sábado, julho 23, 2005

Paternidade

"As crianças começam por amar os seus pais e quando crescem, julgam-nos: algumas vezes perdoam-lhes". Oscar Wilde Perdoar é difícil, mas o ainda mais difícil é esquecer. Combater as lembranças, expulsá-las de nós, é uma batalha quase perdida. Podemos acreditar piamente que vencemos, mas mais tarde ou mais cedo elas voltam, mais fortes, mais presentes, mais vivas, tão ou mais vivas do que nós que nos deixamos abalar profundamente por elas...e o pior é que elas nunca nos abandonam, são como cães raivosos sedentos de sangue, que nos rasgam a carne e se comprazem na nossa própria dor. A nossa que é a deles. O ser humano é inexplicavelmente complicado, e na sua complicação a simplicidade atinge a sua suprema mestria, escondida na nossa mente, coberta com um véu de pétalas de magnólias, pronta para nos aliviar, nos iludir, fazendo-nos crer que só temos que viver e sermos felizes..como se isso fosse fácil. Talvez não queiramos ser inteiramente felizes, talvez façamos os outros felizes quando menos esperamos, e ao ver-mos o sorriso na cara dos outros, essa é a verdadeira felicidade. Ele nunca me fez isso. Pelo menos não me lembro. Talvez não me queira recordar de algum momento em que isso aconteceu, porque a minha mente coberta por um véu de pétalas de magnólias não me deixa vislumbrar a verdadeira concepção das coisas. A simplicidade que cobre a realidade. As feridas saram mas não nos abandonam, ficam marcadas na nossa pele para todo o sempre, a partir do momento em que magoam nada mais há a fazer do que viver com elas, já não são simplesmente físicas, são mais do que isso, são o "eu" marcado e revoltado, o "eu" que não esquece, pode perdoar mas esquecer, isso nunca.

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