Estendem a mão e pedem. Pedem com a mão, com os olhos e com a boca. A boca que pede comida, as mãos que pedem boa vontade e os olhos que pedem.... com vergonha.
E eu fico com vergonha, vergonha de não poder ajudar todos os que me pedem ajuda e vergonha de não saber sequer o que é pedir na rua. Pedir é um acto de vergonha. E vergonha é uma morte sem morrer.
Na zona onde vivo, pedem-me muitas vezes. Já me bateram à porta a pedir comida "o que tiver, que não como desde ontem. O que puder...", e eu dei, com vergonha. Quando passeio e mais não tenho que dar tento oferecer o meu melhor sorriso, mas é um sorriso repleto de vergonha, porque eu tenho para onde voltar e o meu frigorífico está cheio e a minha barriga não tem do que queixar.
Por aqui, vejo pessoas mais velhas, que pela primeira vez na vida pedem "o que tiver, o que puder", têm vergonha, vão pelo passeio, olham-nos timidamente a ver se conseguem perceber se as vamos recriminar ou simplesmente ignorar. Dois caminhos fáceis para esconder a nossa vergonha. Vergonha essa que eles sentem ao estenderem a mão e projectarem timidamente a voz e que eu percebo com o coração partido ao meio.
Que vergonha que eu sinto. Que vergonha.
Imagem retirada daqui: http://www.etsy.com/listing/77165399/old-hands-8x8-custom-print
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