I'm not he.
I'm not her.
São as frases de abertura do filme de Todd Haynes que se sucedem dando lugar à frase chave da obra: uma definição onírica do trabalho deste realizador, I'm not there.
É estranho iniciar algo de modo negativo, seja numa frase ou numa atitude, mas esta obra faz-se assim, de negações sucessivas, e a palavra "not" é uma constante que se afirma (passo a antítese).
Mas de que se trata este filme?
Parece ser uma questão perfeitamente normal de se colocar e a resposta que me assalta agora que já pude reflectir sobre o que vi é de que se trata de uma ficção biográfica, ou seja, é a revelação de um artista de modo livre, pessoal e descomprometido, feito de retalhos e de possibilidades que nos são propostas cabendo-nos a nós aceitar, acreditar ou rejeitar.
Aceitei-as a todas, pela sua comicidade, pela sua faceta transposta, e pela sua incisão profunda em temas com os quais também nós tantas vezes lidamos (mas sem os Beatles a bricar connosco, e sem a droga e sem os malditos paparazzis à nossa volta).
Ora vejamos, nunca fui conhecedora credenciada da obra de Bob Dylan, mas agora sei que além de ser o cantor mais citado da História (não me parece que esteja a exceder na ideia) foi alguém que em vez de seguir uma linha, se reinventou consecutivamente, abandonando uma vida e abraçando outra, procurando encontrar algo se não melhor pelos menos libertador.
Deste modo temos um Dylan estrela do rock eléctrico e uma mártir da mesma cena (numa outra interpretação), Dylan Profeta, Dylan poeta, Dylan Cristão novo, e um Dylan envelhecido e fora da lei.
São todas as interpretações louváveis, destacando-se a de Cate Blanchet que por ser a que à partida teria a tarefa mais complicada, é na realidade a interpretação a nível físico que mais se aproxima da figura icónica deste artista, a mais cómica também e a mais destacada.
A banda sonora transporta-nos para os lugares, os estados de alma e de corpo do cantor, são preciosas informações na construção da biografia, que aliadas aos diferentes modos de captação de imagem usados no contar da estória de cada Dylan fazem desta obra um quase documentário, mas isso é enveredar já por um outro caminho, e neste momento prefiro a palavra "ficção".
É uma obra bem humorada, com momentos memoráveis e com interpretações notáveis, devo destacar Blanchet e Bale, mas a de Ben Wishaw impressionou-me bastante, talvez pela precisão das palavras: never create anything, it will be misinterpreted, it will chain you and follow you for the rest of your life.
Não podendo ser de momento maior o meu contributo na visão da obra, termino este texto com uma nota extremamente positiva ao filme que a meu ver merecia ter tido uma data diferente de estreia no nosso país, bem como uma maior estreia nas nossas salas, mas disso não posso conversar com Dylan...aliás se ele eu falasse com ele hoje, com qual dos Dylan o estaria a fazer?
Ah e fica a frase (não citada) que mais me marcou (não não é a do "Astronauta!"):
Aquilo que o homem mais teme é o Silêncio!
3 comentários:
Agora tenho de esperar pelo dvd para ver...mas estou cheia de boas impressões sobre o filme.*
esquisito...mas tocante
haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
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