E porque tudo o que vejo, vejo como nos filmes. E porque tudo o que fazemos e sentimos pode ser recordado nas asas de um caleidoscópio em pleno movimento. Se há "acção" eu revelo por aqui.
domingo, dezembro 30, 2012
Todos os dias
Agora sim. Partiste de vez. O meu mais leal amigo, compreensivo, trapalhão, justo, o amigo de todas as horas, o irmão da minha infância, o dono da minha inocência, porque tu nunca tiveste donos.
Mais do que dor pela tua partida, sinto dor na tua ausência. Penso em ti e um mar abeira-se dos meus olhos, comprimo os lábios, passo a língua pelo céu da boca, abro os olhos, os mesmos que agora estão molhados, ensopados, e vejo-te em todas as coisas, em todos os lugares. Só assim deixo de me sentir só.
Todos os dias. Todos os dias lembro-me de ti. Ontem sonhei que estavas vivo, jovem e cheio de força. Não que a tua força te tivesse escapado nestes últimos anos, dos vinte que me acompanhaste. Nunca vi ser mais enérgico, capaz de derrubar motas e aceleras, de me fazer andar de rojo pela lama do Pinheirinho e de ladrar a altas horas de madrugada porque querias brincadeira.
Não te vi partir, mas sei que um dos últimos beijos que recebeste foi meu, sei que o teu último sopro foi dado em casa, ao lado dos que te amaram e sempre vão amar. Partiste em paz, deixaste-te ir para passares a caminhar num reino onde se vive para sempre, um reino chamado coração, um coração que é meu e teu e que um dia deixará de ter um laço apertado.
Até lá vou sentir a tua falta, sempre, todos os dias, e nem um dia a menos. Todos os dias.
sábado, novembro 10, 2012
Skyfall
segunda-feira, novembro 05, 2012
As saudades que tenho de ti.
Não são bem saudades desses tempos, mais sim do modo como esse tempo passava em tempos cujas horas pareciam décadas e vista da minha janela dava para um jardim com um poste do correio.
Saudades da tua chuva modesta pela manhã e tirana ao entardecer.
Saudades das paragens de autocarros e das viagens no piso de cima.
Saudades de te ter, e do abraço demorado que dávamos sempre que pisava o teu solo.
Saudades do chão dos cafés, dos azulejos baços e do cheiro a chá Earl Grey.
Saudades da manta no sofá em pleno Verão.
E aquela vez em que senti aqueles flocos de neve na cara e imaginei todo um postal colorido todo ele caiado de branco e de sonhos que tinha por realizar.
Agora tenho saudades. Mas mais do que saudades da minha cidade, tenho saudades do dia em que aí voltarei, do dia em que os nossos olhos se voltarão a cruzar.
Minha Londres. Fosse eu a Virgínia para te dedicar todo um livro ditado pelas vozes que ecoam na minha cabeça.
domingo, outubro 14, 2012
O Verão já lá vai
Os braços já estão cobertos com mangas, as meias calçadas e o vapor do chá desprende-se do líquido da infusão de ervas servida na caneca.
Gosto muito do Outono. Sempre gostei. O Outono faz-me pensar em coisas que nascem, em coisas que morrem e em coisas que se transformam. Quando o Outono começa não fico com pena da morte do Verão. O Verão já lá vai. O Verão e as férias. E por isso mesmo, o meu primeiro texto deste Outono é dedicado ao Verão e às melhores coisas que ele tem.
domingo, setembro 09, 2012
Tenho uma amiga
sexta-feira, agosto 24, 2012
Quando os lugares onde já fomos felizes desaparecem
quarta-feira, agosto 15, 2012
Isto sim é viver
segunda-feira, agosto 06, 2012
Porto
sábado, julho 14, 2012
Já passaram muitas horas
Passaram-se algumas horas e voltámos a encontrar-nos. Desta vez almoçámos juntos num Museu de Cinema e à mesa com Tim Burton. Não me lembro o que comemos, mas recordo-me do à vontade, da cumplicidade e da promessa de nos voltarmos a ver. Passaram-se algumas horas e um terceiro encontro. Um novo jantar numa mesa "zen", um beijo novamente à chuva, mas desta vez com um tecto de carro para nos proteger e a benção de Emily Dickinson.
Já passaram muitas horas e continuamos a crescer. A casa está montada, os gatos criados, seguir-se-ão as viagens, os descendentes e todos os restantes dias das nossas vidas. Parece que foi ontem, parece que foi há uma eternidade, temos a certeza de tudo mas é-nos difícil defnir criteriosamente o que os dias e os meses passados significam na linha cronológica das nossas vidas. Não importa quantos dias vivemos, importa sim o que fazemos deles não é? Se assim for estou orgulhosa de todos que que passei a teu lado e preparada para os que estão para vir ao som das estações dos anos cada vez mais imprevisíveis, loucas, insensatas e cruéis para a terra.
