domingo, agosto 01, 2010

A Vida parece ter vontade própria

Sabem quando vos apetece fugir, esquecer, relativizar, simplificar, esconder de tudo e todos com a máscara de um sorriso escavada na mais dura rocha na encosta da solidão? Sabem quando se tenta apagar da memória, mesmo que temporariamente, os bons momentos vividos, as alegrias partilhadas, os sorrisos cúmplices, os despertares felizes... e tentamos e tentamos, em vão... Parece que estamos a produzir uma imitação da vida, uma forma desesperada de não sentimento, de não desejo, de não cumprimento do dever, de esquecimento. Um rio que não desagua em mar algum... E eis que a Vida ganha força, mais uma vez, e parece ter vontade própria, esbofeteia-nos, diz que nos portámos mal, que estamos a fugir de algo que está dentro de nós e que ecoa numa sombra pesada. A sombra é nossa prisioneira, ou nós dela. E eis que a Vida ganha força, força como a do corpo enraivecido, força como a lágrima que escorre sem poder ser contida, força como a do vento em noite de tempestade, força como a da entrada de um corpo no outro num balanço terno, força como a das amarras do passado, força como a da sombra que rouba a luz do nosso dia, força como a do espaço da palavra escrita porque não a posso proferir de viva voz, força como a da alma que acredita que a sua carne se unirá a ela uma vez mais. E eis que a vida me faz deparar com isto...e eu lembro tudo outra vez...é a Vida. "Um beijo teu é como água salgada, quanto mais se bebe...mais sede se tem." Drummond de Andrade

1 comentário:

Anónimo disse...

Magnífico, as always.

To