Com que então querias desaparecer da minha vida. Patife. Com
que direito? Aliás, quem te deu esse direito? Repudio Deus e todas as entidades
divinas que tenham esse poder, repudio e juro nunca voltar atrás com a minha
decisão.
Não percebes que és parte de mim? Que crescemos juntos.
Crescemos, mas eu continuo jovem e tu estás velho, porque quiseram que um ano
para ti valesse mais que um ano para mim. Os teus olhos já não me vêem, mas
continuo a ser eu. A tua amiga. Os teus ouvidos já não compreendem o que a
minha boca diz e o som que dela sai. Antes esse som era para ti, era teu. Agora
é do ar e desaparece no vento.
Já não queres a minha companhia, quando eras tu que a
querias sempre. A companhia. Pura e simples.
Chegaste numa mala de tiracolo. O teu trono era feito de
verga no meio da bonecada. Embirravas com motas e bicicletas e não toleravas
António Variações. Gostos. Mas adoravas ir comigo à escola, brincar e correr
pelos canaviais. E se se metessem comigo, haviam de se ver contigo. O meu amigo
e o meu defensor. Contigo tinha as costas quentes. Amante de costeletas e
noitadas, desaparecias durante dias e voltavas cansado e esfomeado ao nosso lar.
Sempre foste muito independente, demais para um ser como tu.
Agora queres ir-te embora. Deixar-me seguir com a minha
vida. E se eu te disser que não quero seguir com a minha vida em frente? E se
eu te disser que tens de ficar para sempre. Ficas?
Sou egoísta, faço da Razão uma piada e acho que ela não
merece que lhe passe cartão. Para mim és o ser mais belo do mundo, a luz dos
meus olhos, és a minha infância e todos os meus sonhos de menina. Tenho de te
deixar partir, um dia. Abandonar esta minha crença e habituar-me à ideia do
nascimento do dia em que já não faças parte deste mundo. Se algum dia voltar a
sonhar estarás sempre nesse meu sonho e viverás sempre nesse mundo, até ao dia
em que eu puder ir ter contigo para brincarmos outra vez.
1 comentário:
lindo! :')
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