que lhe conseguiria ler a alma e dizer-lhe sem palavras que não tem que fugir das pessoas. Um dia se o vir sentado no banco do jardim frente à igreja como também já o cheguei a ver, vou falar com ele. Devia tê-lo já feito. Hoje vi-o a caminho do emprego e a caminho de casa. Hoje vi-o duas vezes. Hoje odiei o mundo por duas vezes. E hoje não o consigo esquecer.

domingo, julho 18, 2010

Entre as linhas

poemas que se escrevem e que jamais serão lidos. Há cores inventadas e que jamais impregnarão uma tela. Há lugares do coração que nos esquecemos de procurar. Há medos que por mais que combatamos não se esgotam ao nascer do dia. Há verdades imensas, valiosas, donas da Humanidade. Há coisas que gostaríamos que fossem fáceis, e só o são se assim o quisermos verdadeiramente. Há partes de nós que são estilhaços que nos cortam a nós e aos outros. Há palavras que não queremos vir a precisar de dizer. Há caminhos que não queremos percorrer. Há que percorrê-los, a pé, a voar, contigo, por ti, ou apenas para te alcançar. Há sentimentos que se alojam nas encostas da nossa alma, tal como as rochas tumulares nas praias fazem alterar a morfologia do mundo. Há coisas que quando nos imaginamos sem, fazem com que o reino dos nossos sentidos se desmorone. Ritmo. Obra. Devaneio. Revelação. Inimaginável. Gesto. Obrigatório. Há o verso curto e há a composição escrita. As entrelinhas que foram inventadas para que consigamos descobrir o que deixou de ser visível, as frases feitas para nos redimir, e...as mesmas, capazes de nos condenar.

domingo, julho 11, 2010

É bom...

É bom quando chegamos, sentir que foi como se nunca tivéssemos partido! Também gosto da sensação de partir, e nesse mesmo momento vislumbrar a minha chegada. Por melhor que seja o motivo da ida, só é de facto bom, se tivermos uma razão ainda melhor para regressar. Sempre vi assim as minhas viagens. Fui sempre na intenção de voltar. Houve apenas uma vez que não o desejava, queria lá ficar, nem sei bem porquê...estava a gostar por demais da novidade e a achar que aqui no lugar onde tinha de ficar não tinha grandes coisas para fazer, a não ser continuar a aprender um pouco sobre tudo e nunca muito sobre coisa alguma. "Adolescentes" diz a irmã!! Mas a verdade é que voltei. No ano seguinte regressei pela mesma altura, os planos foram alterados à última da hora, peguei em mim, comprei um bilhete e meti-me no avião, queria desaparecer...mesmo que fosse só por 10 dias, mesmo sabendo que o longe é sempre perto demais. Voltei tristíssima por sair de lá, foi uma verdadeira tortura, mas voltei. Alterada. Tomei decisões, mudei tudo, desisti do que havia a desistir e formulei uma recuperação: nos entretantos fui celebrando a vida! Desde então a viagem que fiz foi por aqui mesmo, a do ano passado não conta...e este ano também não prevejo nenhuma no horizonte! Viajarei nos sonhos, que vou trilhar por entre caminhos feitos em chão de pedra dourada coberta por todo um manto feito de retalhos de alegria e cheiro a moringa. Além dos sonhos, viajarei com as palavras, nos intervalos dos esforços laborais, nas noites quentes e abafadas de Verão, nas manhãs cheias de esperança e frescura, nos entardeceres calmos e abraçados, sim o entardecer é capaz de nos abraçar: normalmente é nesse momento que o nosso coração se deixa inflamar.

sábado, julho 03, 2010

Manifesto ao Prazer

Creio que preciso de descodificar o prazer. Afinal o que é isso de "prazer". Sei sentir, mas não sei explicar. Não sei se coloque a questão em termos físicos, ou siga outro rumo que desemboque numa ressonância magnética à alma. O prazer poderá ser dor? Acho que sim. Pode gerar ou ser gerado por ela. Deveriam ser antagónicos, mas vejo-os um ao lado do outro, de mãos dadas. Porém, e é aqui que entra a grande questão: o prazer proporciona felicidade. Andamos todos à procura de ser felizes, mas dou por mim a olhar para isto tudo e a crer que procuramos de maneira errada. É como se a felicidade fosse uma meta e não todo o chão que pisamos até chegar a ela...A felicidade meus caros é algo que está sempre connosco, dentro de nós, e para onde quer que vamos, a felicidade está em nós, é tudo aquilo que somos, o que de bom nos alegrou e o que de mau nos fez mudar, mudar para melhor. Sejamos independentes e encontraremos forma de dar a quem precisar de receber. Talvez a questão à qual não quero responder seja "És feliz?", mas sim "Podes ser ainda mais feliz?", prefiro responder à segunda questão. E eis que me lembro do prazer, e nas suas variações, o prazer na dor como já mencionei, o prazer como escape, o prazer como manifestação sensorial dos nossos sentimento, ( a sensação de sentir...jamais esquecerei isso), o prazer como resultado explosivo do afecto que sentimos por alguém, o prazer em dar, o prazer de receber, o prazer da carne pura e dura, o prazer na vontade que se gera entre duas pessoas sem que precisem de fazer uma pergunta que seja, o prazer de um simples acordar silencioso, porém majestoso em gestos, o prazer de ouvir a voz de alguém de quem se gosta e que nos faz falta, o prazer em achar que há muito para fazer, por isso o que está feito se feito com prazer não precisa de qualquer recriminação. O prazer. Sintam-no, mas não façam dele um sedativo, não vejam no prazer uma sensação momentânea, um escape para os problemas da vida, problemas sempre teremos, resolvemos uns e logo surgem outros, com o prazer é a mesma coisa, deixamos de ter prazer numas coisas para ter noutras, e o mesmo com as pessoas, e o mesmo com as cores, e o mesmo com a felicidade, hoje sou feliz, mas amanhã quero ser mais!

