domingo, maio 14, 2006

Le petit Prince

Perdido num novo mundo. Maior, perigoso, só, louco, estranho, longíquo e esquecido. E tu meu pequenino, eu só queria fazer como ele o fez, pegar-te ao colo, balançar-te, cantar-te baixinho ao ouvido, esperando a tua estrela que não partiria primeiro sem uma lágrima minha. Feliz ele que te viu no deserto, que procurou contigo um poço, e que só acreditando o encontrou, que te viu encantar uma serpente venenosa...que ilusão, tu eras o veneno dela. A mim só me resta procurar uma seara e procurar-te por entre o trigo, acariciar-te o cabelo ao sabor do vento cálido numa tarde quente de Verão, enquanto escuto os cânticos dos anciões. A mim só me resta cuidar da flor, que sendo igual a todas as outras, me cativou...e espera por mim naquela que é a sua sepultura terrena ou pela raposa que a rapte e a sepulte noutro paraíso. Meu menino adorado, foste tu quem me ensinou a viver, a amar, a perceber o que no fundo já sabia, mas esqueci, porque infelizmente nos esquecemos daquilo que de mais puro alguma vez já tivémos, aquela coisa curta, e vivida longamente, mágica, curiosa, sagrada, colorida, a cheirar a rebuçados de limão e da cor dos cogumelos vermelhos com bolas brancas. Infância. Queria casar contigo, ser a tua princezinha, viver no teu reino que nunca será teu porque nunca serás adulto, admirá-lo, coberta pela tua capa e avistá-lo por entre os teus cachos de cabelos doirados que seriam a minha luz no mais escuro dos universos. E se não voltas?...tu prometeste que vinhas. Tu vens. Eu sei. Só os adultos é que não cumprem promessas. Vai ao deserto Principezinho, ajudar a alma do aviador.

quarta-feira, maio 10, 2006

HOSPITAL

By Frida Kahlo Ao nascer lembrei-me que já havia algum tempo que não morria, curiosamente todos dizem ou pensam que morremos sem precisar de nascer (os vencidos da vida), mas o que no fundo queremos é nascer sem precisar de morrer, queremos aquilo que não podemos ter..e não é sempre assim? ...odeio aquele sítio, o cheiro, a cor, a energia mórbida da espera, as conversas vazias entre desconhecidos, porque ali o nome não é importante, apenas o autocolante colocado em local visível, e a audição em plena sintonia com a voz esganiçada do altifalante que pronunciará sim o nome, de modo seco e arrogante, como se o doente fosse culpado do mal que padece. A sala é um espectáculo triste, quase como um jogo cinzento em que tenhamos que adivinhar por onde é que a sombra da morte vai pairar... Entretanto voltei e não sei por onde queria ir, mas recordo-me enquanto vou para lá que tenho medo deste caminho, medo desta calçada e destas árvores, lembro-me do gelo na barriga que sentia ao subir a rampa ampla e barulhenta, e entrar no edificio grande e cinzento, do qual só conhecia parte, a parte que menos gostava, calma, asseada, sem alma, o corpo inerte do meu pai numa cama fina e opaca de metal, o tic-tic-tic da máquina azul com luzes verdes a piscar initerruptamente...ditando vida... a parede de borracha, o vaso com flores de plástico..dálias, vejo eu. A conversa seca e metódica do momento, com frases de circunstância e expressões de boa vontade lançadas no calor do momento. A alegria momentânea e a beleza da vida fracamente apreendida, nem pelo mais talentoso dos pintores impressionistas...apenas o helicóptero pousado no espaço que lhe era reservado aguaradando a fraqueza de mais alguma alma em sopro desistente. Há dois dias voltei lá, e senti o mesmo, repeti o sentimento por mais estranho e inexplicável que pareça (porque não acredito em sentimentos repetidos), estarei a mudar, a desistir, a chorar..................quando lá iá fazia frio e o vento reunia-se todo no meu tronco a fim de sair pelos meus olhos, no outro dia fazia calor e em vez de vento era o sol que se encolhia todo dentro de mim, senti-me queimar friamente, mas o sol não me saiu pelos olhos, está ainda aqui a queimar. Vou ser fria para ele não me magoar mais.