sexta-feira, janeiro 27, 2012

À procura de ideias

Quando as ideias fogem, não há nada fazer, a nao ser esperar. Normalmente as fujonas das ideias revoltam-se e somem do mapa, evaporam-se e nós achamos que estamos a ser tramados!

Quando tal acontece - bem sei que é irritante - não há nada fazer, a não ser esperar. Normalmente as ideias revoltam-se e desaparecem, chamem-nas de sentimentais, e assim podem contar com cerca de uma semana, até voltarem a avistá-las.

Normalmente quando temos de ter uma ideia, e há muitos momentos na vida assim, pensamos de tal forma que tudo nos parece amorfo e sem conteúdo. Por isso mais vale, deixar ir. Pura e simplesmente, deixar de pensar, que as ideias regressam num momento de pleno vazio, refeitas e com os seus caprichos devidamente saciados.

Eu ou faço isso, ou seja, nao penso em nada ou penso em tudo. Mas faça o que fizer, costumo fazer acompanhar-me de comida, ou entao de um plano majestoso para uma refeiçao!

Escolho a esplanada, o melhor ângulo na mesa, peço leite com café, ou seja, uma galão quente e bem claro, e lambo torradas quando o coração não me pede o aconchego de um pão-de-Deus ou de uma boa fatia de bolo de chocolate.

Tem dias em que a inspiração vem, e com ela as ideias fazem-me debitar palavras nas folhas, tem outros em que risco e rabisco, mais do que escrevo, e nesses dias costumo sentir-me como uma pessoa com muito pouco para dizer ao mundo!

Porém, às vezes obrigam-nos a ter mais e mais ideias, e encurtam-nos os prazos, nessas vezes tenho de me obrigar, e podia dizer que fico exausta, mas não é bem assim que me sinto. É mais um misto entre obrigação e alegria, ansiedade e contentamento por ver (finalmente) a folha repleta e a maquete elaborada.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Pensa pequena, pensa.

Os raios de sol penetravam as horas do dia que ainda ia a meio. Da janela avistava pessoas minúsculas que andavam rapidamente para fugir do frio, e pombos que se ajustavam ao passeio. A chávena de café libertava vapor que embaciava o vidro da janela e criava uma penumbra mortal que se desvanecia pouco depois.
Os dedos que tocavam a chávena aqueciam o resto do corpo e a franja teimava em desfigurar a paisagem com laivos morenos a pairar pelo ar. Pensava numa forma de criar o que estava por criar. Num momento antecipado, sonhou um futuro, com viagens, risos e experiências. Viu flores e o recheio de um bolo. Imaginou nomes, e viu-se perdida numa tempestade. Num momento fatídico, pensou na dor, e na alegria transbordante, no cheiro a pés de bebés, e numa sesta cálida. Há coisas que se fazem descaradamente, outras que se disfarçam, ou simplesmente não são proferidas, esta é uma delas. Navegar por águas mais tumultuosas por gosto, criar rugas de riso, alimentar a esperança com dias de plenitude. Transbordar de orgulho pelo que se sente, por aquilo a que se é fiel, e por saber que a luz de dias como este não se vão jamais extinguir.