domingo, junho 27, 2010

É de noite que os deuses descem à Terra dos Sonhos

Às vezes sinto que o dia presente, será o último dia em que usarei palavras.
Normalmente adormeço com esse pensamento. Durante a noite algo de mágico acontece. É como se me despedisse milhares de vezes de alguém, e no dia seguinte ele voltasse a aparecer na minha vida. Ao acordar, as palavras estão já deitadas a meu lado leves e sorridentes. De noite costumam acontecer coisas mágicas, os deuses descem à terra e ofertam-nos com os seus encantos, mas fiquem atentos, porque os deuses são caprichosos. É de noite que os deuses descem à terra dos sonhos. Pairam sobre nós, sussuram-nos palavras doces e tornam os nossos sonhos em matéria. Afinal de que são feitos os sonhos? Hei-de morrer sem saber a resposta, apenas a posso imaginar.
Imaginar e depois escrever, sendo que escrever nada mais é que reviver um momento que já não se repete, apenas o podemos voltar a imaginar, tentar decifrar pedaços da nossa existência e criar laços a partir daí. Laços que quando dados e depois recolhidos no fio da memória nos arrancam sosrrisos rasgados. É assim, doce e frenético...o sonho, o momento que se sonha. O meu último sonho foi uma realidade. Estava meia que a dormir, mas sem dormir verdadeiramente, digamos que estava naquele momento em que internamente travamos uma batalha entre vontade e necessidade, que nem sempre são a mesma coisa, mas quando são, é de facto um momento maravilhoso. E meia que a dormir, era chamada ao meu mundo por uma voz, ela estava ali colada ao meu ouvido, como que um zumbido, fazendo com que a necessidade fosse rebaixada pelo desejo, porque eu desejava ficar acordada durante horas. De repente, o zumbido tornou-se um grito, a distância que eu imaginava encurtou-se, e senti a adrenalina nos minutos que antecediam a abertura dos presentes no Natal quando era pequena. Saltei da cama, juro que saltei da cama para ver com os meu próprios olhos aquilo que os meus ouvidos me diziam. Não era mentira. A melhor prenda, pele com pele, voz com voz, toque com toque, sentir algo a crescer, o mundo poderia começar a arder nesse preciso momento que não daria conta, será que ardeu? Parece que parou de girar, ou então começou a girar mais depressa que nunca. A noite envolta tornou-se madrugada, os deuses por ali, sobre nós, por entre, de dentro para fora, entrando e saindo. Os deuses só nos deixaram quando afugentados pelos primeiros raios de sol. Para nossa sorte, nós ficámos, por uma vez, completamente a sós.

sábado, junho 26, 2010

Afinal do que é que não gosto

Ora aqui está um tema importante. Do que é que não se gosta...podemos não saber ao certo do que é que gostamos, mas é realmente importante sabermos aquilo de que não gostamos, digamos que é um atalho, que hoje em dia parece que "não há tempo a perder"!
Não gosto da palavra "não": parvoíce eu sei, mas não gosto de a usar, e muito menos de começar frases como acabei de fazer com a presente...também já não a vou apagar, não vou não. Note-se que além de não gostar de começar frases com esta palavra, também não gosto de as terminar. Onde é que ia eu..ah pois bem, do que é que não gosto...Não gosto de favas. Não gosto de enguias, vivas ou cozinhadas. Não gosto de não ter nada para fazer. Não gosto de ter coisas por fazer. Não gosto que me caia a pele, como me está a cair neste preciso momento. Não gosto que me batam na nuca. Não gosto quando tenho a certeza que pus uma coisa num sítio e quando lá vou cadê da coisa. Não gosto de Saramago, tenho muita pena que tenha falecido, mas não gosto do que escreve, como escreve e muito menos da entoação que dá (dava) às palavras quando falava. Não gosto da morte, da minha e dos que amo. Não gosto do cheiro do milho cozido. Não gosto de sapatos lindos de morrer, caros como o raio co parta e que magoam como se não houvesse amanhã. Não gosto quando os filmes que quero ver no cinema demoram para lá de três meses a estrear no Cinema. Não gosto de não ter imaginação para mais, e por isso mesmo escrever que nem uma idiota sobre as coisas que não gosto. Não gosto de iogurtes em que misturamos os cereais. Não gosto do preço das malas Louis Vuitton. Não gosto de música (muito) clássica. Não gosto de Tony Carreira, mas não é por mal, juro. Não gosto de falsas modéstias. Não gosto de meninas púdicas. Não gosto de meninos gays e que nem sequer gostam de outros meninos. Não gosto de "dominar" sobre um assunto. Não gosto de acordar tarde. Não gosto quando quero muito uma coisa e ela nunca mais chega. Não gosto quando me apetece comer alguma coisa e não percebo o que é. Não gosto de banana, nem de polvo, e de galinha que sabe a cânfora. Não gosto de "performances", nem "Arte" contemporânea que envolva acrílicos, saliva, pregos e guardanapos sujos. Não gosto de guardar segredos, mas guardo 'tá? Não gosto quando me quero explicar e as palavras vão a correr na direcção da outra pessoa antes de eu me aperceber e quando dou por mim já vou tarde. Não gosto daqueles dias depois do Natal em que rebolamos de casa em casa, e depois ainda nos sentimos cheios e temos de saltar e dançar muito, e pedir desejos na noite do ano novo (mas gosto do beijo que se dá à meia noite, embora nunca tenha dado nenhum ;). Não gosto que estraguem surpresas. Não gosto quando o ipod fica sem bateria e não tenho o cabo USB por perto. Não gosto quando tenho o nome da canção na ponta da língua e a filha da p*** não sai cá para fora. Não gosto quando no Telejornal dizem "as imagens que se seguem podem ferir a sensibilidades dos teleespectadores"...e mesmo assim mostram. Não gosto quando cortam a minha música na rádio com Publicidade. Não gosto de ver maratonas de séries em casa, como se não houvesse uma vida para viver, seja em casa, na cama, encostada à parede, ou até mesmo no supermercado a comprar sacos do lixo. De que é que não gosto mais...deixa cá ver...pois da guerra, da corrupção, da maldade, de doenças para as quais não há uma cura. Não gosto de perder, coisas e pessoas que amo. Não gosto de ser deixada para trás, não gosto de sentir frio, não gosto quando bato com o dedo mindinho no pé da mesa, não gosto quando mordo a língua e deita sangue pois, não gosto mesmo nada disso. E enfim, há mais coisas que não gosto, e possivelmente são muito parecidas com as que vocês não gostam, portanto este texto é ridiculamente fora de qualquer propósito e em nada vos vai enriquecer após a sua leitura. Não me odeiem, vá está bem só um bocadinho assim para o pequenino.

domingo, junho 20, 2010

Respiro entre Vento e Aguarela

(fotograma do filme, E tudo o ventou levou, 1939)
"Mais. Por favor."
Transbordo de sensações. Misto de embaraço e avidez, numa aparente calma movediça. Palavra como cor de aguarela aguada, ténue e translúcida.
E se a chuva vier? E se a impiedosa chuva vier e fazer desaparecer a aguarela da face da Terra. E se a chuva vier? Como é que se anda erguido debaixo da chuva? Aliás como se protege a aguarela para que não se misturem as cores?
Respiro. Por um pouco. A tela ainda ali está, a aguarela é que teima em secar.
E se fechar os olhos, por um momento que seja...será que o momento se esvai?
Abro as janelas para que a brise entre, se chegue a ela e num abraço fresco a faça secar mais depressa. O abraço descai num longo beijo entre apaixonados, o Vento e a Aguarela.
Respiro. Respiro mais uma vez. Nem sempre é fácil respirar, teima em sair, o ar amedrontado, mas mais não é possível. Respiro.
Gota de suór deslizante, entre os fios que definem os corpos. Respiro. Páro. Recomeço. Um respirar solenemente prolongado. E depois há aquilo que não se vê, que não se mostra, que não se materializa, a agurela não penetra. Respiro em pequenas doses enquanto o momento não chega.
Vento forte, capaz de destruir. Mas o vento é também elíxir quando chega em boa hora. A aguarela espera pelo vento, que é capaz de vaguear pelo mundo enquanto ela fica húmida e fresca entranhando-se na mais bela tela que quiseram pintar.
( E só escrevo porque ao escrever, respiro.)

