Fizeram-me esta pergunta há já dois anos, mas não soube responder. E a questão ficou no ar, ficou, ficou, até ser possível um qualquer tipo de resposta, encontrei esta:
Porque é que gostamos de alguém?
Porque é que há (sempre ou só às vezes)"alguém" que se distingue dos demais?
Vou-vos contar uma pequena fábula dos nosso dias:
A rapariga conhece o rapaz. A rapariga nada espera realmente. A rapariga limitou-se a conhecer o rapaz. Havia curiosidade, ansiedade, algo que lhe dizia que devia ir em seu encontro, havia algo, ela só não sabia bem o quê. E quando o conheceu ficou à mesma sem saber, porque houve uma total ausência do tal sentimento, e ela inconscientemente ficou contente e mais relaxada dado que assim "será tudo mais fácil" e foi, porque devido a essa mesma ausência houve espaço para uma tímida sensação de bem estar e de agradibilidade. Alguns minutos mais tardes a rapariga olha o rapaz de perfil na sala escura de cinema (notem que se a fábula remontasse a outros tempos, este momento nasceria quando os dois estivessem sentados num banco de jardim enquanto contemplavam um lago) e pensa "não tenho vontade nenhuma de fugir a se7e pés" e isso é bom sinal digo-vos eu!
Douze, treze minutos depois a rapariga sente a sua curiosidade pregar-lhe uma rasteira e olha-o uma vez mais, timidamente, a rasteira tímida transforma-se num longo e precioso minuto, e essa rasteira feita minuto torna-se magia.
Bem, e é esta a fábula.
Há sempre um pouco de magia nas fábulas não é? Trata-se daquele encanto pueril sentido pelas crianças e tornado nostalgia alquimista para os adultos.
A magia desta fábula é o momento em que a rapariga se apercebe que está perdidamente apaixonada, retorna a infância, a pureza, a alquimia, a nostalgia e tudo preso no líquido que nos protege a íris.
A rapariga perde-se de amores no preciso momento em que o rapaz leva a mão à face e coça a barba, o barulho não a incomoda, o gesto sedu-la e ela não pode fazer mais nada, ela não quer fazer mais nada, ela não faz mais nada.
O sentimento só pode ser uma forma de inteligência.
É uma intelectualização da sensação, é o modo que encontramos para fazer a nossa selecção natural, escolhemos algumas características, elevamos algumas práticas, procuramos sinais, ignoramos o que não nos agrada e está feita a poção!
O arrebatamento é recordado depois nos bons e nos maus momentos, é escolhido conscientemente quando surgem as dúvidas (lembram-se da cena do Minority report em que as imagens recolhidas pela memória são movidas naquele écran cristalino com o toque do polegar e do indicador? É isso que fazemos num processo interno inato, depois a mente encarrega-se de os processar).
A pessoa escolhida em nada é especial aos olhos dos outros, mas eles não veêm o que nós vemos! A pessoa escolhida só tem o valor que lhe conferimos e isso basta-nos.
Porque as coisas são como são e são aquilo que mediante esse mesmo valor conferido ganham ou não força para mudar as nossas vidas.
Uma fábula portanto.
Se não fossemos inteligentes não seríamos tão sentimentais, e até o maior dos loucos se pode apaixonar, ele vê mais do que nós, e não basta olhar é preciso VER.