Dediquei o meu penúltimo post à marca que (na grande maioria das vezes)me acompanha pela manhã ao acordar.
Não se trata apenas de café, é muito mais do que isso, não um mero vício açucarado e encanecado, não é uma refeição, não é um ritual, é o café pela manhã.
Bebo-o lentamente, aqueço primeiramente a água, acabo sempre por deixá-la ferver, pó castanho no fundo da caneca (que tem um gatinho cor de laranja agarrado à pega) e junto-lhe a água fervida, o açucar qual cristal partido em infinitos grãos e bebo, bebo, e bebo...fecho os olhos, e sou inundada por incontáveis sensações, centenas de canções entoadas por vozes aladas e tocadas por instrumentos que ainda não foram inventados, vejo lugares, longíquos de tão perto que se tornam.
Abro então os olhos, vejo da janela da minha varanda aquilo que está do lado de lá, e percebo que há todo um mundo por descobrir, uma vontade de prosseguir e de ficar ao mesmo tempo, abro a janela ainda de caneca em punho, regozijo-me porque ainda me falta metade do café para acabar.
Janela aberta, brisa que entra, aroma que sai, aceno à idosa com o alguidar da roupa, ao senhor do pão, à vizinha que rega as flores, olho para trás e já nada importa, só o Bom vem por aí, só o Bom , porque o Mau não entra pela minha janela, porque o Mau nunca é assim tão Mau e o Bom é sempre ainda melhor.
Nao tenho fome, só sede pela vida, muitas janelas se abrirão, muitas águas ferverei, sou feliz porque me insatisfaço e não permito que ninguém o contrário me queira fazzer crer.
A felicidade é um momento. A insatisfação uma constante. E é assim que tem de ser, porque acomodados, tornamo-nos prisioneiros de nós mesmo, e a morte já instalada corre-nos nas veias.
Sou insatisfeita, sim muito insatisfeita, e quando não sorrio é porque vejo o quão satisfeitos os outros estão, estagnados, de janela fechada.
Não é o café da manhã, é o café: pela manhã!