domingo, novembro 03, 2013

O Preço de Arthur Miller


Tem sido difícil a vida do Teatro Aberto. É incrível como um corpo de artistas empenhados em fazer do público português, um público mais culto porque mais conhecedor, esteja sempre em pontas dos pés com medo de fechar.

Brecht tem sido muito "bem tratado" por ali, com grandes encenadores e actores a trazer de volta um dos maiores nomes do Teatro do mundo.


Desta vez, tive o prazer de ver Arthur Miller homenageado por um brilhante quarteto de actores que através da visão de Vera Sampayo de Lemos me fez lembrar a grandiosidade do talento de Arthur Miller.

O preço é uma peça sobre fantasmas, sobre a passagem do tempo no seio de uma família com segredos e mágoas que os anos não souberam desfazer.


Após a morte do pai, dois irmãos voltam a encontrar-se dezasseis anos depois para desocupar a casa que foi palco das suas infâncias e adolescências. Estamos em 1968. Nova Iorque sofreu vários acontecimentos, estamos na era do descartável e das casas pequenas. Tudo é caro e tudo tem um preço. Um velho avaliador chega à casa para lhes fazer o seu preço pelo recheio da mesma, mas o processo demora mais que o esperado, e é esse processo a que assistimos ao longo de noventa minutos, numa peça que começa antes de começar (quando o público entra na sala para se sentar no seu lugar, uma das personagens "vagueia" pela casa recordando-se de velhos momentos e alegrias) deixando-nos entrar no seu mundo.

E se tudo tem um preço, tudo é fruto de escolhas. Arthur Miller é ágil na sua construção dramática, revelando pouco (a pouco e pouco) num rodopio de palavras que guardam memórias que aguardam o confronto final. O que fez e não fez, o que era um dever, para quem, porquê?

A magia do Teatro está na sua intemporalidade, os temas debatidos em O preço são temas de sempre, como a esperança e a compreensão do ser humano e as obstruções à nossa capacidade individual de escolher. Neste caso, Arthur Miller explora o modo como as dependências familiares nos fazem preferir a rotina à verdade e como podemos empenhar a nossa vida ao acreditarmos que não tivemos escolha.

Bem haja, aos actores António Fonseca, João Perry, Marco Delgado e São José Correia pela sua coragem e a Vera Sampayo de Lemos pela gestão dos seus talentos.

E como diria o Mestre: Maybe all one can do is hope to end up with the right regrets.

E atenção que O Preço só está em cena até dia 17 de novembro.



ESPECTÁCULOS
4ª a sábado às 21h30
Domingo às 16h


FICHA ARTÍSTICA
 
Versão João Lourenço | Vera San Payo de Lemos

Dramaturgia Vera San Payo de Lemos

Encenação e Luz João Lourenço
Cenário António Casimiro | João Lourenço
Figurinos Dino Alves
Supervisão audiovisual Nuno Neves

Com António FonsecaJoão Perry | Marco DelgadoSão José Correia



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