domingo, março 02, 2008

Uma rapariga que eu conheço

Ela nem sempre sabe o que faz, nem se o como e quando o faz estão a ser feitos do melhor modo.
Ela sabe que sente, e se sentir em demasia é motivo de condenação então ela dá-se como culpada, sim ela é rapariga para o fazer.
Ela não é segura e por isso gosta tanto das mãos dos outros: da sua força, da sua grandeza, da muralha que constroem à sua volta.
Ela não se satisfaz facilmente, e nem sempre compreende os sinais, não diz tudo porque sabe que não sabe tudo, e se aprender a motiva, ser ensinada é regra de ouro para o seu contentamento.
Ela gosta de se sentir lembrada, relembrada...puxada e agarrada, e gosta da doçura que há por detrás de um acto de violência: um abraço apertado, uma mão no pescoço, uma marca no ombro esquerdo ( a memória que persiste em ficar marcada na carne).
Ela liga-se a tudo, sem se ligar a nada, aprecia tanto a escuridão da noite como a luz que teima em espreitar pelas frechas das janelas fechadas ao nascer de um novo dia, gosta tanto do cheiro a roupa lavada como o do corpo suado, se ri então é porque tem vontade de rir, e se chora talvez lhe tenha entrado uma coisa para o olho.
Se se silencia é porque o silêncio não a incomoda quando está a seu lado, basta olhá-lo quando ele não está a ver, e percorrer as linhas do seu rosto, ou tocar-lhe na mão para saber que está vivo, basta subir ao seu peito e escutar o bater do seu coração enquanto o seu dono dorme adormecido.
"Porque é que foges?", pergunta.
"Um dia deixo de fugir.", pensamento.
Ela sabe que bastam uns breves segundos (porque os segundos são sempre breves) para que as duas vontades se cumpram num mesmo desejo, e para que se chegue ao centro da terra quente e em erupção, ela sabe que é como no poema da canção:
" I'm thinking back to the last day we had/ Old moon fades into the new/ Soon I know I’ll be back with you/ I’m nearly with you/ I’me nearly with you"
E ela sabe que regressará a casa mais uma vez, será deixada à porta para querer voltar à paragem do autocarro e fazer com que o dia anterior regresse, que regresse, e se o autocarro teimar em não passar, então ela corre atrás do carro "I'll fly, I'll fly..."
E assim sendo esta rapariga que eu conheço (mas sobre a qual nada sei verdadeiramente)...esta rapariga dizia eu, sabe que a viagem é longa, o percurso árduo, está ciente de que o tempo a pode abandonar e que deve estar preparada para perder. Caso ganhe, então fica tudo bem porque a vida é feita de pequenos nadas que são o tudo, e o tudo para esta rapariga tem sabor a sumo de laranja acabada de espremer.
Alguém conhece esta rapariga?

1 comentário:

Joanne disse...

És tu? =P