quinta-feira, abril 24, 2008

And the blade never stops running

Corram às (poucas) salas, vejam, revejam, relembrem. Não deixem que os vossos sonhos se desfaçam como lágrimas na chuva!!

domingo, abril 13, 2008

I'm not there

I'm not he.
I'm not her.
São as frases de abertura do filme de Todd Haynes que se sucedem dando lugar à frase chave da obra: uma definição onírica do trabalho deste realizador, I'm not there. É estranho iniciar algo de modo negativo, seja numa frase ou numa atitude, mas esta obra faz-se assim, de negações sucessivas, e a palavra "not" é uma constante que se afirma (passo a antítese). Mas de que se trata este filme? Parece ser uma questão perfeitamente normal de se colocar e a resposta que me assalta agora que já pude reflectir sobre o que vi é de que se trata de uma ficção biográfica, ou seja, é a revelação de um artista de modo livre, pessoal e descomprometido, feito de retalhos e de possibilidades que nos são propostas cabendo-nos a nós aceitar, acreditar ou rejeitar. Aceitei-as a todas, pela sua comicidade, pela sua faceta transposta, e pela sua incisão profunda em temas com os quais também nós tantas vezes lidamos (mas sem os Beatles a bricar connosco, e sem a droga e sem os malditos paparazzis à nossa volta). Ora vejamos, nunca fui conhecedora credenciada da obra de Bob Dylan, mas agora sei que além de ser o cantor mais citado da História (não me parece que esteja a exceder na ideia) foi alguém que em vez de seguir uma linha, se reinventou consecutivamente, abandonando uma vida e abraçando outra, procurando encontrar algo se não melhor pelos menos libertador. Deste modo temos um Dylan estrela do rock eléctrico e uma mártir da mesma cena (numa outra interpretação), Dylan Profeta, Dylan poeta, Dylan Cristão novo, e um Dylan envelhecido e fora da lei. São todas as interpretações louváveis, destacando-se a de Cate Blanchet que por ser a que à partida teria a tarefa mais complicada, é na realidade a interpretação a nível físico que mais se aproxima da figura icónica deste artista, a mais cómica também e a mais destacada. A banda sonora transporta-nos para os lugares, os estados de alma e de corpo do cantor, são preciosas informações na construção da biografia, que aliadas aos diferentes modos de captação de imagem usados no contar da estória de cada Dylan fazem desta obra um quase documentário, mas isso é enveredar já por um outro caminho, e neste momento prefiro a palavra "ficção". É uma obra bem humorada, com momentos memoráveis e com interpretações notáveis, devo destacar Blanchet e Bale, mas a de Ben Wishaw impressionou-me bastante, talvez pela precisão das palavras: never create anything, it will be misinterpreted, it will chain you and follow you for the rest of your life. Não podendo ser de momento maior o meu contributo na visão da obra, termino este texto com uma nota extremamente positiva ao filme que a meu ver merecia ter tido uma data diferente de estreia no nosso país, bem como uma maior estreia nas nossas salas, mas disso não posso conversar com Dylan...aliás se ele eu falasse com ele hoje, com qual dos Dylan o estaria a fazer? Ah e fica a frase (não citada) que mais me marcou (não não é a do "Astronauta!"): Aquilo que o homem mais teme é o Silêncio!

quarta-feira, abril 09, 2008

O que têm Ingmar Bergman e Barbara Streisand em comum?

RIGOROSAMENTE NADA!
Na manhã seguinte recebo um telefonema de Barbara Streisend, a perguntar se nós queríamos ir a um pequeno "party" que teria lugar à volta da sua piscina. Se quiséssemos ir, que levássemos os fatos de banho. Agadeci-lhe a amabilidade, pousei o auscultador, voltei-me para a minha mulher e disse: "Vamos partir imediatamente para a nossa casa de Faró e passar lá o Verão. Vão escarnecer de nós, mas teremos e aguentar mais isso." Umas horas depois estávamos a caminho da Suécia.
Lanterna mágica, Ingmar Bergman

domingo, abril 06, 2008

Mais ou menos isto

Se calhar vai ser hoje.
E a conversa lá seguiu o seu rumo próprio de duas almas que não sendo gémeas, querem ser qualquer coisa, provavelmente querem ser corpo.
Cidália

quinta-feira, abril 03, 2008

Boas intenções

Já alguém pensou que a nossa capacidade de escrever abranda a rapidez dos pensamentos e ajuda-nos a ir de encontro aos nossos sentimentos.
Eu já.
Sejamos justos, vivemos num mundo no qual a acção se sobrepõe à intenção e ainda bem que assim é.
Ao escrevermos podemos acreditar que estamos a abrandar, que podíamos estar a fazer outras coisas, mas no fundo mais não estamos a fazer que a compreender-nos: apontar num post-it um número de telemóvel, fazer a lista das compras, escrever uma carta de amor, um apontamento na margem do nosso livro preferido, assinar um contrato. Tudo são marcas da nossa passagem, são documentos biográficos.
Quando escrevem?
Quando estão felizes, com tempo, sem ele?
Escrevem quando estão tristes, escrevem na secretária, escrevem durante uma palestra enfandonha, no vosso canto, à noite, a meio da manhã quando vão beber café a algum lado?
Gosto de escrever independentemente de todas estas condições, não sei porque o faço, mas sei que é a força de expressão que me move e talvez a expressão pela qual melhor me revelo, pelo menos a escrever sai tudo da garganta secante...tic-tac, tic-tac...claro que existe muita coisa que não se escreve, essas prefiro dizê-las para que estranhos não as leiam algures.
O que acho realmente é que não devemos escrever somente quando temos coisas para dizer, isso é errado e não foi para isso que se fizeram as palavras, as palavras sob a forma escrita servem para nos ajudar a reflectir, fazer com que a roldana do pensamento não encrave.
Nos filme, nas canções, nas obras de arte, nas cartas que são lidas silenciosmanete embora lá dentro estejamos a proferir cada sílabazinha. Nos filmes quando se lê um poema para si mesmo ouvimos a voz do actor, se tivermos de salvar a vida de alguém e esse alguém seguir à nossa frente e estiver de costas temos de falar, até gritar, pois não há tempo para escrevinhar um aviso no bloco de notas.
Ler é bom. Escrever é melhor. Falar é imprescendível.
Quero deixar esta ideia porque às vezes fico com a noção de que ao escrevermos nos escondemos por detrás de uma cortina qualquer, como se nos tivéssemos a desculpar por algo, escrever faz parte de mim e longe desta minha pessoa renegar ou tentar impedir tal acção, preciso de escrever como quem precisa de beber água quando tem sede (e já notaram que às vezes não percebemos que temos sede e no entanto o nosso organismo está sedento...)