quarta-feira, agosto 31, 2005

And the blade runs...

Ao estrear a 25 de Junho de 1982,(1983 em Portugal no festival de cinema Fantasporto) Blade Runner não contou com as melhores críticas, pelo menos não nos EUA, porque cá a conversa foi outra. O público esse, sempre fiel às suas convicções e pouco preocupado com as opiniões dos senhores do cinema aclamaram-no desde logo, porque o verdadeiro público nunca é estúpido. Talvez este facto se deva à geração de críticos de cinema que se criava na época, deve tratar-se de uma crise de identidade pela qual os senhores passavam na década de 80, no final de contas essa é a derradeira década para muitos e muitas em que:" cause girls just wanna have fun!!!"(Go Cindy...) . Blade runner é um dos melhores se não mesmo o melhor o melhor filme de ficção científica feito até hoje, após o seu ano de estreia chegou mesmo a ser nomeado ao oscar de melhores efeitos especiais, mas na corrida ao prémio não ganhar não significa que seja mau, nunca esquecer esse pormenor e mais importante, por vezes ganha-se por razões mais obscuras que não a qualidade. A película é brindada com uma magnetizante banda sonora a cargo de Vangelis atingindo o seu expoente máximo no diálogo final entre Dukard(Harrison ford) e Roy Batty(Ruger Hauer), sendo a interpretação do segundo brilhante, a melhor talvez de toda a sua carreira. É incrível a facilidade que tenho em rever essa cena frame a frame, repetido com toda a calma que me é possível o diálogo final quase profético: "all those moments will be lost in time like tears in the rain..." e uma pomba branca voa, voa, não há imagem mais humanista que esta já dizia um professor meu de faculdade. Ridley Scott conseguiu com este filme uma proeza que poucos realizadores se podem gabar de conquistar, que é tornar um filme melhor com a idade, qual vinho do porto, que agurda o tempo necessário e as condições externas favoráveis à sua sábia apuração- é bem sabido que o que se vê hoje amanhã está desactualizado e daqui a 10 anos (e agora repito-me) they will be lost like tears in te rain...não dando qualquer fruto que popssamos colher proveitosamente. Consigo pensar em mais 2 realizadores por razões díspares que conseguiram o mesmo feito: Hitchcock e Kubrick com Psico e Laranja mecânica respectivamente, o primeiro porque mergulha nas profundezas do humanos num estilo freudiano e o outro por avaliar tão perspicazmente a humanidade do homem e da sociedade que ele criou ou criou a ele?? Nos dias de hoje em que o cinema parace tão uniforme, poucas são as ideias novas, e muitas as repetições arbitrárias de imagens já nossas conhecidas e muita falta fazia um Blade Runner em 2005, mas isso é impossível, jamais uma película desta grandeza será (re) criada e mesmo que fosse seria sempre uma réplica (quem viu o filme sabe a que me refiro). Grande aprte do misticismo que envolve esta obra deve-se ao facto da humanidade ser aqui contemplada de um ponto de vista cruel (real??), tendo como centro o Homem que se equivale a Deus (ou como o queiram chamar, mas tomando tudo do ponto de vista da religião cristã). Mas, não será esta sua criação física a destruição do seu próprio espírito? Nos dias de hoje se perguntarmos a 100 pessoas com mais de 30 anos quais os seus 10 filme de sempre, certamente para muitas Blade runner está nessa lista, trata-se de uma referência cinematográfica, um filme de culto que muitos ainda hoje tentam elevar e compreender através de sites na internet que montam e desmontam cenas e diálogos de modo a desodificar os seus símbolos, alimentando a obra e conferindo-lhe vida. Muitos mistérios ficam por desvendar, nem sei ao certo se Ridley Scott(autor de pequenas pérolas e muitos flops) tinha em mente o furor que BR ainda hoje provoca, nem sei bem se as cenas de culto do filme são propositadas ou simplesmente falhas humanas (do realizador entenda-se). Se bem que para Harrison Ford na época a sua escolha não se deveu a outro factor que não o monetário(há senhores com muita certo, indeed), o que fica para a História é que ele encabeça aquele que é O FILME, que vagueia hoje e sempre no imaginário de milhões de pessoas, sim milhões não é um exagero. Escravizar a vida humana por uma duração limitada de tempo para que depois possa ser destruída quando a sua existência deixa de ser necessária, parece ser uma ideia horripilante, que provocaria decerto escândalo por toda a parte, mas se se tratasse "apenas" de um clone, então a conversa seria outra, não seria um acto assim tão condenável...pelo menos essa é a opinião das sociedades do mundo de BR. Aqui os clones não sabem que o são, pensam ser tão ou mais humanos que qualquer humano, porque esse deixou de o ser há muito, e tudo isto num mundo escuro(como que se de um pesadelo se tratasse) pois os Sol, essa estrela magnífica, essa está em plena fuga, como se nem ela quisesse compactuar com a dita criação humana. Blade Runner é um filme tão à frente no seu tempo, que só hoje pode ser comprendido na íntegra, num mundo actual governado por sociedades vazias de humanidade. Ao assistir a BR percebemos que os mais de 20 anos pelos quais passou formaram o momento propício a uma total análise de um tema tão actual como a clonagem humana. Qual o papel de Deus na criação afinal? Quer o Homem adiantar-se ao seu criador? E a criatura, terá ela algum valor para o Homem? Terá a criatura o direito à vida? Terá ela o direito a viver mais do que aquilo a que o seu criador a condenou? Será a sua memória real? Terá a criatura o direito a sonhar? Terá o criador o direito e o poder de impôr o sonho à criatura? E os unicórnios serão reais ou simplesmente uma velha imposição do criador? É sem dúvida uma pena não existir uma edição portuguesa de Blade Runner...já nem falo de uma edição especial disponível no nosso país. Com: Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young, Daryl Hannah que entra numa das cenas de luta mais memoráves da História do cinema, entre outros.

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