"Quantas horas tem a Eternidade?", perguntaram uma vez.
Quererá a resposta dizer que é para sempre, ou isso não passará de mero consolo inversamente ambicioso?
As horas que vivemos são as únicas que realmente valem, as dos outros, não nos servem, não as percebemos, não as queremos, as dos outros não, só as nossas importam.
Olhamos sempre para trás, na tentativa de apreender, e deixar de fazer o uso da repetição, colhendo os frutos que achamos preciosos para que de futuro tudo seja diferente...eterno.
O mundo é assim: passado, presente, futuro. O passado é História, documento, folha ardida, feito irremediável. O presente é cor, consciência consciente, aquilo que interessa. O futuro, nem devemos pensar no seu significado, porque não o tem, o futuro é aquilo que nunca chegamos a experienciar. Só o presente é vivido em pleno. E só os "pequenos nadas" são capazes de preencher cada minuto.
Claro está que, na maioria das horas conscientes, não nos lembramos delas, o acordar de mau humor, a leitura do livro de cabeceira, o toque dos dedos no pêlo no animal de estimação, aquele beijo roubado na noite chuvosa, aquela gargalhada, aquele olhar, aquela aquisição, aquele desabafo, aquele sorriso da menina desconhecida, aquele minúsculo momento irrepetitível. So nos lembramos deles no dia seguinte, é a memória que imortaliza, não o tempo em si.
A partir do momento em que algo é dado como facto, é já parte integrante do passado, deixou de ser futuro e no presente deixou apenas um rasto para ser caprichosamete seguido, como aquelas pegadas na areia molhada da praia no toque e foge das ondas mais azuis espumadas.
Já fugiram das vossas sombras, ou já as tentaram apanhar? Quando fugimos delas, as sombras são o passado que clama do outro lado. Se as tentarmos alcançar elas transformam-se no futuro: nunca as alcançamos, nunca astocamos, desconhecemos o seu cheiro, a sua composição, nem cara para esbofetear ou acariciar têm...é assim que vivem as sombras.
Só o presente tem cor, porque o passado costuma ser a preto e branco e o futuro é brilhante demais para ser aprisionado pela íris.