sexta-feira, junho 18, 2010

Pessoas

Algumas gostam de sorrir. Outras de chorar a rir, outras preferem chorar antes e rir depois.
Pessoas grandes, pequenas, altas, magras, daqui e dali, viajantes do ar, da terra e do mar. Sonhadoras convictas ou idelistas inertes. Pessoas que gostam de pessoas. Pessoas que gostam de comunicar, de agradecer, de fazer sorrir. Pessoas que não temem, que vão em frente. Pessoas que sofrem, que já sofreram e mesmo assim não desistem, por saberem que o bom do sofrimento é que este termina eventualmente. Pessoas que dançam sem música. Pessoas com o dom de tocar um instrumento, ou de tocar alguém. Pessoas que antecipam, outras que se esquecem do que está para vir. Pessoas que deixam outras para trás. Pessoas que esmagam outras, pessoas que não pensam nos outros. Pessoas de quem gostamos. Pessoas com quem nos cruzamos, pessoas que nos cedem a passagem, pessoas que se aproveitam da nossa passagem pela vida delas. Pessoas que largamos, pessoas com quem vibramos. Pessoas a quem fazemos confissões, pessoas que esquecemos de nos lembrar. Pessoas que jamais esquecemos, outras que nunca nos esquecem quando delas já nada queremos saber. Pessoas que matam a fome que as atormenta com sabores de outros mundos, com sons de outros universos. Pessoas com sensibilidade, pessoas que nos abraçam, que nos sentem, que entram em nós e não queremos que deixem de se entranhar nos nossos poros.
Pessoas como tu.
Pessoas como eu.

domingo, junho 13, 2010

Passarinho na gaiola!

"Disseste-me tu!" Sinto as grades, as asas presas e o espelho que reflecte a imagem que não apetece admirar. A prisão que esgota, suga a energia, e cola as asas à carne que não se vê. E dentro da gaiola há o pauzinho suspenso por dois fios feitos de arame que o transformam num balouço, sinto o arrepio do balanço, o medo de cair...mas não caio, eu devia cair. Não percebo..eu devia cair. Uma coisa é não querer, outra é não poder, um coisa é ser, outra é algo que não sei o que é. Quero voar, pode ser baixo, naquele voo tangente ao solo que por timidez roça na ponta da erva orvalhada que arrepia a barriga ao toque, mas quero voar. Mas não consigo cair primeiro. Não rasga, não corrói, não verga, não expulsa, o que entra fica e não sai. Não corre, não parte, não estica, o que respira transpira e não molha. Bate as asas passarinho, que o gato está a ver-te por entre as grades da gaiola.

sábado, junho 05, 2010

A um passo da Eternidade

Já se deram conta da imensidão da vida que já se esvaiu?
Já se sentiram abençoados tamanha é a felicidade que contém o vosso coração, transbordando para lá da linha do Horizonte, desafiando a lógica, a convenção,... a normalidade.
Às vezes damos por nós a pensar que nunca somos os eleitos, que são sempre os outros os primeiros, que a nossa vez tarda sempre, mas depois quando chega sentimo-nos lisongeados, vingados, glorificados.
As dúvidas deixam de ser dúvidas porque a noite as desfaz na brisa da madrugada.
O quente do corpo ao nosso lado, adornece a nossa alma de sonhos felizes como que em catadulpa, a brisa instala-se, permanece, vibra e nós quietos, abraçados, respirando ao ritmo do mesmo compasso binário.
E tudo isto num encosto de peitos apertados um contra o outro, num jogo dançante que de calmo se torna cheio de movimentos e avidez, de sussurros e olhos que quando fechados vêem toda a realidade. E nesse mesmo encosto que se encaminha para outros lugares, o corpo fala a linguagem dos sentidos, do sentimento mais primário. As línguas secam de sede, os dedos das mãos tentam sentir vida ao tocarem a superfície do corpo que está à sua frente, ao entrar nele e ficar. As luzes, as sombras, a luz, a sombra, o desejo que encadeia, os olhares cruzam-se na antevisão da sensação frenética que pára e recomeça e que me lembra que estou a um passo da Eternidade.
E depois a calma, a reflexão, a vontade de sorrir, a vontade dar beijos incontáveis, de não arrancar o cheiro que se entranha nos poros, a vontade de não fechar os olhos por recear que aos abrir já lá não estejas, mesmo sabendo que isso não é possível, porque estás, estás mesmo.
O que se segue, o que acontece no dia seguinte...e depois e depois? É a Eternidade pois claro. Que se aninha no nosso dia a dia, que nos faz sentir falta do dia que já foi e do dia que está para vir. A Eternidade é a ideia de que somos capazes juntos, que podemos prosseguir, que a hora seguinte vai ser melhor que as anteriores, que os desafios podem vir que estamos cá para eles. A Eternidade é o espaço que se gera entre nós e que ecoa como um grito silencioso dos nossos corações. E eu espero, o tempo que for preciso.
A Eternidade é o que te dou, e é tudo o que tenho para te dar.

sábado, maio 29, 2010

O Passado é capaz de vos libertar

Olhem para a frente porque para trás não há nada que nos faça avançar. É incrível como por vezes se o usa o passado para não se prosseguir, como se ali, naquele tempo que se foi estivesse a caixa de Pandora capaz de nos fazer felizes (outra vez, como se foi outrora). Tão errado. A vida mais não é que uma sucessão de passados. Uns mais curtos, outros maiores, uns bons, outros errados, uns constantes e uns inundados em mar revolto. Passado é sinónimo de Lição. Presente também. Pensem nisso. Passado é a casa de infância, o cheiro a leite com chocolate e pão com manteiga. Passado é o cheiro do primeiro amor, que é apenas o primeiro dos sortudos que amam muitas vezes porque se entrgam, se deixam ir, e voltam ao mesmo lugar que é a si mesmos, alterados e melhorados. Deixem-se de padrões, construam algo novo, brinquem com a vida, brinquem com os brinquedos que vos são oferecidos pela vida. Amem o passado mas por aquilo que vos foi ofertado e não por aquilo que vos foi retirado, ou por aquilo que não souberam fazer perdurar (se soubessem não deixaria de ser passado). Usem o Passado. Abusem dele. Sintam-no para atingir Liberdade. Sim, o Passado é capaz de vos libertar. Quando libertos, o Presente é mais vivo, mais colorido naquela cor que é transparente de tanta clarividência, aquela que nos permite ver o que éramos e aquilo que conseguimos ser.