As cores estão misturadas na tela, de azul a roxo, misturei branco com vermelho e agora tenho um cor de rosa despretensioso e carregado de força. Carregada também está a nódoa no pano que uso para proteger as pernas enquanto pinto mais uma tela, nada a fazer, está condenado o pobre coitado. Agora é um pano tingindo, desbotado, um pano dotado de uma arte imaginada por uma cabeça louca parideira de ideias destituídas de qualquer semelhança com a realidade. As ideias são apenas sonhos em carne viva, mas apenas porque precisam sangue para serem algo mais, mais carne e menos ferida, mais cicatriz que agora é carne lisa e fértil para novas sementes.
Falta-nos a noite mágica de Setembro, o brinde, o branco, o lacre. Falta-nos o cadeado preso à grande que vai conhecer todo o nosso amor e todas as horas que já vivemos juntos, falta-nos as orelhas da Minnie e a doce Angelina. Falta-nos todos os dias depois disso. Falta-nos o dia em que o vamos trazer para a nossa casa, o dia em que ele vai conhecer as nossas papoilas, brincar com os gatinhos e comer as papas feitas pelas avós. Passaram-se algumas horas e mal posso esperar pelas que estão para vir. Vá relógio, ordeno-te que te apresses.
sexta-feira, maio 11, 2012
Enquanto assim estiver
quarta-feira, maio 09, 2012
sexta-feira, maio 04, 2012
Se algum dia voltar a sonhar
quarta-feira, abril 25, 2012
A dona Olímpia
quarta-feira, abril 18, 2012
sábado, março 31, 2012
E a areia da praia?
quarta-feira, março 14, 2012
La Mer
domingo, março 04, 2012
Maternidade
Então não é que já tenho cortinados no meu quarto!? Orgulho em mim e na minha mãe que nunca esmoreceu aquando dos meus olhares incrédulos e das minhas palavras pronunciadas menos perfeitamente, já que a minha boca abrigava umas quantas bolachas Maria para acalmar o meu estômago cego de fome.
“Um pouco para a direiiiiiita, mais acima, olha que isso vai caiiiiiir, vê lá se a bucha não é grand’ demais, olha que me partes a caixa do estore!”. E ela responde:” Benze-te filha que a mãe só descansa quando a calha estiver presa à parede”. E assim foi uma tarde de Domingo bem passada na companhia da mamã.
Do Pinheirinho, trouxe uma panelona de sopa acabadinha de fazer, um ferro de engomar, 2 cortinados, agulhas e dedais, uma calha de dois metros e meio e muita vontade de contribuir para um lar mais harmonioso.
O que se pensava rápido, tornou-se num parto difícil e demorado, mas a concepção levou tanto amor que o resultado não podia ter ficado mais perfeito. Agora vou começar a dormir num quarto com cortinados lisos, brancos, translúcidos, ah digna de uma princesa!
A gatinha aqui do lar harmonioso, fez das suas e achou que o saco das cortinas daria uma cama perfeita e logo agora que pus a mantinha dela a lavar e só lá para Terça-feira é que deve estar “boa para consumo”.
Da tarde, fica-me o ar de satisfeito da mãe, da sua dedicação e das duzentas histórias que me contou da Avenida de Roma até à João XXI, em que a única coisa que a calou foi um pão de Deus digno dos deuses.
Domingos assim são especiais e eu já tinha saudades de passar um serão com a mamã. Mas faltava-me algo. Fazes-me mesmo muita falta.
segunda-feira, fevereiro 20, 2012
Quando não estás
As horas demoram a passar como se de décadas atravessassem as ruas. As pontas dos dedos esfriam, e os meus cabelos encaracolam na sombra da tua ausência. Saber que virás em breve, tolda-me os sentidos e ajuda-me na ilusão dos meus próprios olhos. Fecho-os, vejo-te. Fecho-os de novo, e estás deitado a meu lado. O teu corpo virado para a esquerda, a tua cabeça apoiada na almofada das flores cor de rosa, os teus braços a cercar-me o tronco, envaidecido, sonolento.
Mas os olhos pedem para que os abra, e eu respeito-os. Perco o que ganhei, enfrento a noite fria e pontapeio poetas antigos. Tenho vontade de dormir a teu lado, e sei que apenas descansarei quando me acoradres de madrugada com um beijo e me disseres as saudades que sentiste minhas. Uma a uma. Da maior à mais pequena, a tempo de eu te poder retribuir cada palavra em mais beijos.
Até lá, espero por ti.
terça-feira, fevereiro 14, 2012
Ai Valentim, Valentim
terça-feira, fevereiro 07, 2012
O Artista
É tão raro ir ao cinema com grandes expectativas e sair de lá com o peito cheio de contentamento, que demorei alguns dias a conseguir escrever algumas palavras sobre obra de Michel Hazanavicius.
No escuro de uma sala cheia, tive a oportunidade de entrar numa outra dimensão: a dimensão do sonho americano, onde a realidade e a ficção se esbatem numa cortina de renda.
O Cinema mudo reinou em Hollywood, que na altura ainda era Hollywoodland, durante aproximadamente três décadas, tendo o seu apogeu na década de 20 e entrando não em declínio mas sofrendo uma morte súbita no início da década de 30 fruto do crash de 29 e de uma necessidade maior que a força humana: a necessidade de evasão.
