quarta-feira, junho 06, 2007

"Jazuj"

Num meio dia de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
(...)
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pesoa da Trindade
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
(...)
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
(...)
O seu pai era duas pessoas...
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
(...)
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
(...)
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
o espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
(...)
E esta é a história do meu Menino Jesus.
Isto é Pessoa meus caros!
Guardador de rebanhos, Alberto Caeiro

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas ele não foi queimado na fogueira? acho que as pessoas ou não perceberam o que ele disse ou então aceitaram o seu génio, só pode!

Gosto do que ele diz mas parece-me um pouco forte mas...é Pessoa =)

Bu

Princess Aurora disse...

Daí o génio só ter começado a ser apreciado nos anos 60!

Eu cá amo-o, acho que nos teríamos dado bem, muitissimo bem!