terça-feira, janeiro 17, 2012

E uma vida é tudo o que precisamos

Só temos uma vida.
A verdade é essa.
Uma vida, em que podemos chorar, rir, entrar, partir, governar, chamar, sentir, beijar, comer, vestir, sair, limpar, fugir, escrever, desejar, cuidar, morder, vingar, e tantas outras coisas, tantas como a existência de verbos no infinitivo, em português, ou em qualquer língua à volta do Globo.
A vida que temos, deve ser estimada. Não é curta o suficiente, nem longa o desejado para que consigamos preencher todas as lacunas, ou realizar todos os sonhos que balançam na rede do nosso coração.
Às vezes enganamo-nos a nós próprios, erramos quer seja por imaturidade ou por teimosia, brincamos com os sentimentos de alguém ou deixamos que alguém brinque com o nosso brinquedo. Felizmente, em determinado momento das nossas vidas, percebemos da enormidade do palácio que tentamos edificar. Maior que nós, lado a lado com a nossa alma. Há sempre aquele momento em que sentimos que lá por falharmos uma vez, não quer dizer que falhemos sempre.
Teremos sempre as nossas amigas e amigos, aqueles que amamos, os lugares que deixámos de procurar mas que lembramos com saudade, as palavras que vagueiam na nossa mente à espera de serem proferidas.
Os nossos corações vão partir-se e vamos tentar ser poetisas, vamos olhar para as nossas mãe e repetir para nós mesmas, que os mesmos erros não se vão repetir, vamos acordar manhã após manhã e achar que há algo que não faz sentido nenhum.
Haverá sempre a possibilidade de tentar, se não for à primeira, será à segunda, ou à terceira, o importante é sabermos que fizémos tudo o que estava ao nosso alcance.
E sorriam, há motivos maravilhosos para sorrir nos dias que correm. Encontrem-nos! Façam-nos! Desejem-nos! Sejam bravos. Eu estou a tentar sê-lo também!

Vem aí

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Vou contar-vos uma história

Ele chega meio trémulo de xícara e pastel de nata nas mãos, e desvia cuidadosamente a louça deixada por alguém na mesa onde se vai sentar. O senhor pensa melhor, e hesita entre deixá-la lá ou transportá-la até ao balcão para que fiquem em fila de espera para o duche de torneira na cozinha.
Ele tem já poucos cabelos, e os poucos são brancos, parecem neve, uma neve doce e sábia. De blaser com quatro botões de punho dourados, e aliança na mão direita, puxa dos jornais e senta-se frente a eles para os folhear.
Ela chega entretanto. Escolhe umas revistas e diz que vai pedir um cafézinho para fazer companhia ao seu garoto «bem escuro». Ele sorri, meio perdido nas frases que vai lendo mas sem nunca tirar os olhos das páginas, e apenas interrompe a leitura para retirar do bolso a sua pequena carteira dos trocos fazendo espalhar as folhas do jornal no chão. A senhora levanta-se devagar e maternalmente, ou seja, sem pestanejar e levanta-as do chão, como se as trouxesse de volta à vida. Os dois vão trocando magras palavras, sem nunca se enxergar. Cada um para seu lado, ela com as suas pérolas ao pescoço, ele com os seus óculos bem juntos aos olhos.
Conheceram-se numa festa de Faculdade. Ela tinha muitos pretendentes, ele muita vontade de dançar com ela, e de a beijar num segundo encontro! A vida não foi fácil, mas o casamento trouxe crianças para alegrar a casa, e agora é aos netos que compete essa feliz missão.
Ela desvia atenção da revista, mexe no brinco da orelha esquerda: sinal de que pensa no que vai ser o jantar desta noite, ou apenas se lembra da juventude. Questiono-me muito, se as pessoas mais velhas passam muito do seu tempo a pensar nos anos que já lá vão...
Antigamente, ela costumava fazer-lhe uma carne no forno, a sua preferida! E ele desdobrava-se em elogios que a enchiam de orgulho por fazê-lo um esposo dedicado.
A leitura fica em dia e ela ajuda-o a levantar, ele devolve os jornais e lembra-se que tem de ir à casa de banho. Ela aguarda-o pacientemente. Passam quase dez minutos, e ele regressa finalmente. A sua esposa, devota e amada ajuda-o a vestir o casaco e a colocar o cachecol. Estão tão perto de mim que sinto a aragem própria do movimento a mover-me os cabelos.
Eu fico ali sentada, como se nada fosse, continuo a ler enquanto o meu leite esfria tal como os scones que o acompanham. Fico com vontade de ir ter com eles e dizer-lhe que gosto muito deles, mas deixo-me ficar. Imagino-os a regressar juntos a casa, de mãos dadas, e a dar um beijinho de boa-noite agora mesmo. Não lhes disse que gostava muito deles, mas digo-o a vocês.

terça-feira, janeiro 03, 2012