domingo, julho 09, 2006

Nevar no Verão

Busco-te na fina neblina, encontro-te por breves instantes...e eu tento mais uma vez, fujo à fera, que se esconde e ataca, e tu ris-te de mim uma outra vez. A manhã é sem dúvida uma feiticeira, a noite, a sua capa, o seu refúgio, um embuste. Já a noite é traiçoeira e nada clarividente, gosta de passear pelo labirinto da minha mente, só gosto da noite de Inverno, não gosto da de Verão, porque nem sempre me percebe, é cor a mais, som a mais, não ha possibilidade de fusão. A manhã é verdadeira, pura..eu sou a manhã...tu és a noite.Por isso fomos condenados a tocar-nos apenas por breves instantes, tu a és a capa e eu a feiticeira sem poder, tu o embuste e eu a Aurora. Os meu poderes jamais te alcançarão, já tu... fa-lo todos os dias, proteges-me magoando, dilaceras-me a carne, partes-me os ossos, contrarias-me, fazes-me feliz, obrigas-me a escrever, mas o meu nome fica...alguns segundos...dois ou três minutos, para depois se desfazer, qual lágrima no oceano dispersa no véu da memória. Dor? Não. Há muito que deixei de sentir. Tudo o que me resta são fragmentos, tinta preta, folha manchada, sentimento nobre em câmara lenta. E se algum dia eu fizesse sentido, o mínimo que fosse...por favor faz-me desistir. Vem ter comigo e mata-me sulplico-te. Costumo fugir nos meus sonhos. Sonhos? Todos os dias, costumas sonhar? É aquilo que acontece quando vivemos uma vida que não a nossa. É aquilo que acontece quando nos vemos a realizar acções inacabadas, acontece quando subimos a escadaria de uma palácio, voamos sobre uma aldeia branca, choramos ao ver o verde da relva, sentimos o tic-tac de um relógio gigante...a cidade que chama, a badalada que ecoa. Consegues ouvir? Cala-te é uma ordem!Cala-te...ela chama-me. O sonho? Tive-o quando era menina pequenina, pequenina demais para sofrer, pequenina demais para perceber o quão sábia era. Belos tempos que já não voltam. Era tão feliz sem saber, tão humana, tão quante. Agora sou carne, olhos, mãos, e tão única que eu era naquela casinha cor de rosa, banhos no rio, cantos an chuva, volta, volta que preciso de ti. Contigo? Perdida. Sem ti...inacabada, desgraçada. Sou a insatisfação, nunca serei plena, nunca durará, isso é coisa que não existe. O que há são momentos, fragmentos, cores de aguarelas, pó de giz branco...a felicidade é isso...um...e pensar que muitos se não todos morrem sem nunca perceber quando a sentiram. Ainda não a senti, se senti, sou mais uma dessas pessoas...temos tempo...sou tão frágil, até a chuva já o percebeu que já nem ela em brinda com a sua frescura.Amanhã vai nevar. Quero ser feliz para o resto da vida, o entardecer será vermelho, os pássaros pousarão no parapeito da minha jenela, a música perderá o compasso, a lua cantará de dentro da minha caixa de música, a minha sombra cobrirá a minha aura, a minha voz ultrapassará o limite do som, tu evaporarás, serás espuma azul, gumes de faca a sangrar-me as plantas dos pés, serás a bruxa má que me corta a língua e a esconde num fraco de vidro, serás a capa. Lembras-te? Noite. Manhã. Capa.Feiticeira.Neve. Aguarela. Relógio. Sonho. Tu. Eu. Tu. Eu. Tu. Eu. Tu. Eu.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tu és a felicidade! O teu Ser, a tua Pessoa, tudo aquilo que és... é a verdadeira felicidade. Essa felicidade que buscas, tal como eu, irá chegar mas a felicidade é algo bastante vasto. O simples facto de existires origina felicidade nas nossas vidas, "nós" que gostamos de ti, o teu sorriso, o teu olhar triste, as palavras de alegria, as de tristeza...tudo isso gera felicidade e um dia vais conseguir aquilo que procuras, aquilo que damos recebemos a dobrar por isso...vais ser das pessoas mais felizes à face da terra.


Um beijo do teu sempre amigo*

Pedro