domingo, maio 09, 2010

Porque a Felicidade é um Império

E por vezes renunciamos à Felicidade por vaidade.
Por vezes, são vezes demais.
Entretanto chega uma diferente, aquela em que nos deixamos ir...numa doce queda, terna e sem rede por percebermos que a rede mais não é que vaidade camuflada.
Por isso, se estivermos felizes a rede deixa de ser precisa, e se sentirmos a felicidade a rede desaparece para sempre, aquele "sempre" que o nosso olhar conseguir alcançar.
Felicidade um Estado. Felicidade que se torna num Império.
Pausa breve.
Segue-se a sensação de alegria ao contemplar a manhã.
Pausa mais breve e ....
Recomeçar: o corpo insurge-se, move-se numa dança leve contemplada pelas estrelas que nunca estiveram tão perto. O corpo pára, serpenteia, sobe e baixa, reclama o grito abafado, comprime-se num espasmo absoluto e tremulamente quieto.
O corpo permanece, nú, íntimo, endeusado, vibrante, quente, desarmado e sedento do outro. Que fazer?
Abraçá-lo, entregar-me, e trocar-me pelo outro para poder ser livre.
E nisto surgem as palavras..., conheço-as profundamente e opto por não as escrever. Prefiro dizê-las, com a boca, com o olhar, com o ventre firme porém nervoso ao toque dos lábios, digo-o com a respiração ofegante, de cabeça encostada no peito ritmado ao batimento cardíaco naquele compasso binário transformado em caixinha de música. Digo-o com as mãos que se tocam e abraçam por já se conhecerem.
Prefiro dizê-las sonhando com o toque da espuma do mar na ponta dos pés, a espuma feita de aroma a sal que mais não é que a lágrima que cai quando choramos felizes.
Sou tudo o que mudou, alterada, guiada até este ponto, melhorada, e eternizada no Presente.
Gosto de saber que nada do que fiz é fonte de arrependimento, que tudo acontece para me fazer chegar a algum lado, ou a alguém que me destabiliza, me faz confiar na sua presença e me faz sonhar com a ideia de que a sua felicidade mais não é que a visão da minha própria felicidade. E essa felicidade tem a extensão de todo um Império.
E assim vieste... e alteraste tudo o que até hoje sabia... engraçado é que dou por mim a compreender a grande Lição que me dás: a de que sabia tão pouco.
Contudo, isso fica em segredo, mas Tu podes dizer-me aquilo que me costumas dizer, quantas vezes quiseres que eu escutá-las-ei a todas!
E prometo dizer-tas sempre que a minha boca fugir para a verdade.
Tua.
L.

Para a minha amiga

Por tudo o que já dissémos uma à outra.
Por tudo o que já te contei e tu ouviste, aconselhaste e consolaste.
Por tudo o que nos une, nos separa, e nos traz de volta.
Por tudo o que vimos juntas, rimos e voltámos a rir.
Por todos os momentos estranhos, as conversas desconexas e os risos epiléticos.
Por todos os dias que já passei sem ti e que são infinitamente maiores que aqueles que passámos na companhia uma da outra.
Por todas as palavras amigas, de consolo, de gratidão desnecessário.
Por todas as etapas superadas e as que ainda estão por vir.
Por todos os sonhos realizados e aqueles que ainda havemos de sonhar.
Por todas as garfadas juntas para que ficássemos a par uma da outra.
Por todas as perdas, consequências e regressos.
Por todas as desilusões, as injustiças, e as incompreensões.
Por todos os dias de sol, as tardes cálidas e uma de nós algures à espera da outra.
Por todos os momentos nas estações de Metro.
Por todas as vezes que não dissémos "adoro-te", por acharmos que não era preciso.
Por todas as horas, minutos e segundos partilhados.
Por todas as horas, minutos e segundos por partilhar.
Por tudo o que temos e teremos.
Por tudo o que perdeste, eu perdi também.
Por tudo o que eu ganhar, será teu sem pedires.
Por tudo isto e muito mais.
Por tudo o mais que nunca será muito.

domingo, abril 25, 2010

A profetisa das sensações

Vamos tornar os nosso dias menos solitários quando acompanhados. Vamos deixar de abrandar a perseguição dos sonhos que não sabemos revelar. Vamos fazer do medo condição que se mata com beijos ao acordar dados ao acaso por entre os lençóis. Vamos fazer do sorriso fonte inesgotável do espírito físico. Vamos fazer do Amor a Religião mais nobre, mais completa e mais duradoura. Façamos do leito catedral, do lar o confessionário, e do corpo o altar a adorar e refúgio do carinho animal. Vamos ter esperança e fazer dela a bandeira mais vibrante para que seja vista pelos olhos ávidos do Universo. Vamos fazer dos minutos, horas mornas, das horas dias sorridentes e dos dias nascerão anos cada vez mais ricos, cada vez mais frescos e cada vez mais frondosos. Esqueçamos aquele que deixa cair a pedra por orgulho, esqueçamos que já tivémos essa pedra na nossa mão, esqueçemo-la, lembremo-nos da mão que toca, agarra, larga puxa, envolve, amacia, dedilha, controla e deixa-se tocar, agarrar, largar, puxar, envolver, amaciar, dedilhar, controlar e sempre, sempre sentindo. Lembremo-nos da mão, porque quando os olhos já não conseguem ver, a mão sente por eles. A mão lembra-se do que é sentir quando nós achamos que já não o sabemos fazer. A nossa mão sabe o caminho, ela guiar-nos-à qual profetiza das sensações.

Mar

Saudades da praia. Ai que lamento sonhador aquele que sonha com o sentir do primeiro toque da planta do pé em areia fina ou grossa, não importa. Ah que loucura prolongada de prazer pueril, o da frieza do mar que sobe pernas acima, congela o corpo, aviva a memória, e é mordaz no corte que faz na barriga que nos faz esquecer de repirar. A frieza que mesmo assim aquece todo um coração sedento de consolo salgado de amar.
E a criança ama tanto, vai adiante, sobe a montanha amorosa que só ela conhece, toma as rédeas da fera oceânica e sente o frio a sorrir e a gritar como que no "toque e foge". E enquanto criança é assim, depois cresce e tem medo de sentir a frieza do mar, diz "não consigo" e faz caretas, vai entrando devagar, devagar até molhar a cabeça naquele mergulho feito de coragem acobardada.
Sintamos mais uma e uma vez. Sintamos a água gelada e espumosa na pele macia e agora arenosa temperada ao Sol. Percamos o medo da Dor essa maldita criatura que só tem força se a quisermos alimentar.

