domingo, janeiro 27, 2013

Luz verde

Hoje, pegámos em nós e fomos correr. Embora o quente dos cobertores fizesse chantagem psicológica comigo, decidimos ter força de vontade e fazer o que era certo: correr.
No chão da calçada havia ainda marcas de chuva da manhã invernosa, fazia vento e devo dizer que muitos foram os pensamentos derrotistas que me passaram pela cabeça enquanto descia a rampa a caminho do jardim (parcialmente destruído) do Campo Grande. Mas lá fomos nós, primeiro a andar, depois a andar mais depressa e depois a correr. Dei por mim a sentir os músculos das pernas a querer ceder, de frio passei a sentir calor, muito calor, e a respiração não queria acompanhar o passo. Inspira pelo nariz, e expira pela boca dizia-me ele. Eu sei como é, dizia eu. Só não consigo é fazê-lo coordenadamente e sem me estalar uma veia na testa. E quando a franja se mete à frente dos olhos? Fico mesmo irritada. Depois de... cinco (ou terão sido cinco horas) a correr, e eu ter vontade de cuspir o meu coração e todas as minhas entranhas pela boca, decidimos parar para caminhar. E claro, fomos ultrapassados três vezes por um senhor com o dobro da nossa idade e o triplo do nosso vigor, e uns gémeos de meter inveja ao casal novato nas andanças. Claro que só escrevo por mim, acho que o meu marido atrasou, e muito, o passo para eu não me sentir muito inferior. Dizem que é amor. Decidimos dar mais uma corrida, adoptei a técnica do "se passar aquela árvore ganho uma medalha imaginária, e se passar a seguinte estou a abater as três fatias de bolo de chocolate que comi ontem depois do meu almoço, e se chegar à última árvore sou uma menina bonita. Assim foi, chegámos à última árvore, e fizemos o caminho de volta para casa em jeito de passeio. O dia continuava com aquela beleza própria de Janeiro, que é como quem diz um dia mesmo muito feio, mas que dentro de tanta cinzentisse e chuvisse tem o seu encanto, nem que seja pela ideia de o passar estacionada no sofá, a emborcar pão com manteiga e a ver filmes na televisão. No caminho de regresso, apercebemos-nos que todos os semáforos da zona estavam amarelos. Que coisa? Pensámos nós, isto é um perigo. Um sinal intermitente, é uma bela metáfora para a vida neste país, neste momento. Avancem, mas com cuidado. É assim que andamos por agora, com cuidado, com receio, com vontade de transgredir. É como se estivéssemos à espera que algo de mal acontecesse a qualquer momento e precisássemos de uma alternativa com sinal verde. Avancem, que não vem ninguém do outro lado. Avancem, porque merecem mais, avancem porque do outro lado há coisas maravilhosas à vossa espera. Veremos se assim é. Ao menos por hoje, sei que fiz algo por mim e pelo meu corpo que não fazia há muito tempo e que bem que me soube. Agora só falta a luz verde para o resto.

1 comentário:

DVS disse...

https://www.facebook.com/photo.php?v=10152393008645338 Luz Verde