O texto sobre este filme tardou, porque senti que precisaria de algum tempo até conseguir reunir as palavras certas para um texto com sentido. O tempo que é de ouro.
Tratamos aqui de um verdadeiro hino à Vida, a vida tal como a conhecemos, terrestre e universal, e ainda um convite à reflexão sobre a nossa condição. Depois de tudo isso, o filme tem ainda espaço para ser uma obra de arte.
Repleto de imagens oriundas de um imaginário poderosíssimo como é o cósmico, Malick tenta desmistificar, pegando no que há de mais místico: a Fé em Deus "o sentido da Vida", usando passagens bíblicas que vão alimentando as dúvidas do Homem nos seus maiores momentos de fragilidade e dor e que o vão reconfortando quando tudo o resto falha.
Somos confrotado vezes e vezes sem conta pela passagem de pessoas por nós, como se numa vida coubesse um universo à espera de nos encurralar numa das encruzilhadas amargas do caminho que temos de travar. Felizmente por esse caminho vamos encontrado árvores de frutos, árvores perfumadas, árvores vivas, árvores da vida.
Terrence Malick acredita no poder da vida e no poder a morte, na dor da passagem de um estado para o outro, mas acredita principalmente na Vida e no deleite decorrente das maravilhas que a mesma tem para nos oferecer.
O realizador acredita na expiação e na redenção, na Graça divina e no ódio humano, neste último caso parecem estar sempre associadas.
Foi com alegria e tristeza que vi o filme por duas vezes, mais algeria que tristeza, das duas vezes.
Porém no segundo visionamento: algo mudou, para além da sala e da companhia.
Árvore da Vida toca-nos pela proximidade do tema e condição, toca-nos porque todos nós somos fruto de uma árvore, uma família recheada de contradições e sonhos, uma árvore que nasceu muito mais cedo do que poderíamos imaginar, uma viagem iniciada por algo ou alguém há milhares de anos e que pode terminar de repente, sem aviso. Não sabemos realmente a quem obedecemos, não importa, ha um caminho a percorrer e uma corrente de laços a estreitar.
Esta obra é também um hino ao Tempo, o Tempo como barómetro circunstancial das nossas atitudes, o Tempo como escala das nossas mudanças, a nossa vontade em pedir perdão a nossa incerteza face ao que nos espera.
Do ponto de vista técnico, pouco há a dizer (porque tudo é tão grandioso) apenas que Malick transforma um simples plano a uma homenagem à Mãe Natureza, e que Malick é ainda capaz através de um plano aproximado carregá-lo de dor que nunca a chega a ser abafada pelo som avassalador de um avião a descolar. A nossa atenção é concentrada na expressão do actor (Um Brad Pitt fenomenal), o mundo corre na velocidade máxima, a dor é esmagadora e eu não consigo tirar os olhos da expressão dele.
Essa é para mim uma das cenas mais marcantes da obra, que encerra este texto, e eu sei que poderia escolher dezenas de cenas, mas esta é realmente a que mais me marcou, como se eu própria me afundasse num marmoto capaz de destruir um pedaço de teritório, uma nação, um mundo tal como o conhecemos, a destruição fatal de uma humanidade, de uma era, de um capítulo das nossas vidas em comum como irmãos terrestrres.
Felizmente não nos podemos definir a partir de um filme, (isso seria verdadeiramente redutor), porque se pudéssemos a Árvore da Vida seria a definição de Humanidade.