«O Artista» é sobre este pequeno e pobre resumo de uma parte da História do Cinema, e sobre a queda de um homem que se viu perdido no meio deste turbilhão de acontecimentos, em que os jovens desconhecidos saltaram um degrau tão alto, que lhes permitiu ultrapassar os outros mais experientes.
George Valentim (Jean Dujardin) é um galã do cinema mudo, que protagonizou dezenas de filmes e que, sem querer, conhece Peggy (Berénice Bejo) uma jovem actriz. Valentim inadvertidamente faz dela uma estrela e Peggy brilha no cinema sonoro,tornando-se o símbolo da nova era, a era que George Valentim repudia por orgulho.
A premissa é simples, mas o desenvolver desta obra de arte é extraordinária: costuma ser assim quando o conceito é explorado com amor e dedicação. Mais do que uma história de amor entre duas pessoas, «O Artista» é uma hitória de amor pelo Cinema.
O realizador usa finamente os artifícios que lhe permitem uma narrativa fluida e quase intuitiva.Mais do que saber o que vai acontecer, o que nos prende é como acontece, e como somos transportados para uma época sobre a qual apenas sabemos através dos filmes que já vimos, ou dos quais já ouvimos falar.
São vários os esquemas usados que demonstram o profundo conhecimento pelos filmes desta era, tanto no uso dos planos aproximados enquadrados em objectos como pano de fundo, como os planos partilhados quer seja por casais, quer seja pelo par majestoso da obra -George e o seu cão fiel e amigo - ou até mesmo as cenas em que as personagens se revêem em espelhos.
Tal como Billy Wilder fez em «O crepúsculos dos deuses», Michel Hazanavicius debruça-se sobre a relutância de um actor conceituado em adaptar-se a uma indústria diferente daquela em que perdeu o seu grau de intocabilidade. Todos sabemos que o Homem sempre recusou a mudança, mas não costuma ser um homem qualquer a fazê-lo, normalmente são os mais experientes aqueles que menos preparados estão para as novas eras.
A introdução do som na obra também a torna ainda mais característica, já que a mesma é feita de duas formas, uma onírica, em que «se prepara» o protagonista para o que está para vir, e uma manifestamente real aquando da aprovação da era em questão por parte do público (e não só), revelando-se como uma das cenas mais mágicas a que assisti nos últimos tempos. Essa cena vem mostrar, que um bom filme não precisa de um bom twist para ser apoteótico, basta ser verdadeiro para que nos deixemos render.
Jean Dujardin faz um trabalho notório e digno, e qualquer prémio é mais que merecido, conseguindo uma interpretação única já que apenas o podemos avaliar pela sua expressão e pelo seu encanto natural. Um trabalho esplêndido que já o consagrou e que nos mostra que ser actor, nada tem a ver com palavras, mas sim com o que fica entre elas.
Berenice Bejo também é fantástica no papel de heroína incansável, dotada de uma energia contagiante e uma aura de musa, que nos apaixona principalmente na cena em que se deixa abraçar por um casaco solitário.
É uma verdadeira lição assistir ao «O Artista», a lição de que o Cinema é e sempre foi um mundo paralelo, poderoso pelo fascínio que exerce, e desarmante por nos deixar entrar no mundo do sonho que nos envolve e apaixona, encanta e liberta.
sexta-feira, janeiro 27, 2012
À procura de ideias
Quando as ideias fogem, não há nada fazer, a nao ser esperar. Normalmente as fujonas das ideias revoltam-se e somem do mapa, evaporam-se e nós achamos que estamos a ser tramados!
Quando tal acontece - bem sei que é irritante - não há nada fazer, a não ser esperar. Normalmente as ideias revoltam-se e desaparecem, chamem-nas de sentimentais, e assim podem contar com cerca de uma semana, até voltarem a avistá-las.
Normalmente quando temos de ter uma ideia, e há muitos momentos na vida assim, pensamos de tal forma que tudo nos parece amorfo e sem conteúdo. Por isso mais vale, deixar ir. Pura e simplesmente, deixar de pensar, que as ideias regressam num momento de pleno vazio, refeitas e com os seus caprichos devidamente saciados.
Eu ou faço isso, ou seja, nao penso em nada ou penso em tudo. Mas faça o que fizer, costumo fazer acompanhar-me de comida, ou entao de um plano majestoso para uma refeiçao!
Escolho a esplanada, o melhor ângulo na mesa, peço leite com café, ou seja, uma galão quente e bem claro, e lambo torradas quando o coração não me pede o aconchego de um pão-de-Deus ou de uma boa fatia de bolo de chocolate.
Tem dias em que a inspiração vem, e com ela as ideias fazem-me debitar palavras nas folhas, tem outros em que risco e rabisco, mais do que escrevo, e nesses dias costumo sentir-me como uma pessoa com muito pouco para dizer ao mundo!
Porém, às vezes obrigam-nos a ter mais e mais ideias, e encurtam-nos os prazos, nessas vezes tenho de me obrigar, e podia dizer que fico exausta, mas não é bem assim que me sinto. É mais um misto entre obrigação e alegria, ansiedade e contentamento por ver (finalmente) a folha repleta e a maquete elaborada.