Ontem assisti à mais longa investigação criminal de David Fincher.
Zodiac é longo, mas cada minuto da obra é de um pormenorismo incrível, não se tratam de cenas vagas feitas ao desvario, e atenções a belas paisagens, muito pelo contrário, tudo o que não é "conversa" no filme são vistas de São Francisco, o passar dos anos, as construções a ganhar forma, a manipulação da imagem para melhor nos dar a ilsuão (real) de que se passa muito tempo sem nada de relevante acontecer.
Os diálogos entre as personagems por serem tão bem interpretadas prendem-nos, envolvem-nos na teia, extremamente bem tecida e desfeita lenta e eficazmente durante mais de 20 anos.
O filme de Fincher foge ao seu estilo, mas de Fincher o que é de Fincher, este é um exercício livre e artístico sobre os anos 60, e 70 principalmente. A tendência noir é uma constante, ali qualquer um pode ser The Zodiac, até mesmo a intoxicante Chloe Sevingny podia, podia!! Esta obra revela-se como cinema dentro de cinema, o assassino e a ligação ao cinema mudo é brilhantemente tratada na obra, bem como a cena na cave, o clímax do filme em que a personagem que guia o cartonista nos faz lembrar um senhor de nome Nosferatu, esta reminiscência surge nos gestos, no movimento e na postura.
Os desempenhos são brilhantes, há um belo trabalho na composição das personagens, Jake Gyllenahll (um dos grandes da sua geração),Robert Downey Jr e Mark Ruffalo , e os secundários mas fortíssimos Brian Cox, Antony Edwards e Dermot Mulreony. Estão todos genias, e dizer isto é pouco mas muito, porque hoje em dia enfim é complicado ver filme em que os actores desempenham papéis ( e é para isso que são pagos).
A recriação de época torna Zodiac num bilhete postal, tudo é 70's: guarda roupa, música, Dirty Harry, cenários, pormenores como o pin do presidente Nixon na redacção, o logo da Warner Bros a preto e branco que foi possivelme encontrado nas gavetas da distribuidora, por vezes a excessiva obsessão por esta recriação fiel torna-se um pouco irrealista, um pouco caricatural até, mas resulta tão bem.
Ena gostei mesmo do filme, fiquei mesmo contente, as cadeiras reclináveis é que me tramaram o pescoço, ah e intervalo para quê?
Ah e agora Robert Downey Jr, acho por bem escrever umas linhas sobre este mal amado e "bom actor que sa farta", no filme faz de jornalista que no rodopio dos anos 70 se deixa envolver em dois turbilhões, o da investigação sobre o serial killer que se torna próxima demais, e o outro turbilhão aquele que envolve álcool e drogas, não sei se estão a ver qual é...
A sua personagem muito activa numa fase inicial, vai-se ausentando dando lugar ao também grande Mark Ruffalo notável no papel de polícia que tudo o que quer fazer é encontrar o assassino e "fazer o seu trabalho".
Robert Downey Jr, tem aqui possivelmente o papel mais autobiográfico da sua carrira, uma das suas últimas cenas é hilariante sentado num banco de bar com uma bomba de oxigénio, vemos a sua decadência de Avery e a sua entrega ao medo e à frustração de não encontrar o culpado, e que aparecendo fugazmente transmite o pouco humor do filme.
Em tom conclusivo, Zodiac é definitivamente um filme a ter em atenção, David Fincher não desilude não senhor, o que faz é abrir caminho, e mostrar que faz muitas coisas e tudo o que faz (oops.. Panic Room) fá-lo bem!
Sem comentários:
Enviar um comentário