sábado, julho 05, 2008

Gosto do Verão, gosto dele sim.

Gosto do Verão. O Verão é o momento da fruta fresca, molhada e sumarenta a escorrer na saliva dos sentidos. É tempo quente, em corpo húmido. Gosto do Verão. Gosto do som das crianças a brincar na rua até à hora de jantar, as mães à janela a gritar aos filhos que se metam na banheira. Gosto de me encostar na soleira da porta da varanda a respirar o ar quente vindo do sul, o vento nos cabelos, o arrepio da pele, a ausência do toque. Gosto da promessa que o Verão traz acorrentada, a da correria à beira mar, as promessas feitas em areia salgada de amar, a vontade de ver e falar, a decisão de fugir para não sentir... disso não gosto, mas é Verão. Gosto do Verão, do sabor a gelado de baunilha partilhado como quem revela um sonho, gosto de acreditar que a vida sendo curta é cheia e feita de momentos eternos, sim sinto-me eterna: eternizemos as manhãs laranjas de Verão, os quartos escuros, os lençois que não cobrem. Correr como quem adormece nos braços fortes de alguém, sonhar para apaziguar, descobrir as pequenas coisas, recordar as velhas, ah felicidade parva ganha com esforço e perdida num ápice, maldito remoinho verbal, e malditas palavras que não expressam sentimentos, apenas verdades invisíveis para quem não deseja ver, porque cegamente quer acreditar. Eu acreditei, acredito. Gosto do Verão. Gosto de chocolate frio, manteiga mole em pão fresco, gosto de olhar, olhar sempre, erradicar a fome, tocar a derme flutuante, saborear o cheiro humano, gosto do Verão. Gosto de trocar de roupa na praia, não usar a "parte de cima", fugir das ondas do mar porque a “água está gelada”, gosto de.... de pensar que a guerra terminou, que perdi a maioria das batalhas, que cortei, dilacerei e empalei seres odiosos, gosto de me ver sair vituriosa, subir ao Olimpo, acenar ao povo e descansar no leito marmóreo, e vê-lo chegar fingindo que durmo para ser falsamente acordada, secretamente desvendada, desalinhada, uma mão que se fecha, um tronco que se enche, um peito que inflama, uma luz subtil e esquecida, um suspiro profundo, um ritmo furtivamente calmo, a saudade que teima, a perda que aumenta, o ódio que não sinto, a verdade? Gosto do Verão, gosto dele sim. Um ciclo que se fecha. Uma princesa sem príncepe e que reclama pela sua aurora. Gosto do Verão, gosto dele sim.

1 comentário:

l00ker disse...

escreves pouco mas quando o fazes...chapeau!! ;)

sim...também gosto do Verão!