domingo, setembro 25, 2005

Wake up Donnie

A primeira vez que vi Donnie Darko não percebi nada. A segunda vez que vi Donnie Darko não percebi nada. A terceira vez que vi Donnie Darko percebi tudo. A mesma terceira vez deixou-me maravilhada. Este não é um filme simples de seguir ou compreender, mas de um determinado ponto de vista não é nada complicado, o segredo é deixarmo-nos levar pela mente de Donnie e pelos vários sinais que nos são deixados ao longo do filme. A existência do coelho tenebroso tem algo de Alice nos país das maravilhas, como uma personagem também ela enigmática, num mundo a ser desoberto pelas piores razões.E se nos recordarmos existe também um coelho interessante no mundo da Alice. É que aqui o dia do juízo final é anunciado com a maior das calmas como se fosse o próximo passo a dar na nossa longa caminhada pela existência terrestre. Não quero contar muito sobre a obra, iria estragar a surpresa das surpresas e iria deturpar certamente a visão do público, pois a imaginação aqui é rei e decisivamente imprescindível. É injusto dizer que o filme é x e percorre o caminho y e vai ter a z. A piada é exacatamente divagar pelo universo criado e no fim discutir com os outros os vários aspectos que moldam as máscaras do roll de personagens que desfilam em acções paralelas que só se tocam porque o destino é implacável e o desenvolver da acção remete para a fatalidade dos actos falhados. E não vale a pena querer mudar o decurso dos acontecimentos. E não vale a pena lutar. E não vale a pena saber que viajar no tempo é possível. E não vale a pena porque qualquer criatura humana neste mundo morre sozinha. É curiosíssima a forma como nos é mostrado que a acção do filme decorre nso anos 80, quer seja pela banda sonora, pelo guarda roupa, pelas referências culturais e políticas ou simplesmente porque se o mundo acabasse nos anos 80, a nossa existência de lá para cá simplesmente não o é. Talvez seja essa a crítica da obra, dizer que a cultura morreu com o culminar dos anos 80, que nada nasceu desde então, e que nem sequer somos capazes de nos reinventarmos. Mas porquê um coelho? Se fosse uma ovelha a pergunta seria feita na mesma, qualquer que fosse o animal...a vida é feita de escolhas, e aqui um simples coelho, aquele ser adorável é nos entregue de forma assustadora e quase anedótica, fazendo-nos pensarmos duas vezes antes de nos rirmos do Bugs Bunny. Um conselho, se ainda não viram Donnie Darko vejam-no como se fose ver um filme de David Lynch, lutem com as outras pessoas que digam: "Ai! Não é nada disso que estás para aí a dizer..." Quem não gostar deste tipo de desafios cinematográficos, nem vale a pena aventurarem-se porque aí aos 20 minutos do filme desligam o leitor de dvd ou então será possível percorrer com lupa o caminho da vossa baba, que vai directamente do canto inferior direito da vossa boca até à extremidade superior da almofada do sofá da vossa mãe!!

4 comentários:

Nuno Vasco disse...

Ainda ha vida inteligente em Hollywood !

DVS disse...

É uma obra surpreendente, especialmente tendo em conta que se trata do primeiro filme escrito e realizado por Richard Kelly. Vale a pena ver também o Director's Cut, especialmente quem se interesse especificamente pelos pormenores da viagem no tempo.

Princess Aurora disse...

Em resposta (tardia) ao Space Cowboy, devo dizer que concordo em absoluto com o comentário amavelmente deixado. Viagens no tempo são um tema realmente interessante seja na Literatura, ou no Cinema, mas arrisco-me a afirmar que essas mesmas viagens na Vida real são ainda mais espectaculares! Tal como esta que estou a fazer hoje :)

Space Cowboy do Futuro disse...

De facto, a verdade é mais incrível que a ficção. Confirmam-se assim 3 coisas: (i) o teu motto do Blog está correcto; (ii) o Donnie não estava doido e as viagens no tempo existem mesmo; e (iii) O dia do Julgamento não vai acontecer enquanto estivermos juntos...o que dá um percentagem bastante segura de previsibilidade de não ocorrência :)