Fiz uma sesta. Estava exausta. O Feliz Natal já lá vai, e eu que gosto tanto do Natal, tenho medo de o deixar ir para só voltar no próximo ano. Trabalhei no Sábado e no Domingo, e mesmo assim houve tempo para todas as coisas importantes. Essas mesmas coisas, este ano foram ainda mais especiais, porque o tempo estava aprisionado pelos ponteiros do relógio.
Sábado acordei muito cedo, tomei pequeno-almoço com o meu marido, dissémos um ao outro que as horas iam voar, e que quando eu regressasse a casa, iríamos ter o melhor Natal de sempre. E assim foi. Quando regressei, ele já estava à minha espera, beijámo-nos e foi como se o frio deste Inverno se desfizesse em bandos de pássaros a escvoaçar pelo céu ainda muito azul. Démos um passeio pelo parque, as árvores escuras e despidas, o cheiro a silêncio impregnado e apenas quebrado pelo aroma a eucalipto que fazia daquela tarde, uma tarde remota, perdida em anos e anos de História. Vimos o lago, os patos à espera do autocarro, e regressámos a Casa para nos aninharmos na moleza do sofá. Os gatinhos vieram ter connosco, um mais que o outro, e ainda nos rimos da birra da irmã mais velha. Comi chocolates e fomos para casa dos meus pais. A magia da quadra é de facto, arrepiante, o cheiro a azeite e a bolos, o contraste do verde das couves com o branco do bacalhau. A partilha de memórias, o meu cãozinho que estava notoriamente feliz por passar mais um Natal na nossa companhia. Os mimos que lhe fiz ao final da noite, e que me consolaram a alma por mais não sei quantos anos, mesmo que ao longo desses anos ele decida ir passear para outro reino que não aquele em que eu vivo. A noite seguiu, entre as luzes, o barulho da televisão, a cascata de açúcar que descia pelo meu organismo, o cheiro a café nas canecas mais estranhas do mundo. Chegou a hora da troca de presentes, antes da meia-noite, mas que se prolongou pelas primeiras horas do dia 26. As surpresas, as alegrias, os sorrisos! O desfazer dos embrulhos feitos de forma tão delicada e sem qualquer tipo de pretensão. Regressámos a Casa. À nossa casa, os meninos à espera mas com os olhinhos a querer fechar. Voltámos ao sofá, agora menos molenga, e por lá ficámos a trocar os nossos presentes. O nosso momento chegou, e melhor não podia ser. Não há nada melhor que receber amor, depois de sabermos que o démos, sem nenhum sentido de obrigação, sem rigor, sem regras, sem interesses, apenas démos o nosso amor um ao outro, feito de coisas que nos dizem muito e nos remetem para aquele lugar quente e cheio de luz que é o nosso coração.
Amanheceu, depois de uma noite descansada e abraçada. Seguimos para casa dos pais dele, desta vez já sem presentes, e apenas com frio. Muito frio. A azáfama começou a instalar-se, o frio era derrotado pelo calor emanado pela lareira da sala. O cheiro que vinha da cozinha, era no mínimo desarmante. O majestoso perú, recheado com coisas maravilhosas. O puré de batata feito pelo meu amor, o arroz feito pela senhora sua mãe, e que me fazia repetir garfadas compulsivas. O desfilar de bolos e doces, que a certa altura me fazia desejar ter um estômago maior que a minha gulodice. A sensação de enfartamento e moleza, a falta que o Golias estava a fazer. O regresso para Casa com frio e sono, e o sofá que reconfortava de novo. Saí e fui para o trabalho, desejosa que as horas passassem a correr e eu pudesse regressar para os braços do meu marido. E cheguei. Dormi. E acordei 5 horas depois para começar a trabalhar. Regressei e quem me abriu a porta de Casa foi a outra parte do meu coração. Agora anseio pelo fim de semana em que o ano muda. Dois dias só para nós. Há quanto tempo não tínhamos dois dias assim?
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