sábado, novembro 09, 2013

Eu, tu e um aquecedor a óleo

Há frases que parecem tiradas de um livro.

                                       Katharine Hepburn, Cary Grant e Baby em Bringing Up Baby, 1938

Esta parece uma delas. Imagino-a feita cena de filme, gravada num único take, o take perfeito para um filme que trata as coisas pelos nomes e que não receia os aplausos mudos da crítica.

"Tu, a Miuccia e um aquecedor a óleo." Foi assim que ele a proferiu, no quarto que ainda está para ter um candeeiro de tecto, o mesmo quarto que escuro que tantas palavras ouviu trocadas ao amanhecer e anoitecer de cada dia que passou.

Ele disse aquelas palavras, e eu vi um filme, um filme diferente. Troquei a gata por ele, e imaginei-me velha, jeitosa, mas velha, sentadinha na cadeira de verga, com uma manta nas pernas e uma chávena de chá ao lado. Os gatos aos nossos pés e a televisão ligada a passar um filme dos anos 30, quando as comédias eram escritas para fazer com que as pessoas se esquecessem dos problemas que tinham vida.

A cena está gravada na minha cabeça. Agora temos ar condicionado (Ámen). Por quanto tempo não sabemos que a vida não está fácil e ninguém morre por abdicar de um bafo quente.

Eu, tu e um aquecedor a óleo, deste-me o nome para algo, eu só ainda não sei bem o quê...

Sem comentários: