sexta-feira, março 01, 2013

A rua espera por nós



Doentes, cansados e desiludidos.

Estamos todos assim.

Manter a atitude positiva é uma prova de esforço, porque é assim que estamos, é assim que vivemos. Em esforço. Uma amiga no outro dia disse-me que ia abandonar o país, o país que não é o dela, mas que a recebeu há muitos anos com os dois braços abertos. O mesmo país onde eu nasci e onde receio ficar. Essa minha amiga vai embora, diz que está quase a passar fome. Eu fecho os olhos, e imagino “poderia ser eu, e não quero vir a ser eu”. Em esforço. O país que estava de braços abertos para ela, assim ficou… à espera que se fechassem.

Pela minha amiga e por mim, manifesto-me amanhã pacificamente em plena cidade de Lisboa. Pudesse eu crescer e tornar-me num gigante. Amanhã manifesto-me, porque os meus filhos vão nascer num país que foi e continua a ser incinerado por políticos e gestores mal preparados e mal formados. Pessoas que não se conseguem pôr na pele dos outros, que acham que o contentamento é uma coisa linda e entenderam mal os versos de Camões, porque o poeta ao dizer que o Amor “É um contentamento descontente”, não se referia a algo bom.

Querem-nos contentes, contentados, resignados à vidinha mal levada, ao rebaixamento, ao muito trabalho para pagar a dividazinha, porque temos papás para nos sustentar. Quem vive bem, está-se nas tintas para quem vive mal. Nas tintas. Além de mal formados, foram mal educados.

Vão mas é ler Camões, que nós já aprendemos a lição e a rua espera por nós.



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