"As pessoas andam doidas deve de ser do vento de Leste."
Assim dizia Raimunda ao longo do novíssimo Volver, uma deliciosa comédia a meu ver, com um toque primaveril de cor e elegância popular.
Almodóvar trata o feminino como ninguém, talvez como Valentino desenha os seus vestidos, Almodóvar filma a mulher em toda a sua esplendorosa simplicidade, que por mais carregada que seja a maquilhagem, por mais garrida que seja a cor do top, por mais justa que seja a saia não conseguimos deixar de pensar que não há beleza maior que uma silhueta feminina, seja ela gorda ou magra, de bata e touca no cabelo, de camisa de dormir, de bata de hopsital, não interessa é sempre bela, singular, envolvente.
A estória de Volver é tal como o nome indica, uma estória sobre o regresso, "voltar" ao pasasdo, à aldeia, à familia, à dor, à morte...trata o drama (ou a comédia consoante a perspectiva) de um percurso familiar e de todos segredos por detrás de um incêndio de Verão.
O emebelezamento final é fruto de diálogos simples e quase folclóricos, olhares trocados, e uma cova à beira rio que encerra um ciclo, ou fecha a aresta de um quadrado.
Almodóvar deixa-se levar por argumentos sólidos, e deixa o resto nas mãos do seu elenco, dirige-os como ninguém, quase que conseguimos ver Almodóvar atrás de Penélope Cruz sussurrando-lhe como dizer esta ou outra frase, como se baixar para elegentemente esfregar o chão onde se deu um homícidio ou até mesmo como dar a ver ao espectador uma sensação, como se se pudesse ver uma sensação, como se a sensação fizesse parte do domínio visual.
Abandonei a sala contente e motivada, o que nem sempre me acontece por me deixar levar pela magia do cinema, normalmente fico pensativa, mas desta vez algo de diferente se passou, uma magia maior tomou conta da minha consciência tantas vezes inconsciente, uma magia espanhola, gritante, mordaz...porque a morte não tem de ser necessariamente o fim, às vezes trata-se apenas de um intervalo, uma necessidade: "morrer para o mundo" e Volver (voltar) quando ele ganha a capacidade de nos poder acolher de novo.
Há pouco tempo li algures que Portugal candidatava "Alice" aos Óscares, uma boa notícia sim senhora, a má...Espanha candidata Volver.
1 comentário:
Memorias felizes são aquelas que nos fazem amar .. e amar é o que nos faz viver e ser quem somos .. as memorias bem guardadas e alimentadas deixam-nos de vez em quando ir lá espreitar e alimentam-nos para andarmos em frente mais fortes mais completos e mais felizes .. mana ***
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