domingo, abril 18, 2010

A primeira viagem da pequenina

Ela pegava na mão pequena da pequenina e levava-a por entre as ervas finamente verdes. "Já falta pouco, já falta pouco". O caminho era curto, mas por saber que iria culminar numa surpresa parecia longo, interminável, inesgotável. A mão pequena e segura da pequenina escorregava, e a força exercida mesmo pouca, parecia capaz de esmagar a mão da menina, a mão e os sonhos sonhados para ela. O Sol lá no alto mas também longe anunciava uma Primavera fresca e demorada, "o frio já lá vai", agora que venha o quente, o mais quente e o laranja dourado do Verão que se vê nas cearas em trigo.
A menina de perninhas anafadas e baixinhas, fugia por entre uma ou outra flor que teimava em travar-lhe a caminhada, impetuosa e vaidosa como uma flor deve ser. A menina em surdina falava com elas: "não perdem pela demora, alguém virá ainda mais vaidoso que vocês e tirar-vos- à do vosso lugar, a Terra deixará de ser a vossa morada, e o Vento o vosso namorado para a vida.".
A menina parou porque a sua companheira de viagem parou antes dela, a sua guia olhou para o céu, deixando-se ficar a admirar a viagem das andorinhas que por ali se deixavam conduzir....e pensava "gostava de ser como elas, não saber como mas saber sempre para onde ir, mas já falta pouco para mostrar à pequenina as fadas mais mágicas que conheço. Mágicas pela sua cor, pela sua curta existência, e por conseguirem transformar-se em bailarinas sangrentas. Adoro-as...e ela vai adorá-las também quando vir o manto majestoso que prepararam para seu deleite.".
A pequenina estava cansada, farta de andar, as perninhas já trôpegas, a azeda nos lábios, o chapéu de palha com o laço branco que deixava fugir a franja cerrada e os caracóis longos e castanhos escuros, escuros como casco ardido, e brilhantes ao Sol, tal como a Lua brilha quando sobe ao altar nocturno.
Chegadas.
Vivas.
Como sempre devem estar, era isto que a mãe te queria mostrar "Apresento-te as papoilas".

domingo, abril 11, 2010

Escolham as vossas......

Há o doce que se gosta e o salgado que se deseja. A Luz que se adora e a sombra que se teme. Mão para dar e pé para repudiar. Voo picado para controlar e voo contra-picado para nos libertar. Ar para respirar e Terra para pisar. Veneno que queima e antídoto que refresca. Guerra interior e paz ganha sem esforço. Homem que quer e Mulher que é querida. Absolvição para uns e Pena para outros mais. Há magia no olhar e pragmatismo na concepção. Demagogia para os que não sabem nada de nada e frontalidade para os que sabem antever. Há a palavra que nem sempre se profere e a ideia que não nos abandona o pensamento vigilante. Sopro nocturno e Inspiração matinal. Peça que encaixa e Argumento que a guarda a sete chaves. Cor no acto e "preto e branco" na recordação do mesmo. Há Silêncio para a reflexão e música para a deixar fluir. Há liberdade e comodismo. E depois, há tudo aquilo que queremos que seja. É um história interminável que não se esgota nas frases feitas, nem nas que ficam por contar. Há o pesado que se deixa algures e o leve que levamos no coração. O quente dos dois juntos e o fresco do outro lado da cama. Há a harmonia sentida e a desarrumação controlada. Há o esforço para lá chegar e a leveza do ser que nada precisa fazer. Há o feitiço diário e a descrença que já lá vai. Há o deitar feliz e o acordar ainda mais feliz. Há o verso livre e o texto censurado. Há a película que aprisiona e o digital que engana. Há o sonho e o pesadelo, há o sono leve e a leveza ao acordar. E depois...depois deixa de haver o resto.

sexta-feira, abril 02, 2010

Como que em círculos

Os momentos que escolhemos para sermos felizes, recolhidos na doce contemplação do momento vivido são os que contam. Os que contam são os que recolhidos na doce contemplação do momento vivido, e de facto vivido e latente, cresce fresco mesmo depois de tanto tempo.
Os momentos que escolhemos para sermos felizes são os momentos que podem ter sido bons ou maus: se bons, recordamo-los para sorrir, se maus ,a escolha recai sobre o momento da superação, aquele momento em que reaprendemos a valorizar tudo aquilo que perdeu o devido valor. E é assim, simplesmente assim, fácil, leve e apaziguador. Fácil agora, mais difícil na altura, não fosse o tempo uma corrente de ferro que nunca, nunca se corta.
Tudo nasce do momento da escolha que fazemos sem que disso nos apercebamos, passamos o dia a fazer escolhas, hoje ou amanhã, aqui ou ali, assim ou assim, de lado ou de frente, contigo ou sem ti, sorrindo ou chorando, andando ou a voar, ao acordar ou ao deitar, agora ou daqui a cinco minutos, com manteiga ou queijo fresco, em casa ou na rua, porque sim ou porque não, por mim ou por ti, por nós ou por ninguém.
Perpetuar como que em círculos, fazê-los rodar, rodar com eles e para eles, fazer do violeta a junção do vermelho e azul, rodar com as cores, correr ao vento com elas, respirar o ar que agora é violeta e ontem era cinza, olhar o céu e ver coisas sem fim, ver coisas que ninguém vê, ou talvez veja mas não se atreva a dizer-nos.
Escolhemos o ser, a carne, e o espírito que é tudo menos santo, porque a santidade está no coração e não naquilo em que cremos. Devoramos o que há para devorar, esticamos o tempo concedido pelo som da harpa, vibramos com a imaginação feita acção ritmada, recordamos o dia, a noite, a hora e o minuto, do geral para o particular, do perfil para o sorriso aberto. Recordar, guardar, usar e preservar. Fazer do velho, novo, e tornar o novo nalgo mágico. Questionar e reflectir sobre o valor do abstracto e do concreto. O que vale mais? O que perdura? Será que escolhemos as lições a aprender? Pedir paz e lembrar que a paz começa em nós, no nosso coração e na nossa alma.

sábado, março 27, 2010

d e v a n e i o

Quando penso em "devaneio" lembro-me disto
Mar Adentro Mar adentro, mar adentro. Y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños
se juntan dos volunta
despara cumplir un deseo.
Un beso enciende la vida con un relámpago
y un truenoy en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo,
es como penetrar al centro del universo.
El abrazo más puerily
el más puro de los besos
hasta vernos reducidos
en un único deseo.
Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo,
sin palabras 'más adentro', 'más adentro'
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.
Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto,
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.
Ramón Sampedro

domingo, março 14, 2010

Fogo gelado

Um quente que gela. Uma luz que se une a outra no escuro e que se iluminam em compassos ritmados de tempo, que de tão longo parece curto. Saber que nada se quer desperdiçar, absorver cada poro, cada gota de suór, cada cheiro, entrar na catedral e sentir a magia da contemplação profetizada, sentida, inspirada, realizada, vivida e sorvida. Um calor frio, que arrepia, que junta e afasta os corpos, que os remete para a dança dos sentidos e os faz abraçar numa queda doce e macia. Nisto, nasce a liberdade feita e refeita numa doce manifestação física. Lembramo-nos das coisas que realmente importam e nos faltam, das que nos fazem rir quando o riso é preciso, dos primeiros instantes, da imprevisibilidade da vida, da fruição dos encontros "energéticos" e "vibrantes", das horas que passam depressa demais quando o tempo parece querer fugir, da hora que termina e adormecemos aninhados para as aproveitar melhor. Porque tudo o que é bom acaba, e assim damos-lhes mais valor e queremos mais, mais e mais, como se o "mais" fosse humanamente impossível. (Porém, nunca o é) Querer o toque astuto, a língua ávida, o sopro uivante, o gesto majestoso, o elogio marcante e não temer o silêncio, não temer o silêncio que se gera entre os seres no intervalo das horas, quando o dia começa!

