sábado, abril 18, 2009

Manual das Coisas

Acredito em três coisas. Nas pequenas, nas triviais e nas essênciais. Não imagino "vida" sem uma destas categorias. Claro que a palavra "vida" vê o seu valor moldado consoante o ser que a gere e a palavra "coisa" também não vem ajudar em nada. Para uns, a vida é uma coisa dada como adqurida, para outros é uma questão meramente circunstancial, há ainda outros que a vêem como um mero somatório de dias, e outros materializam-na...outros vivem! Viver é fácil, não se trata de viver bem ou mal, porque praticamos mais ou menos desporto, porque consumimos mais ou menos carne de vaca, porque gastamos mais ou menos luz, nada disso, viver é tudo o resto, é tudo aquilo em que não pensamos. O que pode acontecer, é não se viver, ponto. Daí que precisemos do manual das três coisas básicas anunciadas no topo. As pequenas coisas são isso mesmo, pequenas, e sempre à espera de serem notadas, "pequenos nadas", ninharias, são uns trocos esquecidos numa mala de viagem, uma frase que dissémos e a qual ainda alguém se lembra, é uma pequena flor deixada no alpendre, é um crepe com chocolate, é um email ridículo escrito à pressa a alguém que está a ter um mau dia. São pequenas, porém com tamanho suficiente para não nos deixarem esquecer que temos um passado e que a memória é um reino que tem tanto de encantado como de misterioso, tão cheio e tão vazio, tão eterno e tão recente. As coisas essênciais, são as que nos deixam ligadas a quem realmente somos, são as que nos fornecem as coordenadas espaciais para que não nos percamos algures no meio da multidão, são coisas como o ainda nos compadecermos com um idoso sem abrigo no metro, é o ainda mudarmos de canal quando anunciam imagens chocontes de um homem morto a tiro no telejornal, é o redordar-nos da nossa mãe quando passa uma senhora que use o mesmo perfume que ela, é termos lágrimas nos olhos quando nos lembramos do primeiro dia do nosso cão na nossa casa, são coisas como estas que nos permitem perceber que ainda estamos em contacto com o que realmente interessa. E finalmente as coisas triviais, que nos complementam, são parte de nós, não são essênciais mas também não são pequenas, têm valor consoante a nossa consideração por eles, é como a pessoa pela qual nos apaixonamos, é importante? Claro que sim, mas não é o mais importante, a vida é mais cinzenta sem elas? É pois, mas podemos colori-la com outras coisas aqui e ali, é como os sapatos que escolhemos no Verão e no Outono, são como os cogumelos que preferimos frecos aos enlatados, são como as flores que escolhemos para termos em casa ou para oferecer, é como quando eu escolho pôr ou não rímel. As coisas triviais, são bestiais, porque complemetam e definem-nos no dia a dia. E claro que não comparo a pessoa de quem gostamos a cogumelos enlatados, mas a verdade é que comidos os cogumelos fica a cor réstea do seu aroma e a espera pela pessoa querida encurtada, e eis que ela chega! Sim gosto de coisas, pequenas, essênciais ou triviais!

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