sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Se não era um iphone, era um comando


O Carnaval não me encanta. Nada mesmo. Há o pânico a andar na rua, somado à probabilidade esmagadora de levar com um balão cravejado de água em cima, e o facto de nem sequer ser feriado para me refugiar no quentinho do lar. Depois há a programação carnavalesca em rounds sucessivos entre o Carnaval do Brasil e o Carnaval da Mealhada, onde meninas flácidas e desnudadas se abanam como se estivem em cima de plataformas nervosas a cantar “u cárnáváu".

 Porém, há uma parte de mim que se recorda do Carnaval de menina. Aquele em que fui capuchinho vermelho, Pierrot, palhaço, madeirense, lavadeira e Cleópatra. Fui outra, uma fórmula ingénua de heterónimo em que por dois ou três dias ocupava o meu lugar na terra. Era mágico sair à rua e ver os restos mortais dasserpentinas e bolinhas coloridas despojadas pelo chão, e os velhinhos sentados nós bancos dos jardins a sorrir e a acenar-nos. Alguns eram nossos avós, nunca meus mas dos meninos que iam comigo.

Quando era pequenina adorava o carnaval, a magia das roupas feitas à antiga, ia para escola feliz porque era um dia diferente em que não havia lugar para os livros e os cadernos. Hoje, subi a rampa e vi crianças que eram iguais àquela que fui também. Vi a mesma magia nos seus olhos. As roupas agora são um pouco diferentes, a espanhola leva a rosa na cabeça e as bainhas mal amanhadas, o pirata ainda não teve tempo de pôr a pala, e o vampiro tem falta de dentes caninos.

A magia do Carnaval em Portugal devia pertencer única e exclusivamente às crianças. Entre bombinhas de mau cheiro, estalinhos e pinturas faciais, ganha a ideia do sonho.

Porém, devo admitir que o menino vestido de iphone teve muita piada. Se não era um iphone, era um comando. Decididamente.


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