sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Houve sangue e de que maneira

O galardoadíssimo de Paul Thomas Anderson é obra para ficar na mente, e lá permanece durante tempo indeterminado feito zumbido nos nos nossos ouvidos...como outrora ficara Magnolia.
There will be blood apodera-se dos nossos sentidos, seja pela ausência inicial de palavras, seja pela luz intensa do sol que nos encadeia, seja pelo negro do petróleo, seja pelo vermelho escuro e espesso do sangue.
Tudo é inesperado nesta obra aparentemente simples, desde a banda sonora diegética que nos envolve através da poderosa composição de John Greenwood, através do som explosivo das forças que provêm do subsolo, do vazio sonoro de H.W, do poder sonoro das palavras: inesperado e poderoso são os termos.
São muitos os elementos que identificam esta obra como pertencente a este realizador: quer sejam as explicações que ficam para depois, as alusões à religião católica, os símbolos dos nomes, desde Plainview a Sunday passando por Mary a Abel, os pormenores visuais, o momento brechtiano por excelência (aqui não há chuva de sapos mas há homicídio na pista de bowling), o humor negro... One night, i'm gonna come inside your house, wherever you're sleeping, and i'm gonna cut your throat...eu cá ri-me à custa disto, é a noção de parábola feita às custas de uma estória na qual capitalismo, religião, ganância e humanidade (ou falta dela) se conjugam para nos brindar com um exercício deveras perturbador.
O argumento consubstancia-se na vida de Daniel Plainview, um homem que começa do nada e conquista tudo através de alguma sorte, palavreado forte, a crença na família e na educação (palavreado disse eu...), bem como nos progressos sociais e tecnológicos, mas acima de tudo através do ódio que esta mesma personagem vai alimentando a partir do seu desprezo pelo ser humano, aliás é neste momento que faço a minha vénia ao fenomenal Daniel Day Lewis o actor mais cool de Hollywood que faz o que quer, quando quer e fá-lo sempre, mas sempre de modo irrepreensível e esmagador, pondo todos os outros num chinelo.
Também elogios devem ser tecidos a Paul Dano de quem pouco se ouve falar e que dá aqui provas de que se torna a passos largos num promissor actor (para quem viu Little miss sunshine), com o seu desempenho este jovem actor "ajuda" o protagonista, não lhe faz sombra mas também não fica encoberto no papel do jovem fervoroso que nos proporciona, a meu ver, alguns dos momentos mais desconfortáveis da obra.
"Haverá sangue" pois, a promessa é cumprida bem no final, embora toda a obra seja feita como que de um ritual se tratasse, um sangramento de duas horas e meia, da Terra, dos laços familiares, da Fé, da carne humana, e do Tempo que vai de 1898 a 1927.

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