sábado, setembro 08, 2007

Lullaby

William Adolphe Bourguereau, 1875
"When you need me, but do not want me, then I will stay.
When you want me, but do not need me, then I have to go."
Nanny McPhee
As vezes inspiramo-nos a ouvir cancoes melosas, cheias de pianadas e acordes de viola tristes e vagarosos, outra vezes inspiramo-nos a ver comedias infantis ternas e moralistas, foi o que me aconteceu. Nem sempre nos apercebemos da falta que as pessoas nos fazem, seja porque nos fazem lembrar de outras, seja porque gostamos do seu cheiro, do seu sorriso, seja porque gostamos de nos zangar com elas, seja porque gostamos de sentir a sua falta. Correndo eu na direccao oposta, vou deixando de me sentir a vontade, como se o mundo- esse velho vagabundo- continuasse a rodar e nos permanecessemos dentro de uma gigantesco aquario, impavidos a ver a vida passar, porque estamos a fazer mil e uma coisa, mas no final nada se passa de concreto, e estamos ali, dentro de agua com os dedos enrugados, os labios roxos e a esquecermo-nos do nosso proprio nome de 4 em 4 segundos (amnesia marinha). Outras sao as vezes que optamos por fingir nao sentir a falta, e e desta mania nossa que me quero debrucar, qual sereia na rocha entrancando os seus longos cabelos lisos, esperando pelo marinheiro que teima em nao chegar, porque gosta do sol e odeia aquarios... Escuto incessantemente a melodia ecoada pelo buzio cristalino da memoria e nada me faz mais feliz, percebo agora que ja nao posso voltar atras, agora que a areia da praia me corta a planta dos pes como agulhas finas e prateadas e que a bruxa malvada me roubou a lingua para que eu nao falasse nunca mais, e as pedras da calcada ja nada de novo tem para me contar. Eu escrevi um poema novo, e lindo, lindo, mas a minha caixa de musica avariou-se, o marinheiro que gosta de sol e que gosta de ter razao nao lhe vai repor o seu real valor e eu nao vou poder adormecer no seu peito embalada pela batida do seu coracao. Como eu queria uma nova caixa de musica! As estrelas estao a espera. O marinheiro que se apresse porque eu sofro sem a sua melodia. Porque e sempre assim: "Quando precisares de mim, mas nao me quiseres, ficarei. Quando me quiseres mas ja nao precisares de mim, entao partirei."
E nao sei se quem escreve sou eu ou a sereia...

Sem comentários: