sexta-feira, dezembro 03, 2010

A ave

Subir, subir o mais possível sem temer a queda livre.
Rejeitar o baixo voo e o seu constante contacto com a erva verdejante e orvalhada, que pela sua frescura nos afasta do que há ainda por descobrir.
Optar por coisas mundanas, palpáveis, que fazem da gravidade algo trivial, da maçã um bocejo e de um abraço um manto quente e protector.
Rejeitar o voo rastejante que pouco dá para pouco receber, e que amealha restos de seres que há muito deixaram de respirar.
Abrir as janelas para deixar entrar a brisa, o vento, a folia, os pássaros, os soldadinhos de chumbo, o tilintar das chávenas, o aroma do chá, os sinais, o tudo que não é pouco, não é, não.
Ousar um voo mais alto, talvez uma ave com asas mais esguias, uma ave curiosa que não é controlada pela passagem das estações, uma ave solitária que ruma em direcção ao Sol, esteja ele vivo durante 12 ou 6 horas, as que forem...são as suficientes.
Assim começa um novo ciclo, repleto de chcolate e arco íris sorridentes, abertos e coloridos, um novo ciclo em época de luzes, deuses e monstros amáveis.
Algo que termina, algo que começa, rodopia sobre si mesmo, uma coroa de flores feita luz, nada tímida, nada presa, nada fugidia porque não sente as correntes.
A ave voa por cada vez mais tempo, para cada vez mais longe, regressando sempre. Ela regressa. O mundo gira. Estrelas. Pontes. Flores. Cartões. Dias. Bruma. Rio. Poema. Sussurro. Sono pesado. A ave regressa sempre.

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