quinta-feira, março 11, 2010

Estás-me nos dedos

Esta noite estou sozinha.
É estranho. Dou por mim a achar que ainda é cedo para estar sozinha, como se o tempo tivesse alguma coisa a ver com isto, e como se o ponteiro me contasse ao ouvido algo mais que as horas.
Sinto-me alterada, o silêncio incomoda-me porque não há risos que não os meus, não há o cheiro e o toque aos quais me tenho vindo a habituar sem esforço algum. Não há, e eu queria. Porém consigo escutar o arrepio, não o sinto de momento, mas escuto-o.
Pareço uma criança mimada a quem foi roubado um doce, e eu mulher menina sem doce acho-me meio perdida no quarto escuro porque fui posta de castigo.
A parte mais poética de tudo isto é que não há mal nenhum em sentir o que escrevo, mal nenhum porque estás-me nos dedos.
A parte mais luminosa de tudo isto é que estes dias mostram-nos que os outros foram tão bons e que muitos outros virão.
A parte gloriosa de tudo isto é que damos aquilo que queremos e não aquilo que podemos e se assim for é porque está tudo bem.
A parte verdadeira de tudo isto é que foi bom, muito bom, e há algo ainda melhor por descobrir!
A parte encantada de tudo isto é que hoje adormeço ao som de uma voz que não está a meu lado.

sexta-feira, março 05, 2010

"Daqui à Eternidade"

"Quantas horas tem a Eternidade?", perguntaram uma vez.
Quererá a resposta dizer que é para sempre, ou isso não passará de mero consolo inversamente ambicioso?
As horas que vivemos são as únicas que realmente valem, as dos outros, não nos servem, não as percebemos, não as queremos, as dos outros não, só as nossas importam.
Olhamos sempre para trás, na tentativa de apreender, e deixar de fazer o uso da repetição, colhendo os frutos que achamos preciosos para que de futuro tudo seja diferente...eterno.
O mundo é assim: passado, presente, futuro. O passado é História, documento, folha ardida, feito irremediável. O presente é cor, consciência consciente, aquilo que interessa. O futuro, nem devemos pensar no seu significado, porque não o tem, o futuro é aquilo que nunca chegamos a experienciar. Só o presente é vivido em pleno. E só os "pequenos nadas" são capazes de preencher cada minuto.
Claro está que, na maioria das horas conscientes, não nos lembramos delas, o acordar de mau humor, a leitura do livro de cabeceira, o toque dos dedos no pêlo no animal de estimação, aquele beijo roubado na noite chuvosa, aquela gargalhada, aquele olhar, aquela aquisição, aquele desabafo, aquele sorriso da menina desconhecida, aquele minúsculo momento irrepetitível. So nos lembramos deles no dia seguinte, é a memória que imortaliza, não o tempo em si.
A partir do momento em que algo é dado como facto, é já parte integrante do passado, deixou de ser futuro e no presente deixou apenas um rasto para ser caprichosamete seguido, como aquelas pegadas na areia molhada da praia no toque e foge das ondas mais azuis espumadas.
Já fugiram das vossas sombras, ou já as tentaram apanhar? Quando fugimos delas, as sombras são o passado que clama do outro lado. Se as tentarmos alcançar elas transformam-se no futuro: nunca as alcançamos, nunca astocamos, desconhecemos o seu cheiro, a sua composição, nem cara para esbofetear ou acariciar têm...é assim que vivem as sombras.
Só o presente tem cor, porque o passado costuma ser a preto e branco e o futuro é brilhante demais para ser aprisionado pela íris.

terça-feira, março 02, 2010

De génio

A juventude é uma coisa maravilhosa. Que pena desperdiçá-la em jovens.
Bernard Shaw, (1856- 1950)

sábado, fevereiro 27, 2010

Quando alguém morre

Às vezes as pessoas vão embora e nunca mais as voltamos a ver. Decidem ir. Nem sempre acontece apenas porque não nos voltamos a encontrar neste pequeno grande mundo, acontece apenas porque algumas pessoas deixam de o pisar e nós continuamos por cá. Assim de repente. Não há concolações, nem memórias que as tragam de volta, não há a memória trazida pelo seu cheiro, e tudo o que nos deixam de nada nos serve, fica só o vazio, e o vazio toma conta do espaço. Podemos ter estado, ou não, muito ligados ao que se foi , podemos até nem ter passado muito tempo com essas pessoas, mas a partir do momento em que morrem, nós ficamos, e só as vemos quando fechamos os olhos. Eu lembro-me de ti. Quando te conheci nunca pensei que um dia deixaria de te ver. É algo em que não pensamos quando conhecemos alguém, normalmente só começamos a pensar nisso momentos mais tarde. Foi já há algum tempo, e o tempo passa depressa. Nunca fomos amigos regulares, nem conhecidos ausentes, estávamos sempre próximos por um motivo ou outro, uma ponte a ruir aqui e outra a surgir ali. Nunca te vi da outra margem do rio (ou talvez sim), nunca partilhámos uma sandes mista (ou talvez sim), nunca te mandei uma mensagem às 6 e meia da manhã (ou talvez sim), nunca te disse que "o Amor é coisa de adultos" (ou talvez sim), nunca te vi a tratar mal alguém (não, isso nunca vi). As coisas que nunca fizémos jamais as iremos fazer, as coisas que me perguntaste, bem essas a partir de agora só te posso responder se for à tua morada eterna, tamanha parvoíce, e sabes que eu deixei de gostar de cemitérios, escrevo então, nunca me lerás, mas também não me lias quando respiravas. Foste embora, eu fiquei, na hora em que foste, muitas outras pessoas foram também, e muitas mais ficaram, não sei se me alegre ou se me entristeça por isso. Não me apetece sorrir ou chorar por ti, tenho fome mas perdi o apetite. Também não te fui dizer adeus, estive contigo dias antes, disseste que estava tudo bem, e eu acreditei, não escutei para lá do que disseste, espero que nesse dia ainda não soubesses que ia ser um dos últimos dias da tua vida. Porque se já sabias, então é melhor que quando for a minha vez de morrer tu me desapareças da frente.

