Ela menina e o pai, pai dela.
Segura pela mão era guiada pela vila caiada de branco numa noite cálida de verão. O céu meio estrelado como as noites pintadas por Van Gogh. A viagem parecia demorada, entre as ruelas da vila, as casas de portas fechadas a respirar o ar familiar de um repouso de fim de semana. As cigarras a cantar, os canaviais a sibilar, um ambiente vivo e cintilante como a Lua reflectida no topo da água do mar, e um sonho ainda todo por sonhar.
As perninhas da menina esforçavam-se por acompanhar as passadas do pai, alto, grande e de sorriso malandro nos lábios. Subiram a escadaria para admirar o grande relógio fechado no cubo de vidro, um relógio gigante e imponente, feito em madeira e ponteiros de aço. Os dois estagnados a vislumbrar a peça, os dois a suspirar pelos seus corações palpitantes. O pai pegou a menina ao colo, deixou-a tocar no vidro como se estivesse mais perto do que nunca de tocar no relógio, o pai deixa deslizar os lábios e murmura um segredo, descai o lábio inferior e contrai o superior, um beijo na bochecha da menina que ecoa com as badaladas do relógio.
Nunca esqueci este sonho que sonhei quando era mais pequena, não me recordo de ter visitado em vida uma vila numa noite de Verão acompanhada pelo meu pai, apenas me lembro do segredo. O meu pai não mo contou no sonho, contou-me numa das muitas viagens que fazíamos há anos atrás... mas isso, isso é o meu segredo.
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