terça-feira, setembro 19, 2006

O fiel jardineiro

Avassalador. cruel: Frio. Dilacerante. Perturbador. Apaziguador.
O fiel jardineiro é mais uma obra prima de Walter Salles, que retira o melhor de assuntos tão sérios, como o egoísmo político, a ambição das farmacêuticas, o não envolvimento com as gentes de África, as conspirações assassinas, as mentiras públicas, os discursos falsos, e um amor que luta sem armas.
Engraçado como eu em refiro às "gentes de África" como se eles fossem diferentes de mim, se calhar são, porque nós os tornamos diferentes, porque preferimos não pensar neles de modo a não nos comovermos, já que "eles" não pensam em nós simplesmente porque desconhecem a nossa complicada existência.
Se calhar não somos todos feitos do mesmo.
Ou fomos, mas "eles" ainda estão no Paraíso.
E "nós", "nós" já destruímos o nosso.
Tess, uma jovem britânica e lutadora, comovida durante as suas viagens a África na companhia do seu marido, com a precaridade das condições de vida no continente e perturbada com situações clínicas que testemunha, enverga uma luta quase solitária contra um poder sem rosto que enriquece dia após dia à custa da morte de pessoas (mais uma, menos uma, quem é que dá por isso mesmo?).
Esta sua "viagem" custar-lhe -à a própria vida, e é entao a vez de Justin, um diplomata inglês amante de botânica, lutar não por aquilo pelo qual Tess lutou, mas pela sua lembrança, e pela verdade que parece tão incómoda.
Tenho dito que depois que de Mystic river, estou preparada para tudo...pois enganei-me, O fiel jardineiro fez-me adoecer.
Não é que já não saibamos (ou tenhamos suspeita) que existem muitas doenças para as quais não há cura (à partida) porque também dá para perceber que assim as farmacêuticas ganham milhões e milhões à custa dos medicamentos para os tratamentos enquanto a dita da cura não é encontrada. N' O fiel jardineiro, aquilo a que assistimos é simplesmente a uma mega operação de poupança, assim como uma conta poupança a curto prazo: as farmacêuticas não gastam porque não lhes apetece "refazer" medicamentos e então fica-lhes mais baratuxo ir administrando aquilo que têm, valendo-se disso ás organizações humanitárias...mas no fundo mais não são que meros assassinos sem escrúpulos.
Em suma: as cobaias são silenciosas, porque "os mortos não falam" e a ONU ainda dá uma ajudinha.
É esta a grande denúncia, a verdade incoveniente, e só sei que me despedaçou o coração, ver aquilo que já receava e que agora se tornou tão clarividente com a impetuosidade das imagens.
Vi o filme como se estivesse a ler um poema, em que para perceber o seu todo, há que ler e reler estrofes, juntá-las, fazer analogias, procurar símbolos, interpretar, interiorizar.
A musicalidade da película é deslumbrante e envolvente, a cor é feita de ouro de África e vermelho do sangue, o que fica é desalento e decepção, mas no coração fica a esperança silenciada pela esmagadora compressa do dia a dia.
Não é um filme longo, nem leve, nem romântico é apenas repleto de mensagens e bocas ás entidades envolvidas e já agora um pequeno lembrete a países como os EUA, a França, a Inglaterra, Portugal...vocês estão lá a ajudar não se esqueçam...
África será o eterno diamante laminado sem esquadro e régua porque na areia de nada valem, e só uma flor lá poderá nascer um dia, se nesse dia os deixarmos em paz. Eles precisam de mais do que da nossa "ajuda", eles precisam deles mesmos, porque nós fizémos com que eles se perdessem, fomos nós não tenham dúvidas.
Podemos amá-los mas não nos podemos envolver dizem n'O fiel jardineiro, se os amarmos verdadeiramente (como ninguém o faz) eles congratulam-se, o nosso envolvimento tem de ser desprendido: amar a cor, o cheiro, a luz, a pessoa e não voltar nunca mais.
E muitas flores nascerão daqueles desertos, das terras áridas, dos desertos de ouro, das águas límpidas, dos animais selvagens, e o Justin volta ao seu jardim, e Tess regressa a casa. Porque Tess era a "casa" de Justin e quando Justin ficou sem casa, Tess foi ter com ele ao cimo da montanha.

1 comentário:

Anónimo disse...

Porque ate amarmos n vivemos...ate amarmos existimos pela metade mas qd amamos...ai muda td! mm k a tenhamos conhecido num despike d palavras acesas, onde fomos momentaneament ridicularizados mas o amor ultrapassa isso e o k começou menos bem muda numa kestao d segundos! Nasce o amor, ou nao? Sera que ja nao estava la? Apenas esperava o momento d ver a metade para vir ao de cima? Porque nao? Ha muita coisa que n conseguimos explicar e o amor e uma delas. O pior e qd uma das metades d um todo parte...deixa d haver motivo para viver.

"She's gone Jack!"