Uma noite como esta

Será mesmo assim?
Tão fácil partir... e voltar. Pode ser tudo imaginação, tudo fruto fresco, maduro e sumarento desta minha mente sedenta de cor e calor, pode ser sim, mas não quero saber, sigo em frente, como sempre, sem ponderar as consequências. Acho que sou a pessoa mais irresponsável que conheço, a melhor conselheira dos outros, a pior para mim mesma, não quero saber, deixei de querer saber. Ontem disseram-me assim "gostar, gostamos disto e daquilo", parece que não gostamos das pessoas, das pessoas queremos, sentimos e fazemos outras coisas. Precisamos, queremo-las perto de nós, queremos sabê-las por perto, queremo-las inconscientes e precisamos da ideia de que precisamos das pessoas para nos mantermos sãos. Ontem à noite apercebi-me disso, estou sã, sorri e deitei-me para o outro lado, olhei-te e não te contemplei mais. Morre-se assim, e nasce-se também. Foi numa noite como esta, sem querer, sem pedir sinais, sem pedir nada de nada nem ninguém. Eu ainda acredito na magia, na vida, nas promessas mudas, no sangue que corre vibrante, eu ainda acredito que há um tempo para tudo, eu ainda acredito na dignidade dos gestos, eu ainda acredito que um carinho deve ser puro, um toque desejado, e a dor criou-se para ser esquecida ao deitar. Esqueçamos o passado, já lá vai, a ferida já não sai, pode ser ultrapassada, sim, claro que sim, mas jamais será o mesmo, se mais ninguém souber...eu saberei sempre. Eu acredito na magia, e no espaço que se cria entre os seres, eu acredito que esta chuva vai terminar e que nada mudará só por ela terminar. Nunca imaginei sentir isto assim tão de repente, trocar as posições das coisas, tomar consciência tão facilmente que transmito medo e admiração, que não me consigo resignar e baixar os braços.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Entretenimento

Estão sempre a dizer-nos que precisamos de ter cuidado.
Cuidado com o que comemos, com o que não comemos e devíamos comer, com o que comemos demais e aquilo que comemos de menos. Segue-se depois o que se bebe...o que se bebe em excesso, e o que nos passa ao lado. Depois há que ter cuidado, com quem se anda, com que deixámos de andar, com quem andamos e nos faz mal, com os que não andamos e até nos fazem muito bem. Seguem-se os avisos, os que ouvimos e não damos cavaco, os que ignoramos prontamente "não é uma questão de não conseguires, mas sim uma questão de não quereres". Depois há os dias em que estamos receptivos e os outros em que não. Os que acordamos com um sorriso estampada na cara, e os em que nos dá uma súbita vontade de assassinar meia população do sítio onde estamos a morar. (Felizmente essa sensação tende a desvancer-se com o passar das horas)...o mesmo não acontece com os problemas.
Porém, há solução para eles: primeiro passo é o diagnóstico, depois a prescrição de tratamento, segue-se o tratamento em si e a fase mais complicada de todas: aprender a viver sem o problema.
Às vezes acho a vida simples demais, arranjamos os problemas para nos entretermos!

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Juro pela minha saúde

que quando este Inverno terminar vou a Fátima, de joelhos.
Mesmo que não o faça fisicamente, lá estará o meu espírito viajante e cristão.
Parece que hoje é Carnaval e apetece-me tanto brincar como engolir pregos. Fico em casa por agora, mas saí cedo hoje, fui dar uma volta, tudo fechado, um frio de me cortar a franja, e eu odeio andar encasacada e anafada. Regressei sem tema de conversa porque o gato ainda fala muito mas escuta pouco, e sem tema de escrita. Achei que seria uma boa ideia encontrar uma piada sobre o carnaval, mas a única coisa que me lembro é que está um frio levado da breca e as meninas a desfilar que nem baianas devem estar com os mamilos duros de frio...coitadas das meninas...espero que sofram e vão para a terra delas que é mais quentinho.
Porém, farei programa de tarde, estou a pensar no quê e com quem...fizeram-me um convite e estou quase que a aceitar, mas só se cozinharem para mim. Ah é verdade, também me irritei hoje porque queimei a língua a beber capuccino e só depois me lembrei que já não tenho gelado no congelador para travar a dor. Opá...claro que poderia ir ali ao supermercado comprar, mas sabem como é quando estas coisas acontecem, chegar lá, escolher e pagar, trazer para casa e sacar da colher para o devorar..até lá passa-me a vontade e a dor.
Já vos aconteceu certamente e sabem como é, ou se tem logo o que se quer, ou então depois já não vale a pena que é retardado. O bom é haver sempre barras de chocolate no armário e gelado no congelador, e estar ali à mão de semear..é para isso que servem as listas de compra, para que nada do que realmente importa nunca faltar em casa.
É Carnaval e depois???

Muse: Endlessly (live@Wembley 2003)

Lá terei de os voltar a ver e ouvir!

domingo, fevereiro 14, 2010

Adaptações

Comprei-o na Quinta à tarde e comecei a ler. Fui dormir à noite e li um pouco mais de manhã. De tarde fui ver o filme, foi como se me tivessem esmurrado durante duas horas. A minha amiga sentiu o mesmo. Precious é demasiado forte, realista e profundo. Porém convém ser visto, porque há coisas assim ... que merecem o nosso respeito. Terminei Push na mesma tarde.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Who's Gonna Save My Soul

Sim Gnarls Barkley! Sou devota :) (não é a minha canção preferida, mas amoooo o vídeo)

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

A Single Man

mais este (só me falta encontrar a banda sonora)

'Shutter Island'

Mais um...

'Precious'

esta semana esgoto o meu cartão UCI...

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Quero mais

Quero mais um pouco de tudo, porque pedir pouco deixou fazer sentido. O "sentido" nasceu da nossa vontade em ver uma razão para tudo, e a razão é coisa da nossa cabeça e nada mais.
A razão é ela a apaixonada do coração, que bate intenso e apressado por ela. O que o coração não sabe é que a cabeça não nasceu para amar, a cabeça nasceu para viver na ilusão do pensamento.
Quero mais. Quero mais sinais e ter o desejo de não os evitar.
Quero mais Sol, mais e mais. Quero-o para o poder partilhar com o resto do mundo.
Quero mais, exijo mais. Quero carne arrancada da barriga da perna como que em possessão pelos deuses em rituais antigos e vibrantes.
Quero visões, aparições, ousar o absurdo. Quero mais sonhos, mais mãos, mais chamas incadescentes, mais gelo escorrendo do pescoço até ao ventre. Quero venenos mortais, terra vermelha e morna, línguas presas e cativas. Quero mais, sem ter de esperar por nada, meter o Tudo num saco e levá-lo comigo. Quero acordar às 5 da manhã, sair de casa e percorrer a floresta lá do fundo. Quero ouvir o grito gentil das árvores, e o bater das asas dos pássaros sonâmbulos. Quero deixar de ter frio. Quero nevoeiro, saber a que cheira, onde nasce e onde se dissipa para dar espaço ao ar. O nevoeiro sufoca. E eu deixei de o querer.
Quero mais, de ti, de mim. Quero mais fome, mais sede, mais espaço, mais caixas escondidas por debaixo da cama. Quero mais imagens, fortes, tão fortes como aquela imortalizada pela íris cansada. Quero espelhos longos e por partir. Quero mais e não quero dar, só receber. Quero ser o que sou, e não ter que me preocupar com isso. Quero viver para morrer, mas sem a parte "do morrer". Quero ter asas infinitas, alvas e finas. Quero descer dos céus nas primeiras horas da madrugada, acariciar os cabelos de alguém como quem toca violino com a crina de um cavalo, e voltar ao céu nas primeira horas da amanhã. Quero mais. Quero depois acordar e agir como mortal. Quero a minha amiga, aquela e a outra. Quero-te a ti, a mim, sem te ter, e sem me teres tu a mim. Quero mais. Quero mais. Quero mais. Gelo. Fogo. Suór. Arrepio.

