quarta-feira, novembro 02, 2005

Entrevista de emprego

Primeiramente perguntam:"Como está? Prazer em conhecer!" bla bla bla, mas eis que começam as perguntas traiçoeiras.... - "Então e você (vamos sublinhar o você ao longo da conversa) tem experiência neste ramo?" - "Bem claro que sim", quem é que neste mundo respondia numa entrevista de emprego não ter qualquer tipo de experiência (mesmo que não tivesse) se quisesse trabalhar num banco??? - E em que banco? - Portanto num banco que por acaso fica aqui na zona...mas o ambiente sabe,não era dos melhores, achei que estava na altura de mudar de valores...percebe?" Nesta linha a entrevista cotinua num modo calmo mas fascinantemente ritmado. - "E diga-me quanto é que gostava de ganhar?"-Quanto é que QUERO ganhar??!! Devo dizer que esta é A pergunta, aquela que me mata. Quanto é que EU QUERO ganhar??!! Bem estamos num banco não estamos? Até quanto está interessado em gastar com uma competente e EXPERIENTE funcionária??!!- pensei eu. Nesse momento respondi numa voz muito profunda e quase honesta: - "O dinheiro não é importante senhor, o que eu QUERO é fazer parte de um grupo tão importante como este." O entrevistador vidrou os olhos em mim de um modo estupendamente dramático ( ou seria ironia?) e perguntou: - "Você está disponível?" - Nesse momento devolvi o mesmo olhar dramático( para ele não pensar que era o único que o sabia fazer) embora cá dentro estivesse com uma vontade de rir desbravada, porque estava a tentar pensar numa única pessoa no mundo que se dignasse a ir a uma entrevista de emprego sem estar propriamente disponível, quem é que faz isso? Serão muitos e eu não sei, andarão eles espalhados pelo país a comprar jornais na esperança de que as páginas centrais possuam algum quadrado mialgroso que possivelmente irá pagar a luz, a água e a renda que por acaso já estão em atraso??... Talvez este entrevistador estivesse habituado a falar com pessoas INDISPONÌVEIS NO MOMENTO. Então eu respondi: - "Estou disponível no momento.", e rematei com um belíssimo "claro". Enquanto o senhor falava sobre o banco, a competência, o rigor...comecei a pensar que ele nunca mais se despachava e que eu tinha que estar na pizaria ás 10 para começar o meu turno. -"Nós ligamos." disse ele. "Ligam?" pensei eu?? Isto foi há 2 meses, e eu continuo a trabalhar na mesma pizaria, o telefone não tocou, às vezes o rigor não se aplica, o exemplo vem de cima mas cai ao trambolhões, se calhar mandam-me uma mesnsagem escrita ou assim... No fim disto tudo fico com a ideia de que o banco e a pizaria não são duas coisas muito distintas, é que ambas sobrevivem do mesmo: Dos pobres. Com sorte o pobre vai ao banco, deposita o ordenado na conta e 95% é gasto na prestação do empréstimo - o banco sobrevive- e seguidamente com os 5% pensa onde os vai gastar enquanto se refastela com uma fatia de piza aviada pela minha pessoa. É um ciclo como qualquer outro.

2 comentários:

Santiago de Sousa disse...

"O dinheiro não é importante senhor, o que eu QUERO é fazer parte de um grupo tão importante como este."

Ahaha! Essa dica foi genial!

Uma entrevista hoje em dia, tem tendencia a ser nada mais que a preparação para a próxima, e nisso devo dizer que tu já estás mais que preparada... penso eu.

Ah, e para finalizar... oh pah essa foto da pizza deixou-me cheio de fome.

Kiss*

Nuno Vasco disse...

E quando vamos a uma entrevista de emprego que tenho a impressao que por mais que falemos mal dos advogados , acabamos sempre a utilizar a arma mais usada por aquela classe : o poder argumentativo . Infelizmente , cada vez mais portugueses perdem a esperanca e juntam-se as inumeras filas do desemprego que assombra toda a gente . Anita , seu blog esta rockando !! Byee !!