quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Até logo filha!

E é grande a força que no início da minha recuperação emprego na mão que empurra a caneta que espalha a tinta sobre a folha na qual imortalizo este meu estado de espírito. Apercebi-me de que não temo a Morte, temo sim a Dor, a dor de perder. Não quero perder a minha Mãe, tomei consciência disso nestas últimas noites em que a olhei enquanto ela dormia na minha cama para estar mais perto de mim, ela dormia e eu olhava-a enquanto esperava que o meu medicamento fizesse efeito. Tenho medo de não a voltar a ver a não ser quando fechar os meu olhos, tenho medo de me esquecer do cheiro do peito dela, das suas rugas que começam onde terminam os lábios finos e rosa- pálida, da fraqueza dos seus dedos, dos seus bolos de iogurte queimados, da forma redonda das suas unhas, do sinal que ela tem no queixo que eu beijo, do sabor do pão com manteiga que comia no emprego dela quando era menina. A minha mãe sempre foi atenciosa e carinhosa, sempre me abraçou, sempre entrelaçou as pernas dela nas minhas na cama fria deixada pelo meu pai de madrugada em dia de feira, a minha mãe sempre me beijou os olhos para eu adormecer, a minha mãe é a única que me faz chorar só de pensar nela, é só ela e mais ninguém. A minha mãe é a lutadora que tudo faz para me ver sorrir, a minha mãe é aquela que diz "vai passar" olhando para o outro lado parecendo divagar em busca de soluções, a minha mãe é aquela que me deseja toda a felicidade e toda a felicidade é sempre pouca para todo o amor que sente. A minha mãe é aquela a quem nao consigo mentir, posso até fazê-lo mas ela sabe sempre e sabe sempre tudo, ela sente lá dentro, a pequenina que mostro já não ser sai para fora, vai ter com ela puxa-lhe a manga da camisa e sussurra-lhe a verdade ao ouvido, a pequenina dá uma risadinha e sai a correr, e a minha mãe fica a saber de tudo e eu de nada. A minha mãe é quem me faz torradas com muita manteiga e o café na própria chávena onde bebeu o dela. Não, não a quero perder, não estou preparada, a minha mãe é aquela que ainda hoje de manhã me deu um beijinho na bochecha e disse "até logo filha", o dia em que não ouvir isto significará que todo o meu mundo desabou, que parte de mim morreu, e que a outra, a que a recordará nunca mais será a mesma, só os que amamos verdadeiramente deixam pégadas na areia da praia da nossa memória, "até logo mãe".

3 comentários:

Pips disse...

Gostei muito deste teu post.
Um bj e rápidas melhoras

Anónimo disse...

Ola

Muito engraçado tu escreveres isso nesta altura .. tenho afastado maus pensamentos da minha cabeça ate porque a distancia as vezes vem com culpa .. enfim .. dei por mim a lembrar e a sentir saudades das palhaçadas dela que nao posso falar aqui para não chocar os demais .. lolol .. dei por mim com saudades de dormir na cama dos pais ou simplesmente ir para la e ver televisao .. saudades .. o texto é muito bonito mas mais bonito sao as lembranças que me traz .. beijos mana

Princess Aurora disse...

...pois as palhaçadas, sim mana elas continuam como se não houvesse amanhã!
Morro de saudades
beijinho muito grande

(eu cuido da mami)