Vejo-a sempre por estas bandas. É normal, já
que moramos no mesmo prédio. A única diferença é que ela vive aqui há 50 anos,
e eu apenas há um. Afinidades? Temos algumas. Gostamos desta zona, de animais e
de colares grandes por cima de golas altas. Ela tem nome de cidade grega e eu
de árabe, o que nos afasta.
Às vezes estou a entrar ou a sair do prédio, e
lá vai ela com o seu cãozinho que leva a passear pelo menos três vezes ao dia. “Faz-lhe
bem a ele e faz-me bem a mim”, imagino eu que ela o deva dizer.
A dona Olímpia diz outras coisas, que vai ao
supermercado todos os dias, porque há sempre alguma coisa que faz falta em
casa, e que antigamente o Café Vavá era uma maravilha. Depois olha para o chão
e envergonha-se antes de dizer que “agora é uma mero café de rua”. Como a
percebo, penso eu, de mim para mim.
A dona Olímpia anda sempre na rua, lá vai ela,
alta e magra, com os seus cabelos brancos e encaracolados bem arranjados e
penteados em canudos curtos. O seu cãozinho de trela vai farejando um poiso,
uma erva saborosa ou um banco de jardim, de peito cheio por ter uma dona assim.
Ela veste calças com pinças e tem sempre um
sorriso na cara. Uma vez contou-nos ao tentar meter-se a si e ao seu cão no
elevador que o foi buscar a um daqueles sítios repletos de animais a precisar
de um lar. Eu, que tenho dois meninos em casa que vêm de um sítio assim sei bem o que
ela quer dizer, e sinto que se tivesse mais 60 anos
podíamos ser grandes amigas.
Ainda ontem a vi com a sua camisola
verde-bandeira e o seu cão - que eu acho sempre que deveria ser uma cadela e
que o seu nome devia ser Milú - a passear Avenida dos Estados Unidos abaixo.
Pensei cá para comigo. Fascinante esta Dona Olímpia!