domingo, fevereiro 07, 2010

Atonement - Briony ♪

(O único óscar que este filme ganhou foi o de Melhor banda sonora) Dario Marianelli transforma brilhantemente para notas musicais as palavras da história de Atonement, e este tema é só o início da viagem. Leiam o livro e depois vejam o filme, o resultado é espantoso, porque Atonement é dos poucos casos em que a adaptação de romance a Cinema é excelentemente conseguida!

Recomendadíssimo

Coisas genias podemos ver no cinema numa chuvosa tarde de Domingo!
Esta "coisa" é prova disso, e não está na corrida aos óscares o que por si é já uma coisa de louvar num ano que são 10 os filmes nomeados! Felizmente nós sabemos que uma não nomeação a óscar é muitas vezes presságio de algo muito bom de assistir. Há coisas assim...

sábado, fevereiro 06, 2010

Sombra pesada II

Desta vez é diferente. Digo-o e repito-o vezes sem conta a mim mesma. Da primeira vez foi novidade. A segunda deveu-se à saudade. A terceira considero um "tira teimas". Só pode ser isso. Não há nada que una as linhas desta esfera desenhada no papel já ardido. A noite já não era nova, o chão estava para lá de frio e senti-o com os meus pés decalços, e a casa escura aguardava a sombra pesada. Definiu-se um sorriso nos meus lábios aquando da sua aparição. Sabendo do erro, do equívoco e tendo o poder de a fazer desaparecer, decidi recebê-la de braços abertos. Num aperto sôfrego, os corpos flutuaram pelo espaço envolvente, descobrindo o que já conheciam, aventurando-se por entre aquilo que o tempo recente havia tentado apagar. Acabou tal como começou. Não foi recordar, não foi reviver, não foi amar. Os dias passaram, e passam sempre. A vida seguiu o rumo. Os estranhos continuaram a estranhar-se regularmente. Novos projectos, novas caminhadas, novos programas, novos desentendimentos, novos procedimentos, novo mês, e pensar "não me estás na cabeça". Vazio? Nem por isso, preenchimento total. Novo aproximamento, "porque não?". Porque sim manifesto. Que fazer ao corpo se já não tem alma? Faz-se uma opção. Optar às vezes custa, no meu caso nem tanto. Opto deliberadamente. Vejo o único monte no meio do nada e embato nele com agrado. Sei o que quero, o que preciso, o que gosto. Há também um penhasco bem frente a mim, antevejo a queda, já me sinto a flutuar, mas ainda não sinto a dor do choque. Quando o sentir será terrestre e audível. Já comecei a preparar o terreno. Todos nós sabemos que nos vamos magoar, até lá é aproveitar ao máximo a adrenalina da queda! É bom quando volta a ter e poder fazer o que se quer. A sombra pesada é assim.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Vamos a parar com a chuva 'tá?

Já não posso mais com as gotas de água que continuam a cair do céu, ele fica tão mais bonito quando está azul brilhante e majestoso....bem vou iniciar a compilação dos meus textos que já devia ter começado ontem, mas a minha glândula levou a dela avante...é hoje....a ver se o meu novo projecto segue em frente. É hora.

sábado, janeiro 30, 2010

RJD2 - Ghostwriter

E isto faz-me lembrar "Prime" e a minha tarde fica ocupada =)

'The Ghost Writer' Trailer HD

(e agora lembrei-me da música)....Roman Polanski o dono da sobriedade!

"A experiência"

Ainda não tinha sentido o entusiasmo suficiente para me debruçar sobre Avatar. Não me entusiasmei com a aparição dos primeiros trailers, não me entusiasmei com as notícias massivas e os disparos dos media sobre o Box Office, não me entusiasmei por se tratar de um sonho imaginado por James Cameron durante 10 anos, e não me entusiasmei quando finalmente me sentei numa cadeira e pus uns óculos escuros lente 3D para ver uma imagem definida porém com cores menos bonitas caso optasse por visioná-lo sem o auxílio do objecto.
Que dizer sobre Avatar? Bem não se trata bem de Cinema, e a palavra "experiência" para falar deste filme cansa-me os neurónio cinéfilos. Cinema é isso mesmo, entusiasmo, vibração, coisas que mexem connosco, como que num caleidoscópio de sensações...sabem quando não estão muito entusiasmados com algo e depois têm uma grande desilusão? Bem, não foi isso que senti por Avatar, sabem quando não "estão nem aí" e depois são surpreendidos grandemente pela obra? Também não foi o caso. Saí da sala exactamente como de lá entrei.
Não posso negar tratar-se de uma coisa extremamente bem feita, extremamente rica e extremamente bem vendida, mas falta a chama da vida, por mais que queira os bonecos azuis não me convenem e se nomearem a Zoe Saldana a Óscar terei de me auto-flagelar com a agulha da anestesia que vou levar na próxima semana. Trata-se da crição de um Universo imaginário extraodinário, mas não é arrebatador...lembram-se da adrenalina sentida ao verem pela primeira vez Blade Runner ( sem nunca esquecer o Metropolis) ? Ou até mesmo, Jurassic Park...ou até mesmo o Rei Leão...? Esses sim possuem planos picados de tirar o fôlego, inovam, emocionam: praticam Cinema. Deixemos a experiência. Muitos sabem que defendo, qual leoa defende os seus petizes, Steven Spielberg: faz de tudo, cria tudo, inova em tudo, faz Comédia, Drama, filma a guerra, e faz ficção científica, podemos escolher qualquer um dos filmes, e qualquer um deles mostra algo de novo.
James Cameron é a mente por detrás de uma das minhas sagas preferidas, Alien, mas ver no seu novíssimo filme uma Sigourney Weaver a fazer lembrar a valentona Ripley é suplício a mais...por isso termino este texto com a ideia da "experiência" que em nada me emociona. Avatar está visto e duvido que o volte a ver, vou aguardar antes pelo próximo do Spielberg ;)