Isto de não me sentir inspirada é mesmo muita chato.
Já culpei a chuva, já a odiei, já roguei praga a São Pedro, jé me meti na cama debaixo dos cobertores a rezar. Também já tentei a macumba mas como acabo por olhar para os olhinhos das espevitadas e inocentes ( ah e gorduchinhas) galinhas e o pior que lhes consigo fazer é matá-las, desisti da ideia. É que só as mato se for consumo, jamais para louvar este ou aquele espírito espavorido e malcriado no desejo voluntário de uma grande dose de fantasia imaginativa.
Já me culpei a mim mesma, mas desisti por começar a achar que podia entrar em depressão e eu deprimida não tenho piadinha nenhuma. Depois culpei o José Figueiras porque houve uma manhã em que cometi o fatal erro de mudar para a sic e lá estava ele a tentar dar dinheiro com um conscurso muito anos 80 e eu de mim para mim mesma "Leila tu és capaz" mas não fui, e a culpa foi do Zé, e lá se foi a inspiração para o camandro.
Culpei os meus amigos que estão bem na vida, os que estão mal e os que estão assim assim mas que também não fazem nada para alterar seja o que for, culpei os que me chateiam todos os dias, os que já não me ligam nenhuma faz anos, outros meses e outros dia sim dia não. Culpei o vizinho de cima, o do lado, e o de baixo, ah e o outro do prédio ao lado que não conheço, mas também deve de ter a culpa.
Culpo 0 gato Max, porque ele não aprende a ir buscar-me os chinelos ao corredor (não perguntem porque os deixo lá se me vou deitar para o sofá e viciar-me no Canal Parlamento)...ah e culpo-o porque o raio do bixo roeu-me a alsa da minha mala vermelha vinil ( e isso é mesmo muito feio) contribuindo e muito para o meu baixo rendimento inspiracional.
Culpo o Fidel, o Obama e a Maria Jerónima que hoje não havia meio de aparecer à consulta e por causa dela nunca mais era eu atendida.
Culpo as bacantes, o Calimero, a Maria Barroso, culpo a teoria da relatividade "tudo o que sobe...cai" mas que vem a ser isto?
Culpo os meus neurónios mais retardados e por isso fracos e por isso devem de ser os mais dados às letras, e por isso, ah vocês já captaram a essência da coisa. Culpo a senhora dos churros à entrada do metro de Odivelas, e o senhor que vende os morangos a dois euros o kilo e eu hoje para mal dos meus pecados não tinha a porra de dois euros para comprar uma dose de inspiração: sim os morangos iam tirar-me deste marasmo iliterado!
Sim morangos, vermelhos, frescos, rijos, com iogurte natural e uma camadinha de amêndoas, isso sim ia entusiasmar-me a escrever uma coisa decente e fazer do meu romance uma coisa decente (já matei e ressuscitei a minha heroína, já houve o twist, a analepse, a prolepse, a metáfora profunda com uma janela e um pomar..ou seja, nada de novo estou eu a trazer ao mundo da Literatura contemporânea...)
Preciso de morangos para travar a minha crise inspiracional. Preciso de Sol para fazer a minha fontossíntese entrar em marcha. E preciso de uma caneta. DEPRESSA.