quarta-feira, maio 23, 2007

A passagem do tempo

"- Preciso de comprar uma agenda filho! - Mas tu já não tens uma agenda mãe? - Ai filho, mas a que eu tenho, é que até tenho vergonha..." Escuto conversas todos os dias. Escuto os meus pais a conversar com o meu irmão; as senhoras na televisão; eu converso com o meu cão enquanto engomo roupa na varanda, a minha mãe sussura palavras frescas às plantas que rega. E quando não escuto, imagino conversas, escuto as cordas do violão a dialogar com as teclas do piano ao som de Miles DAvis, escuto Eça a ditar as palavras que verte para folhas amareladas na sua escrevaninha, Um fundo de melancolia, apesar de tão palrador, tão sociável, escuto a moldura enquanto se espreneia gritando-me que gostava mais da fotografia antiga que lá havia feito refém. Imagino o que escuto, mas nem sempre escuto o que imagino. E hoje escutei uma mãe a dizer a um filho que precisava de comprar uma agenda nova. Uma agenda. Já ninguém usa agendas. Sim aquelas agendas com sepradores de letras, uma letra para cada nome, para cada cara conhecida ou irreconhecível, para cada vizinha, para cada vivo e falecido, para cada membro da família, para que não seja ninguém deixado ao abandono por não ter uma morada e um número de telefone. Eu também tenho uma agenda, as pessoas que conheço é que já não têm morada, já ninguém diz onde vive, eu se calhar sou "à moda antiga", tudo comigo é à moda antiga, daí que goste de princesas. A mãe deste filho, tem uma agenda nova, comprou-a, mas não era aquela que ela queria relamente, ao que parece tem só duas folhas para cada letra, " não cabe quase ninguém". Até os comerciantes, acham que as agendas já não fazem sentido, tornou-se um bem desnecessário, e pouco avançado. Para quê uma agenda, se já ninguém mora? Se o correio hoje é electrónico e nem necessita de selo??! Que é feito do anúncio em que se cantava :" A minha agenda, a minha agenda!!"

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